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Estado de Minas Guerra na Europa

Conversas em clima tenso com fracasso do cessar-fogo

Negociadores russos e ucranianos retomam negociação após civis serem impedidos de deixar cidade onde ataques foram intensificados


07/03/2022 04:00

Ataques com mísseis destruíram aeroporto no centro do país e mataram civis em Mariupol
Ataques com mísseis destruíram aeroporto no centro do país e mataram civis em Mariupol, onde pessoas foram impedidas de deixar a região (foto: Fotos: Sergei Bobok/AFP)

Em meio à expectativa de retomada das conversas entre Rússia e Ucrânia, cujos negociadores voltam a se encontrar hoje sob os olhares de todo o mundo e após mais um dia de fracasso na operação de evacuação de civis e intensificação dos bombardeios de tropas russas às cidades ucranianas. As conversas vão ocorrer em clima tenso a morte de Denis Kireiev, um dos ucranianos da equipe de negociadores com os russos, no sábado. A população civil estava presa ontem na cidade costeira de Mariupol (sul da Ucrânia), após o segundo fracasso do cessar-fogo para saída de civis, no momento em que o cerco russo se intensifica na região de Kiev, forçando seus habitantes a fugir.

Amorte de um dos negociadores em situação misteriosa marca a retomada das conversas hoje.  Segundo o Ministério da Defesa da Ucrânia, Denis Kireiev e outros três membros do Serviço de Inteligência foram mortos enquanto executavam uma missão especial. Na contramão, setores da imprensa britânica relatam que Kireiev, banqueiro de profissão, era um espião a serviço do Kremlin. Ele teria sido descoberto e morto pelo Exército da Ucrânia

No 11º dia desde o início da invasão da Ucrânia pela Rússia, “a segunda tentativa de começar a evacuar cerca de 200.000 pessoas” do porto ucraniano de Mariupol “foi interrompida em meio a cenas devastadoras de sofrimento humano”, anunciou a Cruz Vermelha ontem. “O corredor para evacuar a população civil não deixou Mariupol porque os russos reagruparam suas forças e começaram a bombardear a cidade”, disse o governador da região, Pavlo Kirilenko, no Facebook.

O presidente russo, Vladimir Putin, culpou “nacionalistas ucranianos” pelo fracasso da evacuação, que também teria impedido a anterior, no sábado, segundo o líder russo. Em uma conversa por telefone de uma hora e 45 minutos com o presidente francês, Emmanuel Macron, Putin negou que seu exército “tem como alvo civis”. Putin disse que alcançará “seus objetivos” na Ucrânia “por negociação ou por guerra”, afirmou Macron, que viu o líder russo como “muito determinado”, informou a presidência francesa.

Mariupol – um porto estratégico no Mar de Azov – está há vários dias sob intenso cerco russo, sem energia elétrica, água e alimentos. O prefeito da cidade, Vadim Boitchenko, indicou em entrevista publicada no YouTube que “Mariupol já não existe” e que há milhares de feridos. A queda deste porto representaria um ponto de virada na guerra porque permitiria à Rússia unir as tropas que avançam a partir da península da Crimeia – anexada por Moscou em 2014 – com as forças que entram no país a partir da região de Donbass, no leste.

Odessa 

Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, denunciou que as tropas russas estão se preparando para bombardear Odessa, o principal porto da Ucrânia, onde vivem cerca de um milhão de pessoas. Zelensky também informou que os russos destruíram o aeroporto de Vinnytsia, no centro do país. O Ministério da Defesa russo anunciou que havia destruído o aeródromo militar de Starokonstantinov, 130 quilômetros a nordeste de Kiev.

Mais ao norte, em Kiev, os bairros operários nas proximidades da capital, como Bucha e Irpin, já estão na linha de fogo e os últimos ataques aéreos convenceram muitos moradores de que chegou o momento de fugir. “Eles estão bombardeando áreas residenciais, escolas, igrejas, prédios, tudo”, lamentou a contadora Natalia Didenko. Em Bilohorodka, quase no limite da capital, as tropas ucranianas colocaram explosivos na última ponte que permanece de pé para tentar frear a ofensiva russa. “Esta é a última ponte, vamos nos defender e não vamos permitir que cheguem a Kiev”, afirmou um combatente que se identificou apenas como “Casper”.

Em Chernihiv, uma cidade próxima da fronteira com Belarus e Rússia, dezenas de civis morreram. “Havia corpos por todos os lados. As pessoas estavam esperando para entrar na farmácia aqui e estão todas mortas”, disse à AFP um homem que pediu para ser identificado apenas pelo primeiro nome, Serguei, em meio ao barulho das sirenes de alerta. Correspondentes da AFP observaram cenas de devastação no local, apesar de Moscou insistir que não ataca áreas civis.

Moscou colocou suas perdas em 498 soldados russos na quarta-feira, em comparação com 2.870 no lado ucraniano. Kiev afirmou no domingo ter matado 11.000 soldados russos, sem divulgar suas perdas militares. Números impossíveis de verificar de forma independente. A ONU, por sua vez, confirmou a morte de 351 civis e mais de 700 feridos. Para o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Filippo Grandi, o exílio forçado de 1,5 milhão de pessoas do país representou “a crise de refugiados mais rápida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial”. Mais de um milhão de pessoas cruzaram a fronteira da Ucrânia para a Polônia desde o início da invasão.

Prédio de universidade destruído por bombardeio das tropas de Moscou
Prédio de universidade destruído por bombardeio das tropas de Moscou, que aumentaram ataques

Crimes de guerra 

O chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, considerou ontem como “muito credíveis” os relatórios que falam de “crimes de guerra” russos na Ucrânia. A Ucrânia insiste em pedir o aumento da ajuda militar por parte dos países ocidentais, incluindo a entrega de caças. Blinken afirmou que seu país está "trabalhando ativamente" em um acordo com a Polônia para o envio de caças à Ucrânia. Mas os aliados da Otan rejeitaram até o momento o pedido da Ucrânia para uma zona de exclusão aérea, para tentar evitar um agravamento imprevisível do conflito.

Putin advertiu que se uma zona de exclusão aérea for imposta, haverá “consequências colossais e catastróficas não apenas na Europa, mas em todo o mundo”, pois qualquer movimento neste sentido será considerado pela Rússia como “participação no conflito armado”. A Rússia advertiu ainda os países vizinhos da Ucrânia sobre o risco que representa receber aviões de combate ucranianos utilizados na guerra entre os dois Estados.

“Praticamente, toda a aviação do regime de Kiev apta para o combate foi destruída. Mas sabemos por uma fonte segura que algumas aeronaves ucranianas voaram para a Romênia e outros países vizinhos”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov. “O uso da rede de aeródromos destes países como base para aviões militares ucranianos e seu uso posterior contra as Forças Armadas russas poderia ser considerado como um envolvimento destes países no conflito armado", acrescentou.


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