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Estado de Minas CONTAS COM O PASSADO

Oitenta anos depois da ascensão de Hitler, governo da Alemanha admite responsabilidade pelo Holocausto

Analistas explicam o porquê da adesão à ideologia nazista


postado em 03/02/2013 07:00 / atualizado em 03/02/2013 08:36

Rodrigo Craveiro


O Exército nazista marcha diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim, em 30 de janeiro de 1933: parada militar celebrou ascensão de Hitler à chancelaria(foto: AFP Photo)
O Exército nazista marcha diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim, em 30 de janeiro de 1933: parada militar celebrou ascensão de Hitler à chancelaria (foto: AFP Photo)

Brasília – “Em nossas próprias mãos, em nossas mãos sozinhas, se encontra o destino do povo alemão. Apenas se levantarmos, por meio de nosso próprio trabalho, nossa própria indústria, determinação, ousadia e perseverança. Somente assim nos levantaremos novamente.” O primeiro discurso do austríaco Adolf Hitler, depois de ser empossado chanceler do Terceiro Reich pelo presidente Paul von Hindenburg, em 30 de janeiro de 1933, em nada antecipava a catástrofe que os alemães e o mundo enfrentariam. Em 12 anos de governo, o Führer usou pulso de ferro para liderar um país em guerra e transformou as Schutzstaffel – as SS – em máquina de matar. Sob a ideologia nacional-socialista (ou nazista), seus comandados assassinaram mais de 6 milhões de judeus.


Oito décadas após a chegada de Hitler ao poder e 68 anos depois de seu suicídio, a Alemanha busca acertar as contas com a história. Na semana passada, por duas ocasiões, a chanceler Angela Merkel assumiu a culpa do país pelo nazismo. “Naturalmente, nós temos uma responsabilidade perpétua pelos crimes do nacional-socialismo, pelas vítimas da Segunda Guerra Mundial e, acima de tudo, pelo Holocausto”, comentou, na segunda-feira. “Devemos dizer claramente, geração após geração: com coragem, cada indivíduo pode ajudar a garantir que o racismo e o antissemitismo não tenham chance.” Dois dias depois, durante uma exposição na antiga sede da Gestapo (a polícia secreta nazista), ela acusou as elites e amplos setores da sociedade de participarem da ascensão do Führer.


Em entrevista ao Estado de Minas, três especialistas em nazismo falaram sobre as marcas que Hitler deixou na Alemanha. Para o alemão Dierk Borstel, cientista político da Universidade de Dortmund, o país precisa suportar o fardo do passado, tanto por seu papel na eclosão da Segunda Guerra Mundial, quanto pela singularidade do Holocausto. “Essa responsabilidade tem um grande peso, e não se limita somente à geração imediata dos criminosos nazistas”, comenta. Ele alerta sobre a existência de uma minoria de adeptos da extrema direita que se relacionam com o nacional-socialismo histórico e seu ideário. “Até agora, as suas organizações não chegaram ao Parlamento (Bundestag) ou ao governo. Mais problemáticas são suas ações em cidades, com alguns atos de violência e tentativas de dominação local”, diz.


Borstel lembra que o nacional-socialismo não foi produto apenas de Hitler. Segundo ele, os nazistas se aproveitaram de sentimentos arraigados na sociedade e os utilizaram para se tornarem viáveis. Havia uma frustração generalizada com a República de Weimar, um experimento de democracia que perdurou entre 1919 e 1933.


A sociedade alemã alimentava o antissemitismo e acumulava queixas de problemas socioeconômicos. Não fossem essas configurações, garante Borstel, Hitler dificilmente teria chegado ao poder. Apesar de acreditar que não exista outro líder extremista de direita a caminho, ele admite a existência de um instigante terreno fértil para ações políticas na Alemanha. “Pesquisas da Universidade de Bielefeld constatam que 10% dos alemães têm tendências antissemitas e de extrema direita.”

Sedução Richard Breitman, historiador da American University (em Washington) e coautor de Hitler´s shadow: Nazi war criminals (na tradução, A sombra de Hitler: criminosos de guerra nazistas), explica que o Führer transformou o nacionalismo em chauvinismo. “O antissemitismo tornou-se uma crença de que os judeus representavam um inimigo demoníaco, uma ameaça terrível.” De acordo com ele, alguns alemães foram seduzidos pela habilidade de Hitler em tornar o país próspero. “Os talentos de Hitler foram essenciais para o sucesso do nazismo, como a retórica hábil, a astúcia política, a força de vontade e a determinação de chegar ao máximo”, afirma Breitman.


(foto: Hitler permaneceu no poder 12 anos até cometer suicício)
(foto: Hitler permaneceu no poder 12 anos até cometer suicício)
“Hitler deixou um legado negativo: destruiu o nacionalismo alemão e tornou o país temeroso de exercer o poder político”, diz o britânico Richard J. Evans, historiador da Universidade de Cambridge. Ele lembra que os nazistas jamais ganharam mais do que 37,4% dos votos numa eleição livre. A ideologia ultradireitista foi defendida pela SS com o esmagamento da oposição. “Os nazistas prenderam e mataram seus adversários remanescentes, em 1933. Cerca de 100 mil deles foram colocados nos campos de concentração e soltos quando prometeram desistir da política”, afirma Evans. Em 1935, 23 mil opositores lotavam as prisões, acusados de traição. “A maioria dos alemães provavelmente aprovou a política externa de Hitler, enquanto trouxe ganhos para a Alemanha, sem banho de sangue, e avalizaram a conquista da França, em 1940. A desilusão surgiu após a invasão da União Soviética, em 1941.” Ao fim da Segunda Guerra e ante as proporções do Holocausto, essa desilusão se tornou vergonha, culpa e urgência em reparar o passado.

 

 

Batalha de Stalingrado

A cidade de Volgogrado readotou seu antigo nome de Stalingrado por algumas horas ontem, enquanto a Rússia comemorava o 70º aniversário da batalha que mudou os rumos da Segunda Guerra Mundial. A vitória na Batalha de Stalingrado, que durou seis meses e causou a morte de cerca de 2 milhões de pessoas, é símbolo de orgulho nacional, que produziu surtos de sentimento patriótico e, em alguns momentos, nostalgia em relação à era soviética e ao ditador Josef Stalin. O presidente russo Vladimir Putin voou para Volgogrado, conhecida como Stalingrado de 1925 a 1961, para levar uma coroa de flores e se encontrar com veteranos depois de uma parada militar liderada por soldados em uniformes da Segunda Guerra Mundial e com a presença de um tanque T-34, da época do conflito. Depois da batalha de Stalingrado, tropas soviéticas avançaram a oeste em direção a Berlim, tomando a capital alemã 27 meses depois. 


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