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Estado de Minas GAZA

Em Gaza, fábricas destruídas e a busca por um futuro econômico


24/05/2021 12:28

Não sobrou nada da fábrica de móveis dos irmãos Sawafiri, exceto metal derretido e retorcido e o pó da madeira queimada. E, no entanto, é com fábricas como a deles que Gaza aguarda seu renascimento econômico.

Quinta-feira, na véspera do cessar-fogo entre Israel e o Hamas, movimento no poder no enclave palestino, a artilharia israelense teve como alvo a zona industrial da Cidade de Gaza.

É dali que sai a Coca-Cola bebida no enclave, os biscoitos doces para acompanhar o chá, os canos para canalizações e também móveis "made in Gaza", rótulo pouco conhecido para exportação.

Ali, alguns edifícios permaneceram intactos, mas outros foram danificados, ou mesmo destruídos, nos bombardeios.

Iyad Sawafiri, de 45 anos, de calça jeans preta, camisa azul e uma caneta pendurada num botão, caminha pelas ruínas de sua fábrica, que empregava 70 funcionários. Seu irmão Nehad se recusa, por enquanto, a ver os estragos, traumatizado pela destruição da empresa.

"Pensamos que, ao instalar nossa fábrica nesta zona industrial internacional, localizada próxima aos armazéns da UNRWA (agência da ONU para os refugiados palestinos), seríamos poupados de guerras", disse ele à AFP, mostrando a madeira queimada.

"Éramos a maior fábrica de móveis de Gaza, mas tudo derreteu: as máquinas, as estruturas metálicas que sustentam a fábrica. Depois do que acabou de acontecer, estou com medo de reconstruir. Quem me garante que não será destruída na próxima guerra?", questiona.

- Bomba econômica -

Sob bloqueio israelense há quase 15 anos, este enclave de dois milhões de habitantes, onde a taxa de desemprego gira em torno de 50%, parece uma bomba-relógio econômica.

As autoridades do Hamas não controlam suas fronteiras terrestres, ou marítimas, e as exportações e importações devem obter permissão de Israel.

E a lista de materiais que podem entrar em Gaza está dando dor de cabeça ao Exército israelense, que acusa o Hamas de fabricar parte de seu arsenal de foguetes "in situ", reciclando metal, ou desviando canos.

Daí a insistência de que os projetos financiados por doadores estrangeiros usem tubos de PVC.

No último dia da guerra, a maior fábrica de plástico, a Siksik, localizada a cerca de 100 metros da fábrica dos irmãos Sawafiri, também foi alvo de ataques israelenses.

"Quando Israel bloqueou a entrada de alguns tubos de ferro em Gaza, decidimos começar a produzir tubos de plástico. Mas cerca de 150 toneladas de plástico foram queimadas", disse Naim al-Siksik, chefe da fábrica familiar, em frente aos tubos carbonizados.

No momento da reconstrução de Gaza, os doadores estrangeiros também trabalham de forma mais ampla no desenvolvimento do território.

Em Gaza, apenas 3% da água potável atende aos padrões internacionais, principalmente, devido à pressão sobre o lençol freático. E a única termelétrica cobre apenas 50% da demanda da população.

- "Hamas em todo lugar" -

Mas, para reanimar a economia e evitar mais destruição, as "raízes" do conflito israelense-palestino devem ser abordadas, alertaram funcionários da ONU no domingo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou sua intenção de colocar em prática uma "grande" ajuda financeira para "reconstruir Gaza", mas sem dar ao Hamas "a oportunidade de reconstruir seu sistema de armas".

Em 2018, depois de mais uma trégua um roteiro previa o financiamento de infraestruturas em Gaza, ajuda mensal via Catar e busca de empregos para os habitantes de Gaza. Este processo não incluiu doadores ocidentais e está estagnado.

É possível reviver a economia de Gaza, excluindo o Hamas, classificado como "terrorista" pelos Estados Unidos e pela União Europeia? Para Omar Shaban, diretor do Pal Think Institute, um centro de análise em Gaza, a resposta é "não".

"A comunidade internacional quer acabar com este ciclo de destruição, ou não? Quer voltar a soluções de curto prazo que não funcionam há 15 anos, excluindo o Hamas? A única opção é integrá-lo, e não tem nada a ver com se você gosta, ou não", disse ele à AFP.

"Gaza está sob o controle do Hamas, então como você pode construir Gaza sem o Hamas? Como isso é possível? O Hamas está em toda parte, administra municípios, água, eletricidade. O Hamas é uma realidade que você não pode ignorar", completa.


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