Fiz a cobertura naquele ano a partir da Base Brasileira (Brabat), com a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), já que nosso país tinha o mandato de segurança da ONU para a pacificação haitiana desde 2008, sob a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH).
Ao todo, 37.449 militares brasileiros participaram da operação – que durou 13 anos e 137 dias. Impressionava como eram precários e depois ainda mais destruídos os sitemas sanitários da capital, com os esgotos a céu aberto jorrando como chafarizes. Tudo isso depois se degradou ainda mais com os desabamentos trazidos pelo tremor de terra.
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Um desespero que nos fazia, de dentro de coletes balísticos dos fuzileiros navais brasileiros, repartir chocolates, chicletes ou qualquer outra coisa mastigável. A miséria era tanta que cheguei a ver crianças misturando lama com manteiga para fazer biscoitos e comer.

A palavra que mais se ouvia entre os nativos após gestos que dedilhavam suas bocas era "manger" (comida, em francês, a segunda língua local, após o creole). Ninguém dormia mais em casa por medo de ser soterrado, espalhando um aglomerado de barracas brancas da ONU por todas as ruas. E esse medo perdurou até a minha partida. Até bandeiras nacionais e dos Estados Unidos eram usadas para fazer esses abrigos.

