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Estado de Minas SYDNEY

Ofensiva diplomática chinesa anuncia nova batalha pelo Pacífico Sul


03/06/2022 07:20

Uma viagem de 10 dias do chefe da diplomacia chinesa ao Pacífico Sul, região que historicamente integra a esfera de influência do Ocidente, demonstra a vontade de Pequim de abrir uma nova frente em sua busca mundial por poder.

À primeira vista, a viagem do chanceler Wang Yi não foi bem sucedida. Sua proposta central - um pacto regional que atribuiria à China um papel crucial na segurança das ilhas do Pacífico - vazou para a imprensa e depois foi rejeitada pelos governantes da região.

Representantes dos 10 Estados insulares do Pacífico convocados para o encontro não hesitaram no momento de criticar o fato de a China tentar impor um acordo de tal magnitude praticamente sem nenhuma consulta.

"Você não pode ter um acordo regional quando a região não se reuniu para discuti-lo", disse o primeiro-ministro de Samoa, Fiame Naomi Mata'afa.

O primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, foi ainda mais incisivo. Ao lado de Wang, ele criticou os que desejam "marcar pontos geopolíticos" e afirmou que "isto não significa praticamente nada para aqueles cujas comunidades estão sendo devoradas pela elevação do nível do mar".

Uma reação deste tipo não é comum no respeitoso universo da diplomacia.

"A China ultrapassou um pouco os limites", afirmou Wesley Morgan, especialistas nas ilhas do Pacífico na Universidade Griffith da Austrália. "A conversa deve ter sido um pouco desconfortável."

Após a resposta dos Estados insulares, as autoridades chinesas, conhecidas nos últimos anos por sua diplomacia agressiva, ficaram um pouco atordoadas. A embaixada da China em Fiji informou que nenhum documento seria publicado ao final da reunião.

A viagem de Wang, no entanto, estabelece de maneira clara uma "nova etapa" para as ambições chinesas na região, considera Euan Graham, especialista em segurança da região Ásia-Pacífico no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos.

Até agora, a China procurava ampliar sua influência "passo a passo", explica o analista. "Agora o véu caiu. A China tem confiança, às vezes confiança demais, e observamos uma clara intensificação de seus esforços", acrescenta.

Durante a viagem, Wang se referiu a investimentos "benéficos para ambas as partes" em infraestruturas, pesca ou mineração. Mas também abordou questões mais delicadas, como segurança cibernética, vigilância marítima ou manutenção da ordem.

- Programa ambicioso -

Analistas veem uma agenda geopolítica muito mais ambiciosa: um esforço para enfraquecer a influência dos Estados Unidos, alterar o equilíbrio militar na Ásia e, inclusive, preparar uma invasão a Taiwan.

"Esperamos ampliar nosso círculo de amigos", afirma Zhao Shaofeng, diretor do Centro de Pesquisas sobre os Países Insulares do Pacífico na Universidade Liaocheng, na China.

"Os Estados Unidos continuaram cercando e bloqueando a China no cenário internacional. A China deve contra-atacar os Estados Unidos até certo ponto", acrescenta.

Algumas autoridades americanas temem que o objetivo de Pequim seja estabelecer uma presença militar permanente no Pacífico Sul, Isto forçaria Washington a reorganizar suas forças, atualmente concentradas em conter a Coreia do Norte e a China.

Se Pequim instalasse apenas uma base no Pacífico Sul, esta seria "muito vulnerável" diante das forças americanas na região, afirma Graham.

"Mas é evidente que seus projetos são muito mais amplos", explica. "Se conseguirem três ou quatro (bases), deverão ser levados a sério por Washington".

Os analistas acreditam que a China atuará com paciência e convencerá, um por um, os governantes do Pacífico, que verão uma vantagem política na aliança com Pequim.

Wang não deixou a região de mãos vazias, pois assinou uma série de acordos bilaterais com Samoa e Papua Nova Guiné que, apesar de modestos, podem permitir uma presença maior de policiais, navios e funcionários chineses nestes países.

As Ilhas Salomão, abaladas por revoltas em 2021, já assinaram um pacto de segurança que poderia permitir a atuação da polícia chinesa em seu território para restaurar a ordem.

Ninguém deve subestimar os governantes das ilhas do Pacífico, adverte Richard Herr, professor da Universidade da Tasmânia, Austrália.

"Há um clichê em alguns círculos, um clichê um pouco infeliz, de que a lealdade das ilhas poderia ser comprada", disse à AFP. "Mas não conseguiram sua independência para vendê-la".

Poucas pessoas acreditam que os líderes da região podem executar "políticas externas realmente astutas" e equilibrar as relações entre China e Ocidente, disse Anna Powles, especialista em segurança da Universidade Massey da Nova Zelândia.

"Mas eles estão fazendo exatamente isto", conclui.


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