A UE prometeu não participar de debates e campanhas sobre o Brexit, como a saída é chamada, mas o presidente da Comissão Europeia (CE, braço executivo da UE), Jean-Claude Juncker, alertou os eleitores britânicos de que opção pelo afastamento é uma decisão sem volta. Ao jornal francês Le Monde, Juncker disse que não fazia ameaças, mas frisou que “a relação não seria como hoje”. O luxemburguês destacou que “o Reino Unido terá de se acostumar a ser tratado como um Estado terceiro”, e não terá vantagens sobre os demais.
Pesquisa publicada no começo do mês pelo Instituto Pew Global mostra que 70% dos europeus acreditam que a ruptura seria algo negativo. O estudo também mostra insatisfação de muitos membros com a forma como o bloco lida com questões cruciais, como a crise de refugiados e as dificuldades econômicas. Analistas alertam que a eventual saída do Reino Unido pode favorecer pedidos de ressalvas por parte de países insatisfeitos e até ameças de novas rupturas.
DEBATES O principal argumento da oposição ao bloco é de que os britânicos pagam muito caro pela parceria com a UE. Fora do bloco, ficariam livres de ao menos parte das taxas de contribuição, teriam mais controle fronteiriço, mais independência para controlar uma resposta à crise de refugiados e para legislar, além de se submeterem a menos burocracias e garantir mais autonomia para negociar acordos. Os defensores da permanência destacam que, apesar dos problemas da UE, a saída tem potencial para piorar a situação política e econômica interna.
Estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas do Reino Unido alertou que uma ruptura limitaria o ritmo de crescimento da economia e faria a libra se desvalorizar em até 20%. Segundo o Fundo Monetário Mundial (FMI), a saída criaria uma “alta incerteza, volatilidade nos mercados e um crescimento mais lento”. A diretora-geral do organismo, Christine Lagarde, comentou o processo no mês passado, dizendo que uma vitória do Brexit seria “bastante ruim, muito ruim” para os britânicos.
O cenário pós-UE incluiria fuga de investimentos e perda de empregos, principalmente os ligados ao setor bancário, uma vez que Londres deixaria de ser o coração financeiro do bloco. Segundo George Osborne, ministro das Finanças, em dois anos, cerca de 820 mil empregos serão eliminados em todo o Reino Unido. O executivo-chefe da Barratt Developments, maior empresa britânica de construção civil, alertou para outro problema: o fechamento das fronteiras a imigrantes teria impacto negativo no setor, levando à falta de mão de obra.
Para o especialista em estudos europeus da Universidade de Brasília (UnB) Estevão Martins, “o Reino Unido perderia economicamente, comercialmente e financeiramente”. Ele destaca que “permanecer é uma vantagem, por oferecer facilitações na escala mundial que o Reino Unido já não tem mais sozinho”. O think thank americano Conselho de Relações Exteriores (CFR) alertou que, além de provocar recessão, o Brexit enfraqueceria a coesão do Reino Unido e da UE, e afetaria a percepção de “quão longe a colaboração entre países pode chegar”.