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Estado de Minas

Migrantes ou refugiados, uma escolha de nomes que não é neutra


postado em 27/08/2015 15:31

Eles são "migrantes", "refugiados" ou "clandestinos"? Devemos falar de "fluxo" ou "crise" migratória ante a chegada às portas da Europa de homens, mulheres e crianças, vindos do Oriente Médio ou da África para fugir da guerra, perseguição e pobreza? Em termos de migração, a escolha das palavras não é algo neutro.

A multiplicação de naufrágios no Mediterrâneo, as tentativas de chegar à Europa Ocidental através dos Bálcãs, ou ao Reino Unido pelo Túnel da Mancha têm alimentado nos últimos meses a sensibilidade do assunto entre a imprensa e os políticos.

Alguns derrapam, às vezes, como o primeiro-ministro conservador britânico David Cameron, que falou de um "enxame de migrantes" que procuram entrar em seu país. "Ele deve se lembrar que fala de seres humanos, não de insetos", denunciou a oposição trabalhista.

Na França, o ex-presidente Nicolas Sarkozy chocou a opinião pública ao comparar no final de junho as chegadas na Europa a "uma canalização que explode e transborda para a cozinha".

Na Grécia, foi a "bomba de retardo" evocada em 20 de agosto pelo ministro da Defesa Civil Yannis Panoussis sobre o fluxo migratório que o fez reagir.

Uma verdadeira dor de cabeça, a escolha de vocabulário pode ser muito forte em alguns países. Este é o caso na Itália, onde Matteo Salvini, o líder populista e anti-imigração da Liga do Norte (oposição) fala apenas de "clandestinos" (ilegais).

Em todos os lugares, o termo "migrante" - que designa uma pessoa que deixa o seu próprio país para outro, independentemente de suas motivações (políticas, pessoais, econômicas) - prevalece nos últimos meses. Sem, contudo, ser unânime.

Um jornalista do canal Al-Jazeera, Barry Malone, lançou o debate na semana passada. Sustentando que "o termo genérico 'migrantes' não é mais relevante para descrever os horrores que estão acontecendo no Mediterrâneo", pediu para que privilegiassem o termo "refugiados".

"Falar de 'migrantes' é uma maneira de desumanizar as pessoas, de não falar mais de indivíduos", explica Elisabeth Vallet, especialista das questões migratórias na Universidade de Québec em Montreal (Uqam).

"Ninguém pergunta por que uma mãe opta por pegar suas crianças numa manhã, arrevessar o deserto, atravessar o mar em um barco inflável e, por fim, ter ainda que enfrentar gás lacrimogêneo da polícia. Essa deveria ser a primeira questão", considera.

Por que não 'exilados'

Esta frieza léxica provavelmente explica a profusão do termo no discurso político: nas nove páginas da recente declaração franco-britânica para "lidar com a pressão migratória" no norte da França para chegar a Inglaterra, a palavra "migrante" aparece trinta vezes, enquanto "refugiado" não é citado uma única vez se quer.

Neste sentido, o texto prefere a expressão "migrantes que necessitam de proteção".

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) defende o uso de ambas as palavras, considerando que "deve ser feita uma distinção entre as pessoas que fogem de guerras e perseguição, os 'refugiados', e aqueles que procuram trabalho ou uma vida melhor, os 'migrantes".

"'Migrantes' não é um termo apropriado para descrever o fluxo de pessoas que fogem da violência e da perseguição", estima Ariane Rummery, porta-voz do ACNUR.

"A maioria das pessoas que chegam à Europa provêm de países afetados pela guerra, violência ou perseguição, como Síria, Afeganistão, Iraque, Eritreia", argumentou.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), com sede em Genebra, defende, por sua vez, o uso do termo único "migrante" precisamente por seu caráter genérico.

Muitos recém-chegados, incluindo as vítimas de tráfico humano, não se enquadram nem na categoria de "migrantes econômicos" nem na de "refugiados", diz Leonard Doyle, porta-voz da OIM. "Dizer que há 'refugiados' e que aqueles que não o são devem ser enviados para casa é extremamente perigoso", disse ele.

Responsável por programas de asilo da ONG cristã francesa Acat, Eve Shahshahani prefere o termo "exílio porque entende-se na palavra que não se uma escolha, seja econômica ou política".

"Afluxo", "pressão" ou "crise migratória", "tentativas de intrusão": de forma geral, muitas ONGs temem o campo lexical usado para se referir à situação atual, de forte conotação negativa de acordo com eles.

"Temos a impressão de que estamos falando de uma praga de gafanhotos ou de um vazamento de água, e isso mantém a ideia de que a chegada destas pessoas é um desastre", lamenta Ms. Shahshahani.


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