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Estado de Minas

Extrema-direita europeia espera ter ganhos políticos com crise dos refugiados


postado em 23/09/2015 17:01

Diante do fluxo maciço de refugiados, a extrema-direita europeia adotou um discurso para provocar medo na esperança de obter vantagens eleitorais.

"Submersão", "invasão planejada", "caos do asilo" fazem parte da linguagem que os partidos e facções de direita espalham por toda a Europa.

Sua "atitude consiste em desenvolver uma batalha semântica para dizer que se tratam de invasores e não de refugiados ou migrantes", observa Jean-Yves Camus, acadêmico especialista em extrema-direita.

Na França, a presidente da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, critica os "clandestinos exigentes e arrogantes" e afirma que 75% não são refugiados, mas pessoas que vêm para tirar proveito da "assistência social" do governo.

Alguns líderes do partido de extrema-direita Democratas da Suécia (SD), acusaram o pai de Aylan, o menino sírio que se afogou na Turquia, cuja foto emocionou o mundo, de querer viajar para "se submeter a um tratamento odontológico gratuito".

"O que radicaliza o discurso é a condição de muçulmano dos exilados", diz Camus.

A retórica da extrema-direita dá a entender que os refugiados são uma espécie de cruzada contra "as tradições cristãs da Europa", acrescenta o acadêmico francês.

O deputado holandês Geert Wilders, do Partido da Liberdade, comparou a crise migratória a uma "invasão islâmica" que ameaça "a segurança, a cultura e a identidade" da Europa.

Não se trata de um discurso novo, mas no atual contexto fala mais alto porque "o fenômeno migratório ressoa com o fenômeno Daesh (acrônimo em inglês para Estado Islâmico)", aponta Camus.

"Quando a FN e o Vlaams Belang belga dizem que eles são hostis à imigração muçulmana, isso não é novo. Mas quando organizam uma grande conferência em Bruxelas, três semanas após o ataque no trem Thalys, ganha um outro aspecto", acrescenta, referindo-se ao ataque frustrado de um jihadista marroquino contra um trem Amsterdã-Paris em agosto.

A extrema-direita na Europa prosperou nos últimos anos graças à confluência da crise geopolítica desencadeada pelos ataques de 11 de setembro de 2001 e com a frágil situação econômica desencadeada pela crise financeira de 2009, explica o historiador Nicolas Lebourg.

"Com a adição de uma terceira crise, a migratória, deveria ter grande sucesso" nas próximas eleições, prevê o historiador.

"E mais o será enquanto a migração continuar a ser o seu principal foco", acrescenta.

Em 20 de agosto do ano passado, pela primeira vez, os Democratas da Suécia chegaram em primeiro lugar em uma pesquisa eleitoral.

Na Bélgica, o partido Vlaams Belang aparece com 9,7% das intenções de voto, contra 7,9% em maio.

De acordo com uma pesquisa recente, 34% dos franceses são considerados afins às ideias de Marine Le Pen em matéria de migração.

Pela primeira vez, a Frente Nacional seria o partido mais votado em várias regiões da França nas próximas eleições regionais, programadas para dezembro.

Espera-se também um aumento da extrema-direita nas eleições locais em Viena e Sófia, capitais da Áustria e Bulgária, respectivamente.

Além das pesquisas, a crise dos refugiados permite à extrema-direita ocupar o espaço público, como mas manifestações do movimento Pegida (Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente) na Alemanha, aponta Camus.

No entanto, a opinião pública não é insensível e pode evoluir, como aconteceu após a difusão da foto do menino Aylan e a descoberta de um caminhão com 71 migrantes mortos sufocados na Áustria.

Alguns líderes populistas levam em conta esta comoção, como o principal líder da Liga Norte na Itália, Matteo Salvini, que disse que estava disposto a receber em sua casa de dois cômodos em Milão um refugiado "que foge da guerra".

No entanto, Salvini esclareceu que, se necessário, preferia que o refugiado fosse cristão e não muçulmano.


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