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Estado de Minas

Rússia celebra centenário do inventor da lendária kalashnikov


postado em 01/10/2019 16:55

Dezenas de crianças de uniforme cáqui e boinas vermelhas do "exército jovem" russo se aglomeram nas vitrines de uma exposição dedicada a Mikhail Kalashnikov. Por trás do vidro, os primeiros modelos do AK-47, a arma mais conhecida do mundo, estão em exibição.

A Rússia festeja neste outono os 100 anos do nascimento de Mikhail Kalashnikov, um soldado raso soviético que sonhava ser poeta e que acabou projetando um célebre rifle de qualidades inigualáveis: inquebrável, leve e simples de manejar.

Para a ocasião, foi levada a Moscou a coleção do museu Kalashnikov de Izhevsk (Urales), onde fica a fábrica homônima e onde nasceu o engenheiro. A exposição "Kalashnikov. Soldado. Fabricante. Lenda" viajará depois até a Crimeia, a península ucraniana que a Rússia anexou em 2014.

Kalashnikov, falecido em 2013, era o 17º de 19 irmãos, e nasceu em uma família de camponeses de Altai. Ferido quando pilotava um tanque em 1941, começou a criar seu fuzil durante sua convalescença, impressionado pelas armas alemãs que havia visto em terreno.

Após um primeiro fracasso em um concurso do exército, o "Avtomat Kalashnikova 1947" se impôs e passou a integrar o arsenal dos soldados soviéticos. Até hoje, foram fabricados mais de 100 milhões de exemplares do "Kalashnikov", que equipa cerca de 50 exércitos nacionais e decora a bandeira de Moçambique.

Exaltado pela propaganda soviética como um meio de autodefesa, os primeiros usos da nova arma foram repressivos, para sufocar os levantamentos na Alemanha Oriental em 1953 e na Hungria em 1956, e para matar os civis que tentaram cruzar a Cortina de Ferro, conta o jornalista C.J. Chivers em seu livro "The Gun".

- Fácil de utilizar -

A URSS compartilha esta proeza técnica com os "países irmãos" do pacto de Varsóvia. Mas sua lenda vai muito além. O afundamento da União Soviética no caos fez com que a arma fosse muito distribuída e chegasse aos civis.

Fabricado no mundo todo, o AK-47 se tornou a arma das guerrilhas, dos terroristas, dos ditadores e dos ataques a tiros nas escolas americanas. É tão fácil de utilizar que costuma ser a arma das crianças-soldados, dos caçadores furtivos e dos guardas-florestais das reservas africanas.

Os rifles costumam chegar dos países da ex-Iugoslávia. As reservas do marechal Tito são vendidas por toda a Europa por menos de 1.000 euros.

No Afeganistão, onde cobriu a guerra, o jornalista C.J. Chivers fotografou AK-47 fabricados em Ijevsk em 1953 que os soldados afegãos continuavam utilizando. A arma acabou se voltando contra seu exército, durante a guerra entre a URSS e o Afeganistão, como também aconteceu com a Chechênia.

Nos austeros corredores do museu da Vitória de Moscou, dedicado ao conflito entre a URSS e a Alemanha nazista, as crianças do "exército jovem" lançado em 2015 pelo presidente Vladimir Putin, tiram selfies com o célebre rifle.

"Primeiro seus dedos doem, mas depois é bastante fácil", conta Maxime, um jovem que aprendeu a montar a arma em aula.

- Quinta geração -

"Esperamos que a geração Kalashnikov cresça e nos ofereça não só novas armas mas também novas [invenções] em outros âmbitos", afirma Alexander Ermakov, vice-diretor do museu de Ijevsk.

As armas "não são criadas para atacar, mas para defender uma pátria", afirma. "O fato de que os AK estejam por todos os lados, inclusive em mãos de terroristas, não é culpa do Kalashnikov, é culpa dos políticos".

Nelly Kalashnikova, de 77 anos, recorda seu pai, dizendo que "o que fazia na fábrica, o que inventou, era secreto". "Nós não sabíamos de nada. E assim foi até 1990, até que descobrimos o criador lendário" que era, acrescentou. No entanto, C.J. Chives se mostra cético com a ideia, destacando que a arma foi criada coletivamente.

Mas todo esse reconhecimento - como a estátua que ergueram em sua homenagem em Moscou em 2017 - não veio acompanhado de dinheiro, pois a propriedade intelectual era coletiva na URSS.

A família conseguiu registrar a marca para os produtos derivados em 2004, mas um tribunal a retirou dez anos depois.

Pouco antes de sua morte, Mikhail Kalashnikov expressou seus remorsos. "Minha dor é insuportável", escreveu ao chefe da Igreja russa. "Se meu rifle tirou a vida de seres humanos, [...] sou responsável por isso?".

Atualmente, o grupo Kalashnikov (como é chamado desde 2013) produz 95% das armas ligeiras russas e exporta para 27 países. Seu famoso rifle já está na quinta geração.

Desde 2014, com a chegada de acionistas privados, as exportações foram impulsadas, apesar das sanções americanas que afetam a empresa.

Desde o início de 2017, o Estado é acionista minoritário do grupo.


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