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Estado de Minas

Civis convivem com trincheiras próximas ao front no Azerbaijão


15/10/2020 14:49

Quando os trabalhadores enviados pelo governo do Azerbaijão vieram cavar trincheiras em seu jardim, Bairan Khalilov entendeu que o conflito pelo controle de Nagorno-Karabakh seria retomado em breve.

Foi "um ou dois meses atrás", conta este azerbaijano de 68 anos, veterano da guerra dos anos 1990, quando essa região habitada principalmente por armênios se separou, com o apoio da Arménia, num conflito que causou 30.000 mortes.

Desenhada em forma de L, a fina trincheira é profunda o suficiente para permanecer segura e protegida, enquanto as montanhas de Nagorno-Karabakh, controladas pelo adversário, surgem no horizonte.

Ao escavá-la, os enviados do governo "disseram que era uma medida de segurança de rotina", disse Bairan Khalilov. Mas na aldeia de Bakharly, que a AFP conseguiu chegar com a permissão das autoridades azerbaijanas, "todos sabiam que algo estava para começar", disse.

Desde a retomada das hostilidades entre separatistas e as forças azerbaijanas em 27 de setembro, este senhor vive nas imediações do conflito.

Embora frequentes confrontos armados tenham ocorrido na região desde o cessar-fogo de 1994, os combates em curso são de magnitude sem precedentes e já mataram centenas de pessoas, incluindo quase 80 civis. Cada lado acusa o outro de ter desencadeado a escalada.

Nesta quinta-feira, Stepanakert, capital da região separatista de Nagorno-Karabakh, foi novamente bombardeada, segundo autoridades locais e um correspondente da AFP, nos primeiros ataques à cidade desde o cessar-fogo no sábado.

O serviço de emergência na região anunciou no Facebook que as forças do Azerbaijão atacaram "alvos civis" em Stepanakert, que já foi bombardeada várias vezes desde o reinício dos combates.

No entanto, ao contrário das escaramuças do passado, desta vez o Azerbaijão proclama que está pronto para a reconquista militar de Nagorno-Karabakh, após três décadas de status quo e mediação internacional sem sucesso.

O depoimento de Bairan Khalilov também sugere que os preparativos já estavam em andamento em áreas do Azerbaijão próximas ao front em meados do ano.

No entanto, em Bakharly, moradores entrevistados pela AFP afirmam não saber por que as autoridades cavaram as trincheiras.

Bairan Khalilov afirma estar "muito grato".

Ali os bombardeios são permanentes. Das 800 famílias que costumam viver na aldeia, apenas cerca de cem homens permanecem.

"Por que ainda estamos aqui? É uma questão muito importante", disse Sakhib Askerov, de 66 anos, após mostrar a trincheira cavada atrás de sua casa de madeira.

"Nossos jovens lutam lá", explica ele, apontando para as montanhas. "Ficando aqui, temos a impressão de lutar também, apegados à nossa terra."


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