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Estado de Minas ARTE DO MOVIMENTO

Brasileira e outras estrangeiras dominam a dança do ventre no Egito

Há cada vez menos dançarinas egípcias, devido à má reputação dessa prática, considerada imoral, e à crescente repressão das autoridades


25/12/2020 12:25 - atualizado 26/12/2020 08:51

(foto: Amir MAKAR / AFP)
(foto: Amir MAKAR / AFP)

A brasileira Maria Lurdiana Alves Tejas, que se tornou uma estrela da dança do ventre nas redes sociais, é uma das muitas estrangeiras que se destacaram praticando essa arte milenar no Egito, considerado o berço desse tipo de dança.

Pessoas de todas as partes do mundo, principalmente do Leste Europeu e da América Latina, vão ao Egito para praticar a dança do ventre. Agora são elas que dominam a cena neste país conservador.

É quase meia-noite e a dançarina russa Anastasia Biserova, vestida com um traje verde bordado com lantejoulas, gira energicamente sob o olhar atento dos convidados de um casamento no Cairo, que a observam encantados, segundo o vídeo que ela publicou nas redes sociais.

Biserova fez seu nome após quatro anos no Egito. "Nenhum país do mundo aprecia a dança do ventre como o Egito", disse à AFP. "Há uma tendência crescente de convidar dançarinas [...] estrangeiras para casamentos, boates e outros eventos."

Há cada vez menos dançarinas egípcias, devido à má reputação dessa prática, considerada imoral, e à crescente repressão das autoridades.

Além disso, as restrições relacionadas à pandemia de coronavírus, como a proibição de grandes eventos e o fechamento das casas noturnas, foram um duro golpe para o setor.
(foto: Amir MAKAR / AFP)
(foto: Amir MAKAR / AFP)


Muitas dançarinas mantiveram o vínculo com seu público postando vídeos de suas apresentações nas redes sociais. É o caso de Lurdiana, que demorou a entender a ambivalência com que os egípcios tratam seu ofício.

Sua arte é apreciada, mas muitas vezes não a consideram "uma profissional", explica a jovem de trinta anos. "Eles acham que não tive uma boa educação e que tudo que faço é mostrar meu corpo para ganhar dinheiro."

No entanto, a dança do ventre foi importante no início do século XX. Era uma imagem obrigatória no cinema egípcio, que imortalizou dançarinas e atrizes lendárias como Tahia Carioca, Samia Gamal ou Nagwa Fouad em preto e branco.

Mas o Egito, um país cada vez mais conservador, não é mais o Éden que já foi para as dançarinas. Acusadas pelas autoridades de "atentar contra o pudor" ou "incitar a libertinagem", várias dançarinas, cantoras pop e influenciadoras foram presas e processados nos últimos anos por publicarem vídeos de dança na internet.

De acordo com Chaza Yehia, autora de um livro sobre a história da dança do ventre, a prática - que originalmente era um exercício para as mulheres relaxarem - se desenvolveu significativamente no século 19.

"Naquela época, as dançarinas eram chamadas de 'awalem', ou seja, as 'educadas'", em alusão ao "profundo conhecimento da dança e da música", explica. Hoje, porém, esse termo tem uma conotação obscena.

As cenas de dança "excitaram a imaginação do Ocidente" durante os tempos coloniais e ao longo do tempo foram introduzidas alterações nas roupas, nos movimentos e até no estilo musical, frequentemente para agradar o público estrangeiro, diz Yehia.

A profissão de dançarina oriental carrega o estigma de todas essas mudanças.


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