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Estado de Minas YANGON

Aung San Suu Kyi, uma vida ligada ao destino turbulento de Mianmar


01/02/2021 08:09

Detida nesta segunda-feira (1) em um golpe de Estado, Aung San Suu Kyi encarna o tumultuoso destino de Mianmar. Este ícone da democracia, que se tornou uma pária da comunidade internacional após o drama dos muçulmanos rohingyas, caiu novamente nas garras dos militares.

"A Dama de Yangun", que governa Mianmar de fato desde 2016, foi detido ao lado de outros dirigentes de seu partido, a Liga Nacional para a Democracia (LND).

Aung San Suu Kyi, 75 anos, que já pressentia as intenções militares, pediu que a população "não aceite" o golpe de Estado, em uma mensagem divulgada por seus partidários.

"Não acredito na esperança, acredito apenas no trabalho. Você trabalha duro para alcançar suas esperanças. A esperança por si só não nos leva a lugar algum", declarou ela à AFP em agosto de 2015.

Alguns meses mais tarde, a LND venceu eleições históricas, e Aung San Suu Kyi, relegada à dissidência durante quase 30 anos, assumiu o comando do Executivo.

Uma posição que deveria manter, depois que a LND voltou a conquistar uma vitória esmagadora nas eleições legislativas de novembro. Aparentemente, porém, o Exército decidiu impedir seu governo com a detenção.

Durante os anos à frente do país, Aung San Suu Kyi se viu obrigada a lidar com os muito influentes militares, que controlam três Ministérios cruciais: Interior, Defesa e Fronteiras.

A imagem da Prêmio Nobel da Paz, outrora comparada a Nelson Mandela, ou a Martin Luther King, foi abalada para sempre pelo drama dos rohingyas.

Quase 750.000 membros desta minoria fugiram dos abusos do Exército e das milícias budistas em 2017 e se refugiaram em acampamentos em Bangladesh, uma tragédia que levou Mianmar a ser acusada de "genocídio" na Corte Internacional de Justiça (CIJ), principal órgão judicial da ONU.

A dirigente, que nega "qualquer intenção genocida", compareceu pessoalmente para defender seu país no tribunal.

Sua falta de compaixão no tema provocou a revolta da comunidade internacional: Canadá e várias cidades britânicas retiraram o título de cidadania honorário, e a Anistia Internacional a privou do prêmio de "embaixadora de consciência".

A população birmanesa manteve, no entanto, seu apoio.

- Filha de herói da independência -

Sua vida começou com uma tragédia: o assassinato em 1947 de seu pai, herói da independência, quando ela tinha dois anos. Suu Kyi passou a primeira parte da vida no exílio: primeiro na Índia e, depois, no Reino Unido.

No segundo país, ela teve uma vida de dona de casa modelo, casada com um professor universitário especialista em Tibete em Oxford e com dois filhos.

Em 1988, quando viajou a Mianmar para visitar a mãe, ela surpreendeu a todos ao anunciar que se envolveria no destino de seu país, em plena revolta contra a junta militar.

"Não podia, como filha do meu pai, permanecer indiferente a tudo que acontecia", afirmou em seu primeiro discurso, considerado o símbolo de sua entrada na política.

A repressão de 1988 matou quase 3.000 pessoas, mas estabeleceu o nascimento do ícone. Ela virou a "depositária das esperanças de um retorno à democracia" para todo povo birmanês, sufocado pela ditadura militar desde 1962, explica Phil Robertson, representante da Human Rights Watch na Ásia.

A junta militar autorizou a formação da LND, mas ela foi colocada rapidamente em prisão domiciliar. A distância, Suu Kyi acompanhou a vitória de seu partido nas eleições de 1990, mas a junta se recusou a reconhecer os resultados.

- Poder autocrático -

Ela passou vários anos presa em sua casa às margens de um lago em Yangun, onde recebia a visita de poucas pessoas autorizadas, assim como de seus dois filhos que moravam na Inglaterra com o pai, Michael Aris. Este último faleceu vítima de câncer em 1999 sem que a esposa conseguisse se despedir, pelo temor de ser proibida de retornar a Mianmar.

Em 1991, venceu o Prêmio Nobel da Paz, mas não pôde comparecer à cerimônia em Oslo. Ela teve de esperar mais de 20 anos para receber a premiação.

Em 2010, Aung San Suu Kyi foi libertada, após 15 anos sob prisão domiciliar. Entrou para o Parlamento em 2012, após a dissolução da junta militar um ano antes.

Rapidamente, a imagem do ícone começou a ser abalada na comunidade internacional. Alguns a acusaram de ter uma concepção autocrática do poder.


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