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Estado de Minas MARDAN

Paquistão celebra um ano sem casos de pólio, apesar da desconfiança com a vacina


27/01/2022 14:21

Sob a vigilância de um policial armado com um fuzil, Sadria Hussain e uma colega percorrem os subúrbios de Mardan, no noroeste do Paquistão, com um isopor cheio de vacinas contra a poliomielite.

Eles vão de porta em porta tentando convencer os pais a permitirem que seus filhos recebam a famosa gotinha do imunizante, que impede que o vírus invada o sistema nervoso central e cause paralisia irreversível.

O Paquistão é um dos dois únicos países no mundo, junto com o Afeganistão, onde o vírus da poliomielite continua sendo endêmico. No entanto, nesta quinta-feira (27), a nação comemora, pela primeira vez em sua história, um ano sem registrar nenhum caso da doença.

A última infecção no Paquistão, que tem cerca de 220 milhões de habitantes, foi registrada no dia 27 de janeiro de 2021. Contudo, para que a enfermidade seja considerada erradicada são necessários três anos sem casos.

Mesmo assim, por se tratar de um país onde a vacinação é vista com desconfiança e onde os ataques contra as equipes de imunização são frequentes, a marca de um ano sem casos pode ser considerada um sucesso.

Na província de Khyber Pakhtunkhwa, onde fica Mardan, os vacinadores costumam ser alvo dos militantes do Tehreek-e-Taliban Pakistan (TTP), o movimento talibã paquistanês.

"A vida e a morte estão nas mãos de Deus", conta Sadria, ao caminhar entre um labirinto de casas com muros altos. "Temos que vir [...] Não podemos desistir apenas porque é difícil", diz à AFP.

- 'Alvos fáceis' -

O TTP, um movimento distinto dos talibãs afegãos, mas que compartilha com eles as mesmas raízes, afundou o Paquistão em um período de intensa violência após sua formação em 2007.

Em menos de uma década, matou dezenas de milhares de civis paquistaneses e membros das forças de segurança, e controlou as áreas tribais do noroeste na fronteira com o Afeganistão, antes de ser desalojado a partir de 2014.

Desde a metade de 2020, o TTP vem se recuperando e, animado com o retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão, aumentou seus ataques no Paquistão, com menos violência do que no passado e direcionados principalmente contra as forças de segurança.

Os policiais que acompanham as equipes de vacinação contra a pólio são considerados alvos potenciais do TTP. Na terça-feira, um deles foi assassinado em Kohat, a cerca de 80 km de Mardan.

Segundo a imprensa paquistanesa, mais de 70 vacinadores contra a pólio morreram no país desde 2012, principalmente em Khyber Pakhtunkhwa.

No entanto, um porta-voz do TTP afirmou à AFP que o movimento nunca atacou as equipes de vacinação e que seu alvo são as forças de segurança. "Eles serão alvo onde estiverem e trabalharem", disse.

"São alvos muito fáceis", admite Habib Ullah Arif, principal responsável administrativo em Mardan.

Segundo ele, a luta contra o vírus se mistura com a repressão aos militantes islamistas. "Existe apenas uma ideia: venceremos a pólio, venceremos o militantismo", assinalou.

- 'Uma situação complexa' -

As campanhas de vacinação existem desde 1994 no Paquistão. Cerca de 260.000 vacinadores são utilizados e as campanhas são lançadas regularmente por regiões.

Contudo, a desconfiança em relação às equipes médicas é comum nas zonas rurais. "Em alguns lugares do Paquistão, a vacinação era considerada um complô ocidental", afirma Shahzad Baig, chefe do programa nacional de erradicação da pólio.

As teorias difundidas por religiosos ultraconservadores são variadas: os vacinadores são espiões, as vacinas causam infertilidade ou contém derivados de porco, cujo consumo é proibido no islã.

A primeira dessas ideias foi alimentada pela organização de uma falsa campanha de vacinação pela CIA para encontrar o paradeiro do terrorista Osama bin Laden, morto em 2011 em Abbottabad, no norte do país.

A fronteira porosa com o Afeganistão, onde o TTP tem suas retaguardas, também favorece a circulação da poliomielite. "No que diz respeito ao vírus, Paquistão e Afeganistão são um só país", constata Baig.

Em Mardan, as equipes de vacinação com escolta armada continuam batendo de porta em porta. Eles marcam a data de sua passagem com giz e mergulham os dedos das crianças em tinta indelével para indicar que estão vacinadas.

"O temor está sempre presente em nossa mente, mas devemos fazer algo por nosso país", diz Zeb-un-Nissa, uma vacinadora. "Devemos erradicar essa doença", conclui.


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