Durante uma esperada conversa por telefone, os dois presidentes negociaram uma saída da crise diplomática mais grave entre Estados Unidos e França desde o "não" francês para a guerra do Iraque, em 2003.
Macron e Biden concordaram que "consultas abertas entre aliados" poderiam ter "evitado esta situação".
"O presidente Biden expressou seu compromisso permanente com esta questão", acrescentou um comunicado conjunto. Paris chegou a acusar Biden de se comportar como seu antecessor Donald Trump.
O tom da conversa foi "amistoso" e Biden "espera" que a reunião se torne "um passo rumo à normalidade" entre os dois aliados, informou a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, durante coletiva de imprensa.
Os dois chefes de Estado se encontrarão "na Europa no final de outubro", onde está prevista a participação do presidente dos EUA na cúpula do G20 em Roma nos dias 30 e 31 e em seguida na COP-26 em Glasgow, no início de novembro.
Até lá, eles decidiram lançar "um processo de consulta aprofundada com o objetivo de estabelecer as condições para garantir a confiança e propor medidas concretas para a concretização dos objetivos comuns".
Nesse contexto de apaziguamento, o embaixador da França nos Estados Unidos, Philippe Etienne, retornará a Washington "na próxima semana", decidiu Macron.
Paris havia anunciado na sexta-feira a retirada dos embaixadores nos Estados Unidos e na Austrália, uma decisão inédita com dois aliados históricos, após o cancelamento de um mega-contrato de submarinos franceses a serem adquiridos pela Austrália.
"As mensagens são boas", com o reconhecimento de que deveria ter ocorrido "uma comunicação melhor", comentou Benjamin Haddad, diretor europeu do think tank Atlantic Council.
"Os americanos entenderam que o principal choque em Paris não foi tanto o aspecto comercial, mas mais a quebra de confiança", acrescentou, alertando que "nem tudo se supera da noite para o dia com uma conversa".
- "Importância estratégica" -
Com tom comedido e consensual, em contraste com as trocas dos últimos dias, o comunicado conjunto reitera que "o compromisso da França e da União Europeia na região Indo-Pacífico é de importância estratégica".
Em visita a Washington, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson também disse que a aliança AUKUS "não é exclusiva" e que "não tenta excluir ninguém".
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, pediu uma "maior confiança" com os Estados Unidos ao reunir-se com o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em Nova York.
Biden também adotou um tom conciliador na conversa com Macron, destacando que é "necessário que a defesa europeia seja mais forte e mais eficiente" para contribuir para a segurança transatlântica e para cumprir "o papel da Otan".
A crise abriu um debate na França, mas também em outros países da UE, sobre a necessidade de uma maior soberania europeia em termos de defesa para se libertar do guarda-chuva americano.
Mas as capitais mais atlantistas, como Copenhague, um dos aliados mais próximos dos Estados Unidos na Europa, expressaram publicamente suas reservas.
Nesse sentido, a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, afirmou "absolutamente" não entender as críticas feitas a Washington e defendeu o "muito leal" Joe Biden.
Na França, alguns políticos querem ainda colocar na mesa a questão da participação da França na liderança integrada da organização transatlântica.
A França voltou à Otan em 2009 nas mãos de Nicolas Sarkozy, 43 anos depois de deixá-la sob o governo do general Charles de Gaulle.
"O diálogo político não existe dentro da Otan, mas "não devemos bater a porta na aliança por tudo isso", respondeu a ministra da Defesa, Florence Parly, na quarta-feira aos senadores.
PARIS