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Estado de Minas

Gerry Adams, um pária convertido em artífice da paz


postado em 10/02/2018 15:30

Respeitado por uns, odiado por outros, Gerry Adams, de 69 anos, tem sido durante décadas uma figura central da vida política na Irlanda, tanto em Belfast como em Dublin, como líder do Sinn Féin, partido que dirigiu durante mais de três décadas.

"Estou satisfeito, fiz o melhor que pude", declarou recentemente à agência britânica Press Association o político perseguido durante toda sua carreira por acusações de ter vínculos com o Exército Republicano Irlandês (IRA).

Nascido em uma família católica de Belfast em 6 de outubro de 1948, Adams, um fervoroso partidário da unificação da Irlanda, dirigia o partido desde 1983, um recorde na Europa.

Seu pai foi um membro ativo do IRA, mas Adams, o mais velho de 10 irmãos, sempre negou ter pertencido ao grupo paramilitar apesar das repetidas acusações - nunca provadas - que o levaram várias vezes à prisão nos anos 1970.

Ainda hoje as suspeitas se mantêm porque o líder do Sinn Féin nunca condenou formalmente o IRA.

Seu biógrafo, o jornalista norte-irlandês Malachi O'Doherty, disse à AFP que pessoalmente acredita que Adams foi um membro importante do IRA, mas que "tinha uma sensibilidade mais política do que militar".

Na sexta-feira, Adams disse à agência PA que lamentava a violência na Irlanda do Norte nas três décadas que o conflito durou.

"Lamento o fato de que tenha havido pessoas assassinadas, especialmente aqueles que foram assassinados pelo IRA", expressou.

As ações do IRA, entre atentados e assassinatos, deixaram cerca de 1.700 mortos de um total de 3.500 vítimas entre os anos 1960 e 1990, em um conflito no qual se enfrentaram nacionalistas partidários de uma Irlanda unida, majoritariamente católicos, contra os que apoiavam continuar no Reino Unido, essencialmente protestantes.

- Uma imagem mais de consenso -

Gerry Adams foi militante do Sinn Féin desde a adolescência e ascendeu rapidamente até se tornar seu presidente, em 1983.

Naquele mesmo ano foi eleito deputado do oeste de Belfast, mas, seguindo a posição do partido, não foi ao Parlamento de Londres para não ter que prestar lealdade à rainha da Inglaterra.

Nessa época a formação era considerada a vitrine política do IRA.

Durante a era da primeira-ministra Margaret Thatcher, os rádios e as televisões eram proibidos de difundir a voz de Adams, cujas intervenções eram dobradas.

Adams sobreviveu a duas tentativas de assassinato dos paramilitares nos anos 1980, o que o obrigou a se mudar várias vezes, enquanto tentava promover a via política para a questão irlandesa.

Pouco a pouco o Sinn Féin se consolidou no Parlamento de Dublin, enquanto a Irlanda do Norte se aproximou dos nacionalistas moderados do SDLP, uma primeira etapa para a trégua de 1994 e depois para os acordos de paz de Sexta-Feira Santa de 1998.

"No início dos anos 1990 entendeu que as ações armadas do IRA faziam o Sinn Féin perder votos e que seus programas eram incompatíveis", explica Malachi O'Doherty.

Desde então e nas últimas duas décadas, o Sinn Féin se tornou o segundo partido norte-irlandês, atrás dos unionistas do DUP.

Em Dublin, o partido passou de uma cadeira no Parlamento em 1997 para os atuais 23 deputados de um total de 158. Desde 2011, o próprio Adams é deputado do condado de Louth, na fronteira com a Irlanda do Norte.

Mas a má reputação não o abandona.

Em 2008, um ex-combatente do IRA lhe acusou de ter ordenado em 1972 o sequestro e assassinato de Jean McConville, mãe de 10 filhas, suspeita de ter dado informações ao Exército sobre a atividade dos nacionalistas.

Por este caso, Adams foi detido e interrogado pela Polícia em 2014.

Nos últimos anos demonstrou uma imagem mais de consenso, com campanhas a favor do casamento homossexual e em prol da União Europeia. Em 2015, inclusive, apertou a mão do príncipe Charles, que estava de visita à Irlanda, um gesto de reconciliação simbólica.

O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair parabenizou então sua "coragem política" por ter entendido que "a existência do IRA era mais uma barreira do que uma via para uma solução justa" ao conflito.

Em uma entrevista à televisão americana em 1994, Gerry Adams confessou que "fazer a paz é muito mais difícil do que fazer a guerra".


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