Investigadores franceses do desastre do voo 447 da Air France, que caiu em 2009 no Oceano Atlântico na rota do Rio de Janeiro a Paris, recomendaram às autoridades de segurança que reexaminem o treinamento dos pilotos. A recomendação está no relatório sobre os momentos finais do Airbus 330, o qual apontou que uma série de falhas humanas e técnicas influíram no desastre. O relatório afirmou que houve falha nos sensores de velocidade da aeronave, os pilotos não se comunicaram direito e ignoraram o alarme que alertou de que havia perda de sustentação do avião. O acidente matou as 228 pessoas a bordo.
O relatório levou o Escritório de Investigações e Análises (BEA) a emitir dez novas recomendações de segurança. Essas incluem a instalação de um gravador de imagens na cabine dos pilotos que visualize todo o painel de instrumentos e garanta melhor "repartição de tarefas" entre a tripulação. "Após as manobras conduzidas pela tripulação, em condições deterioradas e desestabilizadas de pilotagem, o avião ficou paralisado a uma grande altitude, não pôde ser recuperado e caiu a uma grande velocidade na superfície do Oceano Atlântico", disse a Air France em comunicado. "Deve ser notado que os enganosos sinais do alarme de estabilização da aeronave, que acenderam e apagaram, contradiziam o verdadeiro estado do avião, contribuindo muito para a dificuldade dos tripulantes analisarem a situação", acrescentou. "Neste estágio, não existem motivos para questionar a destreza técnica da tripulação."
A Airbus, fabricante do 330, disse que o relatório é bem-vindo. O relatório "é um passo adiante na direção de uma compreensão total da cadeia de eventos que levaram a esse trágico acidente", disse a empresa, que afirmou que substituiu todos os "tubos de pitot" nos aviões modelos 330 e 340 desde o desastre de 2009.
O BEA disse que os motores funcionavam e sempre responderam aos comandos da tripulação. Durante os últimos minutos, a voz escutada na cabine dos pilotos não enviou nenhuma mensagem de emergência aos passageiros. O BEA recomenda que as empresas aéreas incluam treinamento específico para a pilotagem manual das aeronaves, especialmente sobre como lidar com um colapso do avião em grandes altitudes. "Mesmo que os dois tenham percebido a perda dos indicadores de velocidade, nenhum dos copilotos" lidou adequadamente com a situação, disse o relatório. Aparentemente, eles não perceberam que em uma situação de problema aerodinâmico, o nariz do avião deve ser mantido ligeiramente para baixo para recuperar a sustentação, uma vez que o problema é provocado porque a aeronave está em velocidade muito baixa.
O relatório também afirma que o ângulo vertical do avião, relativo ao horizonte - conhecido como ângulo de ataque -, não estava diretamente mostrado aos pilotos e disse que os reguladores deveriam tornar esse leitor visível aos pilotos.