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Estado de Minas

Reino Unido faz história com Brexit


postado em 31/01/2020 10:13

O Reino Unido se tornará, uma hora antes de meia-noite desta sexta-feira (31), o primeiro país a abandonar a União Europeia (UE). Um momento histórico durante muito tempo incerto e que - com festa para alguns, e tristeza, para outros - abre um futuro solitário para a nação.

Como se fosse uma metáfora do que para alguns foram quase 47 anos de preponderância europeia, o Brexit acontecerá no último segundo desta sexta-feira... na Europa continental, quando, para os britânicos, o relógio marcar 23h (20h de Brasília).

Um relógio projetado na famosa fachada de Downing Street, residência oficial de Boris Johnson, fará a contagem regressiva com um espetáculo de luzes.

"Isto não é um fim, e sim um começo", deve afirmar o primeiro-ministro em uma mensagem à nação durante a noite. Com um Brexit que durante muito tempo pareceu impossível, Johnson consegue uma enorme vitória pessoal.

"A cortina se levanta para um novo ato. É um momento de verdadeira renovação e mudança nacional", afirmará, de acordo com trechos antecipados do discurso, depois de presidir um conselho especial de ministros, na cidade operária de Sunderland, na região norte da Inglaterra, de maioria pró-Brexit.

Sem as badaladas do Big Ben, em silêncio por uma grande restauração, alguns devem utilizar os próprios sinos em uma grande festa programada para acontecer diante do Parlamento de Westminster, que durante três anos foi cenário dos intensos debates sobre a questão mais importante e divisiva na história recente do país.

Não devem faltar as lágrimas dos detratores do Brexit, entre eles muito jovens que não votaram no referendo de 2016 e que agora veem seu futuro separado da UE.

"Sei que estão preocupados, como muitos britânicos partidários da UE", afirmou a centrista Luisa Porritt, eurodeputada britânica que agora perde sua cadeira, assim como outros 71 representantes do país. Ela distribuiu panfletos a seus eleitores no bairro londrino de Camden.

"É a data mais importante desde que Henrique VIII nos tirou da Igreja de Roma", celebrou o líder anti-UE Nigel Farage, um dos idealizadores, ao lado de Johnson, da vitória do Brexit na consulta de 2016, quando 52% dos britânicos votaram a favor da saída do bloco europeu.

Desde então, porém, uma pesquisa publicada esta semana aponta que apenas 30% dos pró-UE concluíram o "luto" psicológico da ruptura.

Para os eurocéticos, no entanto, o momento representa o retorno à plena soberania.

- 47 anos de relação complicada -

O Reino Unido entrou na Comunidade Econômica Europeia - antecessora da UE - em 1973, depois de sofrer dois vetos da França, em 1963 e 1967, preocupada com a possibilidade de o país ser um "cavalo de Troia" dos Estados Unidos.

A relação entre Londres e Bruxelas sempre foi complicada. Os britânicos não adotaram a moeda única, nem a livre-circulação de pessoas, pediram uma importante redução de sua participação no orçamento europeu e sempre foram contrários a uma integração política maior.

Apesar das dificuldades de relacionamento, o resultado do referendo surpreendeu muitos analistas. Alguns o explicaram como uma reação desesperada dos esquecidos pela globalização, que desta maneira desejavam ser ouvidos.

O Brexit estava previsto para 29 de março de 2019. Mas a disputa no Parlamento entre os defensores da saída e os críticos provocou mais de três anos de ásperos debates e paralisação política.

A ex-primeira-ministra Theresa May renunciou ao cargo depois de buscar, em vão, a aprovação por seus deputados do acordo negociado com Bruxelas. Seu sucessor, o carismático Johnson, conseguiu, graças à esmagadora vitória que obteve nas eleições legislativas antecipadas de dezembro.

- 'Isolamento esplêndido' -

A partir de sábado, embora pouco mude na realidade no período de transição previsto até dezembro, o Reino Unido cavalgará de modo solitário.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, advertiu para os riscos de um "isolamento esplêndido", referência ao termo usado para definir a política externa do Reino Unido no século XIX, quando o país permaneceu à margem do continente europeu. Von der Leyen insistiu em que a força está, justamente, na "união".

A partir de agora, Johnson terá pela frente a difícil missão de negociar um acordo comercial com a UE, mas também com os Estados Unidos, sua grande aposta para substituir seu principal sócio nesta área.

"Sou otimista, porque havia coisas que o Reino Unido tinha que fazer como membro da UE e agora poderá fazê-las de forma diferente", afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na quinta-feira em Londres, antes de apontar os "enormes benefícios" para as duas nações.

Mas as negociações não serão fáceis: Washington pressionará por mais flexibilidade de Londres nas áreas de saúde e meio ambiente, enquanto Bruxelas - que teme uma concorrência desleal - pedirá respeito aos padrões trabalhistas e ecológicos.

"Vamos pedir aos britânicos que evitem o 'dumping' fiscal, social, as ajudas do Estado", declarou o negociador europeu para o Brexit, Michel Barnier, em uma entrevista na qual garantiu que os 27 países da UE "cultivam a unidade" e nenhum outro Estado fala sobre abandonar o bloco.

Na mesma linha, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que a Europa será "muito firme" nestas negociações e que "não aceitará" possíveis políticas desleais.

"Quando você deixa de pertencer ao clube da União Europeia, há consequências", disse.

"O Brexit é um fracasso e uma lição para todos", considerou o presidente francês, Emmanuel Macron, um dos líderes europeus com mais críticas a respeito dos britânicos.

A chanceler alemã, Angela Merkel, declarou que o 31 de janeiro de 2020 representa uma verdadeira "ruptura" para a Europa.

Uma tristeza especial afeta muitas pessoas na Escócia, nação semiautônoma britânica que votou contra o Brexit e onde, por decisão de seu Parlamento, a bandeira europeia permanecerá hasteada.

A primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, prometeu fazer todo o possível para conseguir um novo referendo sobre a independência, apesar da intransigência demonstrada pelo governo de Londres.


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