A primeira cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) e União Europeia (UE) encerrou seus trabalhos neste domingo, no Chile, com um acordo para impulsionar o comércio bilateral, mas ensombrecida pela tragédia em uma boate do Rio Grande do Sul, que deixou ao menos 232 mortos e causou a partida antecipada da presidente Dilma Rousseff.
"É uma tragédia para todos nós. Não posso continuar na cúpula, porque minha prioridade, neste momento, é estar com o povo brasileiro", afirmou Dilma.
Os países latino-americanos e europeus transmitiram suas condolências ao governo brasileiro.
Ao encerrar a cúpula Celac-UE, o presidente chileno, Sebastián Piñera, pediu uma união de forças para um futuro promissor de intercâmbios entre os dois continentes.
A cúpula, sétimo encontro entre as regiões desde 1999, reuniu por dois dias representantes de 60 países, e foi marcada pela pior crise da UE desde a sua fundação, que já dura cinco anos.
Segundo Piñera, "a nova aliança estratégica" entre a Celac e a UE não beneficia apenas um dos lados. "Se metade do mundo está em recessão, a outra parte não poderá dar os passos para o seu desenvolvimento", disse.
"Unir forças" foi um dos motivos da convocação desta cúpula, assinalou Piñera, mostrando-se otimista em relação à superação da crise pela Europa.
Piñera também pediu aos líderes que se levantassem para fazer um minuto de silêncio em memória das vítimas no Brasil.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, por sua vez, destacou que a Declaração de Santiago estabelece tanto "a segurança jurídica, importante para os investidores, quanto a qualidade dos investimentos, importante para os receptores", ao citar um dos pontos polêmicos, após as expropriações realizadas nos últimos anos pelos governos da Argentina, Bolívia e Venezuela.
"A América Latina é um parceiro econômico-chave para a União Europeia. Precisamos de mais e melhor comércio, e evitar o protecionismo", assinalou o presidente do Conselho Europeu, Herman van Rompuy.
Já Barroso reafirmou a importância do combate ao narcotráfico, e destacou que "30% da cooperação europeia na região se destinam à luta contra o tráfico de drogas". "Nós nos comprometemos a manter a cooperação, para enfrentar esta ameaça", garantiu.
"Não há nenhum continente mais próximo da Europa em valores do que a América Latina", afirmou Barroso, assinalando que "estas são as duas regiões do mundo onde existe mais democracia".
A decisão de fortalecer a relação entre a Celac e a UE acontece no momento em que a Europa, maior bloco econômico do planeta, sofre a pior crise de sua história e a América Latina, ao contrário, passa por um grande momento, com taxas de crescimento sustentáveis médias de 4,5% nos últimos dois anos.
Neste sentido, a Europa mostrou um forte interesse pelo impulso que evidenciam as economias de Colômbia, Chile, Peru e México, os quatro países da Aliança do Pacífico criada em 2012, por suas políticas de livre mercado.
O chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy, expressou o desejo de seu país de se somar a este grupo, do qual, atualmente, é apenas observador.
A cúpula Celac-UE também refletiu o interesse europeu em dar um novo impulso às negociações de um tratado de livre-comércio com o Mercosul, e resgatar relações que enfrentam dificuldades.
"Seria bom contar com um acordo de livre-comércio UE-Mercosul. Os sócios não deveriam ter medo de que um possa ser melhor do que o outro, porque, apenas juntos, podemos melhorar", afirmou ontem a chanceler alemã, Angela Merkel.