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Estado de Minas WASHINGTON

Racismo ou misoginia? Como o tiroteio em Atlanta pode ter sido motivado por ambos


19/03/2021 16:20

Um homem branco matou oito pessoas em Atlanta na terça-feira, incluindo seis mulheres de ascendência asiática. Ele jura que não foi motivado pelo racismo, mas por uma "obsessão sexual". Desde então, os Estados Unidos foram dilacerados pela qualificação dos fatos.

Ao relatar que o suspeito, Robert Aaron Long, queria eliminar "a tentação" de que, segundo ele, representavam as casas de massagem onde as mulheres trabalhavam, a polícia ofendeu mais de uma.

"Essas declarações referem-se à percepção das mulheres asiáticas como objetos sexuais", disse Catherine Ceniza Choy, professora de estudos étnicos da Universidade da Califórnia em Berkeley. "E isso dói".

Expressões como "a senhora dragão" ou "a flor de lótus", e personagens como "a prostituta com coração de ouro", heroína do livro e do filme "O mundo de Suzie Wong", mostram preconceitos em relação às mulheres asiático-americanas, disse ela à AFP.

Esses estereótipos referem-se especificamente à origem, mas também são sexistas e sexuais, referindo-se em particular "às fantasias dos homens brancos", disse.

Para ela, como para muitas outras, o banho de sangue em Atlanta se deve, portanto, a uma mistura de racismo, sexismo, classe social, o problema das armas nos Estados Unidos e doenças mentais. Em suma, é "interseccional".

- Discriminação sobreposta -

O termo "interseccionalidade" foi cunhado em 1989 por Kimberle Crenshaw, uma professora de direito afro-americana, para enfatizar que a discriminação pode se sobrepor. O conceito gradualmente deixou os círculos acadêmicos e, nos círculos ativistas, alude ao que alguns chamam de "convergência de lutas".

Desde terça-feira, o tema voltou ao destaque.

"O ataque mortal em Atlanta ressalta uma verdade terrível: as mulheres muitas vezes carregam o peso da raiva dos homens", tuitou a associação antirracista ADL, postando o artigo: "Quando as mulheres são o inimigo: a intersecção entre misoginia e supremacia branca."

Os críticos da interseccionalidade argumentam que ela cria uma hierarquia de vitimização.

Mas seu impacto parece ser significativo: segundo um relatório da ONG Stop AAPI Hate sobre incidentes de racismo e discriminação contra asiático-americanos no ano passado, as mulheres relataram 2,3 vezes mais incidentes de ódio do que os homens.

O agressor "poderia ter visado clubes de strip, locadoras de vídeo pornográficas ou sex shops", disse a colunista do Washington Post Monica Hesse.

"Mas ele não o fez." Em vez disso, observou, "escolheu empresas cujos funcionários são mulheres, mas não só: também são de origem asiática, mal pagos e em uma profissão fetichizada."

"Dados os estereótipos sexuais associados às mulheres asiáticas neste país ... é muito difícil descartar a questão racial", disse Kimmy Yam, repórter da NBC News.

- "Crime de ódio" -

A polícia, por enquanto, não excluiu nenhum motivo. "Está tudo na mesa", disse um de seus porta-vozes.

Até agora, Long, de 21 anos, acusado de assassinato e agressão, não está sendo processado por um "crime de ódio".

Nos Estados Unidos, essa acusação inclui motivos ligados à origem, etnia, sexo, orientação sexual ou religião da vítima e permite que sentenças mais duras sejam proferidas. O estado da Geórgia acaba de incluí-lo em seu rol de crimes.

Mas provar que o autor de um crime foi motivado pelo "ódio", seja ele racista, misógino, homofóbico ou antissemita, não é fácil e as condenações por "crimes de ódio" não são muito frequentes.

Bella Wang, uma fotógrafa asiático-americana, não quer prejulgar as razões do massacre de Atlanta, mas se incomoda com o peso dado aos argumentos de Long.

Ela sente que sua comunidade, que denunciou o aumento da hostilidade desde o início da pandemia do coronavírus, relatada pela primeira vez na China, não está sendo levada a sério.

É "como se a sensação de perigo não fosse válida", disse ela. "Obviamente, é um problema."

No entanto, ela se sente reconfortada com as fortes reações de outros membros dessa minoria, seja no Congresso, nas ruas ou nas redes sociais.

"Sempre guardamos tudo", disse ela. "Eles nos ensinaram a não dizer nada e a não fazer barulho, ter certeza de não chamar a atenção e ser sempre bom. Isso que importa."


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