(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Ideologia bolivariana pregada pelo governo Hugo Chávez deixa população dividida

População tem sentimento contraditório em relação à ideologia bolivariana pregada pelo governo Hugo Chávez. Projetos assistencialistas são os mais elogiados e os mais criticados


postado em 13/01/2013 10:30 / atualizado em 13/01/2013 11:05

Brasília – Thaís del Valle Rivas, de 44 anos, deve muito ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Moradora de Carvajal, no departamento (estado) de Trujillo, a 600 quilômetros de Caracas, a técnica em construção civil foi beneficiada por um dos muitos programas sociais que se tornaram pilares da Revolução Bolivariana e moldaram a implantação do “socialismo do século 21”. “Graças às políticas promulgadas para a aquisição de moradias, hoje tenho uma casa própria”, celebra, em entrevista ao Estado de Minas, pela internet.


“Foi o governo que me brindou com esse subsídio”, acrescenta. Desde a implantação da Grande Missão Moradia Venezuela, em abril de 2011, mais de 346 mil casas foram distribuídas para a população carente. Até 2019, a intenção do governo é construir 3 milhões de residências – 300 mil nos próximos quatro anos. “Graças às missões impulsionadas por Chávez, nosso povo despertou e avançou”, comenta Thaís, que cita a redução da pobreza, da marginalidade, do desemprego e do analfabetismo.


Os três filhos de Jesús Garcia, de 44, recebem bolsas da Grande Missão Filhos e Filhas da Venezuela. “Tudo o que eles precisam fazer é estar estudando e ter menos de 15 anos”, explica à reportagem o capataz da estatal petroleira PDVSA, que vive na cidade de Punto Fijo, no departamento de Falcón, extremo Norte venezuelano. Funcionário do governo, ele não esconde a gratidão para com o presidente. “Chávez é o melhor que pôde ocorrer no mundo: exemplo de nobreza, de valor e de amor ao povo. Ele mudou nossas vidas”, comenta. “Agora, temos um sistema de democratização do emprego para a indústria petroleira e saúde gratuita para todos, com a Grande Missão Bairro Adentro.”


O desemprego atinge 6,4% dos venezuelanos – no Brasil, o índice chega a 5,6%. A pobreza despencou de 49%, em 1998, para ainda impressionantes 26,7%, no ano passado. O analfabetismo foi erradicado em 2005. Na ânsia de oferecer qualidade de vida à população, as missões bolivarianas escondem um lado polêmico. “Elas tornam as pessoas mais pobres do que podem ser. O que fazem é meter na sua cabeça uma ideia de ‘socialismo’ que nem mesmo o presidente pratica”, desabafa Gabriela Duran, de 21, estudante de Ciudad Maracay, no departamento de Aragua, na costa do mar do Caribe. “Chávez encheu meu país de sangue, miséria, delinquência e de ignorantes.” Ela acusa o governo de recompensar, com geladeira, dinheiro e casas, as pessoas que forem às ruas a seu favor.


O cerceamento dos direitos civis é motivo de preocupação. “Por aqui, não existe liberdade. Se temos opiniões diferentes, podemos ir presos. Tudo é corrupção”, diz Gabriela. As imagens de Chávez se espalham pelas cidades e as redes de tevê estatais insistem em exaltar o presidente. Há exato um ano, em 13 de janeiro de 2012, o líder bolivariano fez o mais longo discurso desde a ascensão ao Palácio de Miraflores: foram 10 horas de pronunciamento.


Apesar de tanta idolatria nas ruas e na mídia, a economista e advogada Sonia Cesin, moradora de Caracas, não vê motivos para celebrar o legado chavista. “Durante o governo de Chávez, houve um aumento descomunal na delinquência. É impressionante como você pode se ver preso em meio a um tiroteio ou se tornar vítima de assalto, aqui na capital”, comenta. Caracas registra média de 98,5 assassinatos para cada 100 mil habitantes – em 2012, foram cerca de 3,5 mil crimes. Questionada sobre o que mudou em sua vida na era Chávez, Sonia tem a resposta pronta. “Mudei de status: antes, eu pertencia à classe média, agora sou da classe média baixa, sem presidente e com a Constituição violada.”


Ela conta que foi demitida de uma companhia telefônica, depois de o governo declarar a estatização da empresa. “As pessoas veem em Chávez um pai porque recebem uma bolsa mensal de comida, além de 300 bolívares fortes (R$ 142)”, diz.
“A Grande Missão Moradia Venezuela é muito boa, mas a qualidade das casas é tão ruim que até as paredes têm caído”, critica. A economista acredita que Chávez tinha tudo para fazer um bom governo mas desperdiçou a chance. Enquanto luta pela saúde, em Cuba, o presidente segue despertando ódio e idolatria em seu país.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)