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Estado de Minas

As mulheres sem voz no sínodo dos bispos sobre os jovens


postado em 19/10/2018 10:59

Algumas mulheres foram convidadas a participar no sínodo dos bispos sobre os jovens que acontece este mês no Vaticano, mas sua voz continua sendo discriminada e nenhuma delas tem direito a voto sobre o texto final do encontro.

Jovens de todo o mundo celebraram em março um "pré-sínodo", no qual descobriram que as mulheres estão confusas sobre seu papel na Igreja.

"Os jovens têm a impressão de que as mulheres não têm um papel claro na Igreja, é difícil para elas terem um sentimento de pertencimento e liderança na Igreja e para as jovens é ainda mais complicado", escreveram.

A irmã Maria Luisa Berzosa, uma freira espanhola dotada de um bom humor contagiante, fala de seu prazer de participar como especialista.

"Eu sei que a porta não abre muito na Igreja, mas se há uma pequena brecha, eu vou lá, mesmo que tenha que ter muito jogo de cintura para poder entrar", comenta.

Mesmo assim, ela se surpreende ao se encontrar em meio a um mar de batinas. "Imaginei que estaria com poucas mulheres, mas não tão poucas".

Elas são 35, incluindo uma dúzia de freiras, ou seja, nem mesmo 10% dos participantes.

- Mais atenção -

Lucetta Scaraffia, teóloga e responsável pelo suplemento feminino do jornal vaticano "L'Osservatore romano", não se surpreende. "Há uma tendência a nunca repercutir a voz das mulheres", declarou à AFP.

Scaraffia já participou como especialista em 2015 do sínodo sobre a família. Então escreveu um artigo para denunciar a ignorância e a indiferença generalizada da maioria dos participantes sobre a situação das mulheres.

Este ano, os comentários dos participantes são mais positivos. Muitos dizem que prestam atenção a elas, seja em plenário, em pequenos grupos organizados por idioma e durante os coffee breaks.

"No momento eu não me sinto como um participante de segunda classe. E talvez até porque somos poucas, eles nos ouçam mais. Eu me sinto igual aos outros, posso propor, escrever, dialogar", comemora a irmã Alessandra Smerilli, uma economista italiana.

Nenhuma especifica o resultado concreto de suas intervenções. E elas não têm o direito de votar no documento final.

Tradicionalmente, para votar, é preciso ser padre, mas desde 2016 os padres não ordenados são autorizados a fazê-lo.

Na semana passada, uma petição foi lançada para conceder esse direito às mulheres porque "elas são parte da solução para os graves problemas da Igreja", segundo o texto que tem mais de 7.000 assinaturas.

- Tomada de decisões -

Em resposta, muitos lembraram que o sínodo não é um parlamento, mas uma reunião consultiva de bispos.

"Eu acho que a presença das mulheres é clara, nós as ouvimos, mas Jesus escolheu os apóstolos homens, não há nada que se possa fazer", explicou o bispo holandês Everardus Johannes de Jong.

Nos resumos dos debates divulgados à imprensa, outros "padres sinodais" dedicaram seu tempo de intervenção para mencionar a necessidade de "lutar contra uma cultura machista" na Igreja ou propor a criação de um conselho pontifício de jovens que possa ser dirigido por uma mulher.

Bruno Cadoré, superior dos dominicanos, estima que entre os 10 representantes das ordens religiosas, oito devem ser mulheres, porque há 20% de frades e 80% de freiras.

Além da votação, "o que realmente queremos é a maior participação nos espaços decisórios dentro da Igreja", explica a irmã Sally Hodhgon, religiosa americana convidada como ouvinte e única superiora geral de uma congregação feminina presente no sínodo.

"O papa diz que quer que as mulheres tomem as decisões. Queremos que toda a Igreja participe e ajude a tomar boas decisões", acrescenta ele, incluindo todos os leigos, homens e mulheres.

A religiosa, que vive em Roma há oito anos, afirma ter visto uma evolução positiva. "Há mais mulheres envolvidas nas decisões. É lento? Sim. Mas em Roma tudo é lento", conclui.


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