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Estado de Minas

Apesar da condenação a Mladic, Bósnia ainda tem que virar a página


postado em 23/11/2017 17:16

A Justiça internacional fez o seu trabalho: o ex-chefe militar sérvio na Bósnia Ratko Mladic acabará seus dias na prisão. Mas a página do conflito entre comunidades será difícil de virar na Bósnia.

O promotor do Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), Serge Brammertz, afirmou que a Justiça não conseguirá trazer por si só uma "reconciliação, (que) deve vir da sociedade".

"Esta reconciliação está estagnada" nos Bálcãs em geral, e na Bósnia em particular, assegurou o comissário de direitos humanos do Conselho da Europa, Nils Muiznieks, na véspera do veredito.

Este político recordou as "divisões étnicas", a "negociação do genocídio" e a "glorificação dos criminosos de guerra" que ainda prevalecem na região.

Para a analista Tanja Topic, o veredito de culpa de Mladic não supõe um ponto final porque não vai acompanhado de "uma crítica contra os crimes no próprio grupo".

Especialmente os políticos sérvios da Bósnia "são prisioneiros desta ideia", segundo a qual o TPII é um tribunal político, autor "de uma injustiça histórica contra os sérvios".

Na quarta-feira, a vários quilômetros do memorial do massacre de Srebrenica, apareceram vários adesivos com Mladic de uniforme e escrito: "você é nosso herói".

O líder político dos sérvios na Bósnia, Milorad Dodik, qualificou o criminoso de guerra como "lenda do povo sérvio".

Esta opinião é majoritária entre os sérvios ortodoxos da Bósnia, que representam pouco menos de um terço dos 3,5 milhões de habitantes, frente à metade de bósnios muçulmanos e os 15% de croatas católicos.

Os que se negam a se definir segundo estes critérios religiosos não superam 3%.

- A culpa de Dayton -

O Acordo de Dayton conseguiu calar as armas no fim de 1995. Mas, segundo Predrag Kojovic, presidente do pequeno partido multiétnico "Nosso Partido", também "deu aos nacionalistas um empurrão quase ilimitado em seus territórios étnicos" e lhes ajudou "a alcançar seus objetivos bélicos por meios políticos".

Vinte e cinco anos depois de um conflito que deixou 100.000 mortos e 2,2 milhões de deslocados entre 1992 e 1995, os representantes de todas as comunidades recorrem ao conceito "três histórias, três verdades".

O maior aliado desta luta de recordações é a segregação escolar, promovida sob o pretexto de proteger os direitos das minorias.

O princípio de "duas escolas sob o mesmo teto (...) persiste apesar da decisão de uma lei interna que a declarou discriminatório" e das recomendações das organizações de defesa dos direitos humanos, lamentou Nils Muiznieks.

A separação entre comunidades foi reforçada após a guerra. Banja Luka (norte do país), que antes era multiétnica (49% sérvios, 19% bósnios, 15% croatas), é hoje basicamente sérvia (90%), segundo o censo.

Anteriormente símbolo multicultural, Sarajevo é agora uma cidade 80% bósnia muçulmana, o dobro que em 1991.

- 'Pelo futuro' -

O prefeito sérvio da cidade mártir de Srebrenica, Mladen Grujicic, apostou pela convivência e mostrou orgulhoso em seu gabinete um desenho de uma criança que mostra um sérvio e um bósnio lendo juntos, um a Bíblia e outro o Alcorão.

Zijad Bacic, de 40 anos, é um sobrevivente do massacre de Zecovi, no qual 17 membros de sua família foram assassinados pelos homens de Mladic.

Colabora com o programa "Pelo futuro" e conta sua história nos institutos dos Bálcãs junto com outras vítimas, sérvias e croatas.

"As pessoas que sabem que não é possível fazer mais nada além de viver juntos começaram o processo de reconciliação após o fim da guerra", assegura.


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