Agricultores franceses, temendo uma intensa entrada de carne proveniente da América do Sul, se manifestaram nesta quarta-feira (21) em todo o país, na véspera da recepção de mil representantes do setor no Palácio do Eliseu pelo presidente Emmanuel Macron.
Enquanto as negociações para um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul foram retomadas em Assunção, agricultores franceses, abalados por uma crise, temem a concorrência gerada pela importação anual para a Europa de entre 70 mil e 99 mil toneladas de carne bovina sul-americana sem tarifas aduaneiras.
"O governo francês está nos abandonando. Nos prometeram coisas, revalorizações no âmbito dos Estados Gerais de Alimentos (encerrados em dezembro). Por outro lado, assinaram acordos para importar carne de países onde os padrões não são os mesmos", lamentou à AFP Sebastien Poncet, presidente da Jovens Agricultores de Isere, na França.
Com cerca de 50 agricultores, ele estava distribuindo folhetos em um pedágio aos motoristas para "alertar os consumidores". "No Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), nós sempre lhe dissemos, no que diz respeito ao setor de carne bovina, a conta não fecha", afirmou terça-feira o ministro da Agropecuária Stéphane Travert, em mensagem de apoio aos criadores.
A França quer "garantir que esta cota de 70 mil toneladas esteja bem separada entre carne fresca e carne congelada", disse o ministro, que também expressou o desejo de que as condições sejam estabelecidas sobre os critérios de qualidade e regulamentos sanitários em vigor na França.
Apesar dessa mensagem, as "operações escargot" e manifestações, acompanhadas de tratores, se espalharam em diversas regiões do Centro, do Oeste e do Sudoeste.
"Macron Traidor" e "Mercosul, distorção com certeza" eram algumas das frases de cartazes em Bordeaux.
Em algumas cidades, foram despejados estrume e palha nas vias.