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Estado de Minas PARIS

Sonhos e pesadelos das ativistas afegãs no exílio


09/08/2022 11:00

Recém exilada de Cabul para Paris em 2021, Farzana Farazo prometeu continuar sua luta feminista do exílio. Mas, um ano depois, ela confessa estar "deprimida". Suas esperanças, como as de outras refugiadas, foram frustradas por uma integração repleta de obstáculos.

Esta ex-policial, entrevistada pela AFP quase 12 meses após a tomada de Cabul pelos talibãs em 15 de agosto de 2021, confidencia que não dormiu por meses.

Retirada pela França devido ao seu ativismo, esta integrante da minoria hazara, perseguida pelo Talibã, ainda vive com uma associação nos arredores de Paris.

"Sinceramente, não fiz nada de especial", diz a mulher de 29 anos. "Para começar, não falo francês o suficiente e temos uma concepção diferente de ação militante. Aqui fala-se muito", acrescenta.

Há um ano, ela faz aulas de francês com uma assistente social e aguarda alojamento. "Encontrei muitas dificuldades", conta.

"Quando você não se sente bem, é difícil se concentrar. Como muitas outras, eu era independente no Afeganistão, tinha um emprego, fui educada. Então, ficar desamparada na França é difícil e nos leva à depressão", continua.

A tal ponto que muitas de suas colegas de luta com quem a AFP se reuniu em 2021 agora recusaram um novo encontro, alegando em vários casos a "vergonha" de não ter conseguido nada de concreto.

- "Responsabilidade" de continuar militando -

Essas refugiadas estão "imersas no processo de integração", que ainda "não é suficiente", sobretudo ao nível linguístico, afirma Didier Leschi, diretor do Gabinete Francês de Imigração e Integração (OFFI), órgão público encarregado de organizar o acolhimento de refugiados e requerentes de asilo.

"Mas elas têm mais ajuda do que o resto dos afegãos, que só podem contar com o Estado, porque têm redes culturais e profissionais", diz.

Mursal Sayas, jornalista e ativista feminista, diz que teve "sorte em sua má sorte".

A mulher recebeu a AFP em um apartamento com uma vista maravilhosa da Torre Eiffel disponibilizado por uma editora que a encarregou de escrever um livro sobre a condição das mulheres no Afeganistão.

"Perdemos tudo, nosso país, nossa liberdade, nossas conquistas. Mas a França se tornou nossa casa em um momento em que nosso país mergulhou na escuridão. Então, embora seja difícil, nossa responsabilidade é continuar militando, porque podemos falar, temos a liberdade de expressão que as meninas do Afeganistão não têm mais. Temos que denunciar as injustiças, as desigualdades, o apartheid contra as mulheres", explica.

Durante os primeiros dois meses do novo regime talibã, as mulheres organizaram manifestações no Afeganistão. Mas essas reuniões praticamente desapareceram após a prisão de várias ativistas que foram espancadas na prisão, de acordo com depoimentos recebidos pela Anistia Internacional.

As mulheres afegãs que fugiram do país porque suas vidas estavam em perigo "são uma fonte de energia positiva para nós", diz à AFP uma mulher que participou dessas manifestações em Cabul. "Sabemos que elas não esquecem as mulheres do Afeganistão."

- "Pesadelo" -

Em Paris, uma conversa causou a Mursal Sayas um profundo desconforto, que descreveu em um artigo para a revista Courrier International, colocada em uma mesa de cabeceira ao lado da última edição da revista Paris Match dedicada ao "martírio" das mulheres afegãs.

Ela ainda morava em um centro de recepção quando de repente "o Afeganistão desapareceu da mídia", diz.

"Escutei que os ucranianos tinham que ser bem recebidos porque são 'civilizados' e têm olhos azuis. Foi nojento", lembra.

Tomou a decisão certa ao deixar o seu país? "Todos dias, quando acordo e não posso ver meus entes queridos, isso me machuca. Mas quando penso que poderia ter sido capturada pelo Talibã e nunca mais falar sobre minhas irmãs, acho que é pior", resume.

Para outras, a sensação de ter caído de classe social se soma às dificuldades de integração e desenraizamento.

"Estou em crise de identidade", reconhece Rada Akbar, artista que chegou à França há um ano. "E vai demorar para eu administrar isso, não posso me tornar uma nova pessoa", admite a designer de 34 anos, que quer mostrar as "perdas invisíveis" da cultura afegã durante o conflito com o Talibã.

A luta também não acabou para ela. Mas em uma palavra resume o que aconteceu com as esperanças de agosto de 2021: "pesadelo".


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