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Estado de Minas

Diplomata diz que Brasil pode contribuir para paz no Oriente Médio

Em entrevista ao Estado de Minas, Reda Mansour falou sobre os principais desafios nas relações entre o Brasil e Israel


postado em 02/12/2014 06:00 / atualizado em 02/12/2014 11:55

Reda Mansour, embaixador de Israel no Brasil, é o primeiro diplomata de carreira não judeu a servir ao Estado hebreu(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
Reda Mansour, embaixador de Israel no Brasil, é o primeiro diplomata de carreira não judeu a servir ao Estado hebreu (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)


Embaixador de Israel no Brasil há pouco mais de dois meses, Reda Mansour pertence ao povo druso, minoria árabe de raiz islâmica. É o primeiro diplomata de carreira não judeu a servir ao Estado hebreu. Em entrevista ao Estado de Minas, o diplomata falou sobre os principais desafios nas relações entre o Brasil e Israel e os conflitos no Oriente Médio.

O senhor tem percebido uma postura mais hostil no Brasil, depois que houve divergências diplomáticas entre os dois países neste ano? (Em setembro, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores de Israel, Ygor Palmor, afirmou que o Brasil era um “anão diplomático”.)
Acho que passamos uma crise diplomática. Pelo estilo das palavras que foram usadas, o fato deu origem a muitas manchetes nos jornais. Mas, na verdade, não há problemas maiores entre Brasil e Israel. O governo brasileiro defende um Estado palestino independente e Israel também. Os principais partidos de Israel aceitam a ideia de um Estado palestino. Não podemos dar a independência a um grupo como o Hamas, queremos dar a independência a um grupo democrático e livre. Nesse ponto, os dois países têm políticas similares. Israel está melhorando as plataformas de cooperação com o Brasil. Temos uma cooperação muito grande com o Exército Brasileiro. O Brasil trabalhou nos últimos quatro anos em nosso colégio de defesa social, enviando todo ano um ou dois coronéis para esse colégio. Para isso é preciso ter muita confiança, já que são passadas informações importantes sobre a defesa de Israel. Houve esse problema nos discursos, mas nas questões principais não existem muitas diferenças. Acho que Brasil também não apoia o grupo do Hamas, que está lutando contra a democracia e os direitos das minorias.

O senhor acha que o Brasil tem se posicionado de forma clara em relação às questões entre Israel e Palestina? O Brasil pode ser mais participativo?

O Brasil tem um papel fundamental para ajudar o Oriente Médio. Nossa história é de intervenção estrangeira, sempre com muitos interesses. O Brasil, como um país muito importante, não tem uma cultura imperial e tem um regime democrático, diferentemente da maioria dos países dos Bric (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Por isso, pode promover seus valores de democracia e liberdade. Assistimos ao jogo entre Atlético e Cruzeiro e vimos no estádio muitos imigrantes ou descendentes libaneses, sírios, judeus e de outros países que convivem muito bem. Esse é o exemplo que o Brasil pode promover. É uma mostra positiva de que árabes e judeus podem conviver juntos. Nossos problemas não são de cultura ou religião, mas sim problemas políticos, de interesses políticos. O Brasil pode ter um papel muito importante nesse cenário, sem precisar apoiar um lado ou outro. É possível apoiar os dois lados para se chegar a um acordo. Podemos ampliar os canais de conversas.

Neste ano, tivemos vários meses de conflito entre Israel e Palestina na Faixa de Gaza. Depois de milhares de mortes, os dois lados conseguiram uma trégua. Mas parece que os assassinatos que aconteceram por parte dos dois povos voltaram a deixar o clima tenso. Algum dia esse conflito vai ser resolvido de vez?
Israel tem a esperança de que algum dia vamos conseguir um acordo de paz. Hoje, não existe uma Palestina, existem três ou quatro que funcionam de maneira muito diferente. Uma não tem controle da outra. Tivemos problemas grandes com o Hamas, que não é diferente de um grupo extremista. Sua ideologia formal tem como objetivo destruir Israel, lutar contra tudo que não é do islã e criar um califado até chegar ao ponto em que todo o mundo seja islâmico. Não há espaço para dialogar com o Hamas. Muito já foi tentado. Buscou-se uma forma de diálogo, mas isso não foi possível porque eles não têm visão de direitos humanos ou democracia. A única coisa que pode acontecer é buscar, com ajuda de países árabes, como Egito, Jordânia, Arábia Saudita, uma forma de controlar o Hamas e retomar o controle da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Com a ANP temos muitas conversas. Nos últimos 20 anos, falamos muito sobre os problemas que temos a resolver. Como a questão dos refugiados, de Jerusalém, das fronteiras. Mas Israel precisa de confiança e segurança. Algumas vezes, ficamos a milímetros de chegar a um acordo, mas a intervenção de fora da região tornou tudo mais difícil.

Uma das maiores críticas da Autoridade Nacional Palestina é a questão dos novos assentamentos feitos por Israel em território palestino. Essa é uma questão negociável?

O que sentem os palestinos sobre os israelenses? Eles acham que todo o território tem que ser palestino. Assim como para alguns israelenses todo o território tem que ser israelense, mesmo a Faixa de Gaza e a Cisjordânia. Os dois lados têm grupos que querem manter essa ideologia radical. Mas Israel já demonstrou que isso não deve ser um problema para se criar um acordo. De um lado, temos judeus que podem viver na Cisjordânia e, do outro, temos árabes que podem viver em Israel. Temos em Israel 1,5 milhão de árabes. Porque os dois povos não podem viver nos territórios do outro? Se tivermos paz, isso é possível. Acho que não é o problema principal, que impede o acordo de paz. O principal é estabelecer um povo palestino com controle central, capaz de decidir questões nacionais e que possa fechar acordos com Israel de forma concreta. Hoje, se fecharmos um acordo com Mahmoud Abbas, quem será que ele representa? Não representa a Faixa de Gaza, nem os palestinos no Líbano e na Jordânia. Será um acordo para bibliotecas. Já firmamos dois acordos assim, mas não existe um controle nacional das lideranças palestinas. A comunidade internacional pode ajudar nisso, em vez de criticar Israel todo o tempo. Pode ajudar os palestinos a começar uma cultura de paz, a ensinar em suas escolas os conceitos democráticos.


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