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Estado de Minas

Explosões em Beirute e crise derrubam primeiro-ministro do Líbano

País segue com muitas manifestações desde a tragédia que matou 163 pessoas e feriu 6 mil


11/08/2020 04:00 - atualizado 10/08/2020 22:48

Hassan Diab disse que a tragédia é consequência da corrupção no país (foto: DALATI AND NOHRA/AFP)
Hassan Diab disse que a tragédia é consequência da corrupção no país (foto: DALATI AND NOHRA/AFP)

O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou sua renúncia ao cargo. Em meio a uma crise econômica, ele ficou ainda mais fragilizado depois da grande explosão que matou 163 pessoas e deixou 6 mil feridos no porto de Beirute, na terça-feira passada, causando também onda de protestos e insatisfação popular. Em seu discurso de despedida, Diab atribuiu a explosão à corrupção e disse esperar investigação séria. Dois ministros já haviam anunciado renúncia no país, enfraquecendo ainda mais uma classe política responsabilizada pela tragédia no porto de Beirute, enquanto a indignação nas ruas não diminui.

Quase uma semana depois, as autoridades, acusadas de corrupção, negligência e incompetência, ainda não responderam à principal pergunta: por que uma grande quantidade de nitrato de amônio estava armazenada no porto, no coração da cidade?. As explosões foram provocadas por um incêndio no armazém onde 2.750 toneladas de nitrato de amônio estavam armazenadas havia seis anos sem "medidas de prevenção", segundo admitiu o próprio primeiro-ministro. O presidente Michel Aoun, cada vez mais contestado, rejeitou uma investigação internacional. E as autoridades não informaram sobre o andamento da investigação local.

Diante da magnitude da tragédia e da raiva de uma população cansada, os ministros das Finanças, Ghazi Wazni, e a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, anunciaram ontem também suas renúncias, o que eleva a quatro os pedidos de demissão de integrantes do Executivo após a tragédia. No domingo, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar, deixaram o governo. Nove deputados também renunciaram aos cargos.

"A renúncia de ministros não é suficiente. Eles devem ser responsabilizados", disse Michelle, uma jovem manifestante que perdeu uma amiga na explosão. "Queremos um tribunal internacional que nos diga quem os matou, porque eles (os líderes políticos) vão encobrir o caso", completou. Em caso de renúncia de até sete ministros, isso significaria a dissolução do atual governo, mas Hassan Diab afirmou que estaria disposto a permanecer dois meses no cargo até a organização de eleições antecipadas em um país dominado pelo movimento armado do Hezbollah, um aliado do Irã e do regime sírio de Bashar al-Assad.

Durante as manifestações de sábado e domingo, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram "vingança" contra a classe política totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de COVID-19. Eleições antecipadas não são uma das principais reivindicações das ruas, já que o Parlamento é controlado por forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral cuidadosamente calibrada para servir aos seus interesses.

"Todos significa todos", proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes. Efígies de muitos deles, incluindo de Michel Aoun e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, foram penduradas em forcas durante os protestos. "Há apenas uma pessoa que controla este país, é Hassan Nasrallah", afirmou um dos nove deputados que anunciaram sua renúncia, Nadim Gemayel. "Para eleger um presidente, nomear um primeiro-ministro (...) você precisa da autorização de Hassan Nasrallah".

No local da explosão, os socorristas perderam a esperança de encontrar mais sobreviventes. Restam menos de 20 pessoas desaparecidas, segundo as autoridades. "Exigimos que as buscas continuem", afirmou nas redes sociais Emilie Hasrouty, cujo irmão de 38 anos trabalhava no porto e estaria sob os escombros. Na noite de domingo, os moradores acenderam velas em um morro com vista para o porto, para homenagear as vítimas. Ao mesmo tempo, violentos confrontos ocorreram no Centro da cidade, pelo segundo dia consecutivo, entre manifestantes e forças de segurança, que lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dispararam balas de borracha. A tragédia da semana passada deu novo espaço à contestação popular desencadeada em 17 de outubro de 2019 para denunciar a corrupção dos dirigentes, mas que havia perdido o fôlego com a pandemia do coronavírus.

Ajuda brasileira

O governo Bolsonaro enviará amanhã uma aeronave KC-390 Millenium, da Força Aérea Brasileira, que decolará do Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos, com 5,5 toneladas de medicamentos, insumos e equipamentos médico-hospitalares e alimentos. Inicialmente, o Itamaraty havia informado que o voo sairia ontem, mas a assessoria do Ministério da Defesa informou posteriormente a mudança da decolagem do voo por "questão de logística."

O avião vai transportar material doado pelo Ministério da Saúde, além de medicamentos e alimentos, que foram oferecidos pela comunidade de origem libanesa radicada no Brasil. O presidente Jair Bolsonaro disse ainda que convidou para chefiar a missão brasileira o ex-presidente Michel Temer, que é filho de libaneses. Não ficou claro se Temer seguirá neste voo ou se irá ao Líbano em outra data. Em nota à imprensa, Temer disse estar honrado com o convite feito por Bolsonaro para chefiar a missão. "Quando o ato for publicado no Diário Oficial serão tomadas as medidas necessárias para viabilizar a tarefa", diz a nota do ex-presidente.

Segundo nota do Itamaraty, o Ministério da Saúde doou quatro "kits" de atendimento a desastres que contêm medicamentos e insumos básicos de saúde capazes de prover assistência emergencial para até 40 mil pessoas, por até um mês. 


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