O separatista Quim Torra, recém-nomeado novo presidente da Catalunha, pediu uma reunião, nesta terça-feira (15), ao chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, enquanto finaliza a formação de um Executivo para manter o pulso firme com Madri.
Em um momento em que, na Espanha, cresce a polêmica pelos artigos com tons "xenófobos" escritos no passado pelo novo presidente, este editor de 55 anos viajou a Berlim para se reunir com seu antecessor, Carles Puigdemont.
De lá, em inglês, pediu uma reunião com o dirigente espanhol: "o primeiro objetivo do novo governo catalão é oferecer diálogo ao governo espanhol".
"Rajoy, por favor, escolha a data e o lugar", acrescentou em entrevista coletiva conjunta com Puigdemont.
De Sófia, após uma reunião com seu homólogo búlgaro, o dirigente espanhol concordou com o encontro, mas advertiu que o diálogo deve ocorrer dentro da lei, e que não haverá uma república independente, como Torra deseja.
"Para falar estou disponível (...) É positivo que tenhamos uma reunião e eu o escutarei com muita atenção", afirmou.
Torra exigiu ao Executivo central que devolva o controle sobre as finanças catalãs, após Madri decidir mantê-lo para evitar que o dinheiro público seja destinado ao desafio separatista.
"Não vamos aceitar essas condições", assegurou.
- Polêmica por suposta 'xenofobia' -
O novo líder se descreveu como "um presidente em função" à espera da volta de seu antecessor, a quem considera o "legítimo presidente".
Mas sua nomeação ficou manchada por uma série de textos polêmicos criticados pela oposição e, inclusive, pela organização independente SOS Racisme Cataluña.
"Rechaçamos o discurso que o senhor Torra usou de maneira reiterada. Um discurso perigoso, irresponsável e inaceitável, baseado em preconceitos", assinalou a entidade em comunicado.
Em diferentes artigos, Torra assegurou que falar espanhol na Catalunha "não era natural". Também descreveu a Espanha como "um país exportador de misérias" e chamou de "carniceiros, víboras e hienas" os que não defendem a língua catalã.
O ministro espanhol de Assuntos Exteriores, Alfonso Dastis, se mostrou preocupado pelo surgimento de "um nacionalismo excludente" na Catalunha, segundo o comunicado de um fórum de debate do qual participou em Sevilha.
Os comentários prejudicam um movimento que durante anos tentou se afastar dos nacionalismos radicais e xenófobos surgidos em outros países da Europa.
"Lamento que em alguns momentos de máxima irritação esses excessos tenham acontecido", disse Torra durante uma entrevista à emissora Catalunya Radio, afirmando que "os espanhóis são um povo irmão, um povo que eu amo".
- Recuperação da autonomia -
Depois de ser nomeado na segunda-feira, Torra deve tomar posse do cargo e formar um governo, requisito indispensável para que o governo espanhol retire a intervenção da autonomia catalã.
O novo presidente quer contar com alguns dos ministros de Puigdemont presos, ou que foram para o exterior após a destituição por Rajoy e são acusados de rebelião pelo Tribunal Supremo.
"Como todo o governo foi ilicitamente cessado, todos os conselheiros que quiserem se reincorporar ao governo têm todo o direito de fazê-lo", disse Torra de Berlim.
Se for assim, "deve ser analisado e determinar se cumpre a legalidade e justifica a retirada" da intervenção sobre a autonomia regional, advertiu o delegado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo.
Além disso, Madri advertiu Torra que se insistir na via da desobediência, criando um governo no exílio para Puigdemont, ou iniciar a redação da constituição de uma hipotética República da Catalunha, essas medidas poderiam ser aplicadas novamente.