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Estado de Minas

Celebridades e ativistas põem a questão racial na agenda da campanha presidencial nos EUA

Passados 48 anos do assassinato de Martin Luther King Jr., os abusos contra jovens afroamericanos são combustível para debates e para a ação de grupos como o Black Lives Matter


postado em 03/04/2016 06:00 / atualizado em 03/04/2016 09:24

Retrato de Luther King é exibido em protesto contra a violência racial. Candidatos estão atentos ao eleitorado não branco(foto: Michael B. Thomas /AFP - 18/1/16)
Retrato de Luther King é exibido em protesto contra a violência racial. Candidatos estão atentos ao eleitorado não branco (foto: Michael B. Thomas /AFP - 18/1/16)

Brasília – Com a consciência fustigada pelos movimentos que combatem a violência policial contra as comunidades negras, os americanos recordam amanhã a morte de um dos ícones da luta pelos direitos civis, em um cenário ainda distante do sonho da igualdade racial. Passados 48 anos do assassinato de Martin Luther King Jr., os abusos contra jovens afroamericanos são combustível para debates e para a ação de grupos como o Black Lives Matter (“vidas negras importam”). Apesar dos intensos protestos em nível nacional depois da morte de jovens negros sob custódia policial – como nos casos de Michael Brown, no Missouri, e de Freddie Gray, em Baltimore –, a questão não entrou com a mesma força na campanha presidencial.

Em paralelo à corrida pela nomeação dos partidos democrata e republicano para a eleição de novembro, o discurso dos ativistas tem mobilizado segmentos da sociedade e colocado o tema racial na pauta dos formadores de opinião. Na indústria do entretenimento, a questão da discriminação permeia a intervenção de artistas como a cantora Beyoncé, enquanto os versos do rapper Kendrick Lamar são entoados por manifestantes em atos promovidos pelo Black Lives Matter.


Para Harvey Young, professor do Departamento de Comunicação da Northwestern University e especialista em estudos afroamericanos, o engajamento de personalidades do showbiz dá uma face pública aos movimentos raciais e fortalece a expressão de frustração entre as comunidades negras. “O próximo passo é mobilizar eleitores para apoiar políticos que trabalharão por políticas públicas mais inclusivas. Claro que, quando temos a atual estrutura política e uma diferença significativa de posicionamento entre os principais pré-candidatos republicanos e democratas, o apoio de celebridades pode incentivar as pessoas a se registrar como eleitores e participar das eleições”, avalia.

Estratégia Tradicionalmente alinhado ao Partido Democrata, o crescente eleitorado não branco – composto por negros, latinos e asiáticos – é estratégico tanto na disputa interna pela nomeação como n a busca dos votos para a eleição de novembro. Segundo o instituto de pesquisas Pew, a parcela desses eleitores nas eleições presidenciais de 2012 foi de 29%, e deve saltar para 31% neste ano. No campo governista, a ex-secretária de Estado Hillary Clinton é a favorita e tem demonstrado força entre os negros, especialmente dos estados do Sul, onde o voto tende a ser menos progressista. A vantagem da ex-primeira-dama tem relação com os laços construídos por ela durante os dois mandatos do marido, Bill Clinton, presidente entre 1993 e 2001.


Hillary tenta fortalecer as bases entre as comunidades afroamericanas com propostas que vão da reforma do sistema prisional à educação infantil. Seu rival na disputa interna, o senador Bernie Sanders, se esforça para cativar o eleitorado negro com propostas contrárias à desigualdade social. “Há uma campanha para apresentar a história de Sanders como ativista pró-direitos civis nos anos 1960 e 1970”, lembra Young.


Erguida sobre um discurso estridente e polêmico, a pré-candidatura de Donald Trump à Casa Branca tem provocado racha no Partido Republicano e ameaça reduzir a base de apoio à legenda oposicionista. Diante da perspectiva de que a população não branca dos Estados Unidos se torne maioria nas próximas décadas, as posições racistas e xenófobas do magnata do setor imobiliário podem ampliar a distância entre os republicanos e um eleitorado cujo apoio é estratégico para o seu futuro político. Os comícios de Trump estão entre os principais alvos de ações dos ativistas que lutam contra a discriminação racial. A reação violenta de apoiadores do empresário a esses manifestantes e o fato de Trump, que lidera a disputa pela candidatura presidencial republicana, não repudiar esse comportamento levantam preocupações no establishment partidário e entre representantes das comunidades afroamericanas. Uma pesquisa encomendada pela rede de tevê NBC News mostra que Trump tem imagem desfavorável entre 86% dos eleitores negros e entre 75% dos latinos.

Demandas sensíveis

O uso excessivo de força policial e a morte de jovens negros desarmados que estavam sob custódia policial foram o estopim para uma série de manifestações em todo o país. A cidade de Ferguson, no Missouri, onde o jovem Michael Brown foi morto a tiros por um policial branco, em agosto de 2014, foi o epicentro da indignação que evoluiu para distúrbios violentos e empurrou a questão para o debate nacional. O número desproporcional de negros na população carcerária dos Estados Unidos foi um dos aspectos destacados pelo presidente Barack Obama ao defender uma reforma do sistema criminal americano. Segundo a Casa Branca, 60% dos detentos no país são afroamericanos ou latinos. Na questão penal, dados da Comissão de Sentenças mostram que homens negros recebem, em média, penas 19,5% mais longas que as aplicadas a homens brancos que cometeram crimes similares. No quesito perspectivas educacionais, pesquisas mostram que elas são menores para os afroamericanos. Apenas 44% dos negros que chegam às universidades concluem o curso.


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