A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse nesta segunda-feira (17) que seu plano de deixar a União Europeia é a única alternativa possível para um Brexit sem um acordo, que teria "custos substanciais" para a economia - alertou o FMI.
Conhecido como "plano de Chequers", May defende a proposta duramente, apesar da resistência de parte de seu Partido Conservador e das críticas de Bruxelas. Ele prevê conservar uma estreita relação comercial entre Reino Unido e UE após o Brexit, que deve se efetivar em 29 de março.
"Acho que teremos um bom acordo, vamos voltar com ele das negociações da UE e submeteremos ao Parlamento", afirmou May antes de uma entrevista com a BBC que será transmitida nesta segunda.
Mas "acho que a alternativa será a ausência de acordo", com efeitos potencialmente caóticos, acrescentou.
A reação foi imediata.
"A ideia de que a única coisa que este país deve aceitar é uma correção, ou o abismo, não é apenas um insulto à inteligência dos eleitores britânicos, mas também não é verdade", criticou o ex-vice-premiro-ministro e liberal-democrata Nick Clegg, também à BBC.
"Os prazos podem ser alterados", ele insistiu.
No campo contrário, Gerard Batten, líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), considerou que "a falta de acordo, o que significa retornar aos termos da Organização Mundial do Comércio, é melhor do que um mau acordo".
O Brexit de May "não será o que os britânicos votaram em 23 de junho de 2016, de Brexit só terá o nome", disse ele em um comunicado.
- 'Custos substanciais' -
As declarações de May foram feitas no mesmo dia em que o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou, em seu relatório anual sobre o Reino Unido, que um Brexit sem acordo teria "custos substanciais" para a economia britânica.
"Encorajamos tanto o Reino Unido quanto a União Europeia a trabalhar com afinco" para evitar que a separação ocorra brutalmente, disse a diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, em uma coletiva de imprensa em Londres.
"O pouco tempo para concluir um acordo é muito problemático", acrescentou.
A UE e o Reino Unido tinham decidido finalizar as negociações antes da cúpula europeia em 18 de outubro, mas agora se fala para além de novembro.
Um dos principais obstáculos é a linha divisória entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, um Estado-membro da UE.
Londres e Bruxelas se opõem a restabelecer os controles de fronteira nessa área por temerem ameaçar o frágil acordo de paz na Irlanda do Norte, mas divergem sobre como evitá-lo.
Se um acordo for alcançado a tempo, ele ainda deve ser aprovado pelo Parlamento britânico, onde May tem uma maioria estreita, e pelos Parlamentos dos 27 países da UE e o Parlamento Europeu.
Não está claro o que aconteceria em caso de rejeição, mas ambas as partes já estão tecnicamente preparadas para um eventual Brexit sem acordo.
A UE apelou a Londres para que desenvolvesse uma solução "backstop", ou "rede de segurança", que prevê manter a Irlanda do Norte dentro da união aduaneira e do mercado único europeu e seria aplicada apenas se a negociação não conduzisse a uma solução melhor. O Executivo de May teme, porém, que isso comprometa a integridade territorial do país.
"Se não houver apoio operacional para a Irlanda, não haverá acordo", disse o negociador-chefe da UE, Michel Barnier, na semana passada.
O jornal "The Times" publicou nesta segunda-feira que a UE estaria se preparando em sigilo para aceitar as condições britânicas a esse respeito.
