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Estado de Minas AMAZÔNIA

Cientistas da UFMG explicam origem da crise e risco para floresta

Trabalho de pesquisadores indica que drama do povo Yanomami e pressão atual sobre núcleo florestal tem origem em projeto de ocupação do regime militar


02/04/2023 04:00 - atualizado 02/04/2023 13:16
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Foto aérea mostra garimpo ilegal durante operação do Ibama contra o desmatamento em território Yanomami na Amazônia
Chaga aberta pelo garimpo em território Yanomami na Amazônia: reflexo de incentivo à migração iniciado na década de 1970 (foto: ALAN CHAVES / AFP - 25/2/23 )

 

A ocupação desordenada da Amazônia nos anos 1970 legou à região a cultura da exploração predatória até o esgotamento dos recursos naturais. Às populações imigrantes, que chegaram das diversas partes do país em projetos de colonização promovidos pela ditadura militar, restou, após a exaustão da terra, o caminho das periferias das cidades – de urbanização intensa e precária – ou a busca por novas áreas da floresta. De 1975 para cá, 21% da cobertura original da Amazônia Legal já foi devastada. E o ciclo das primeiras ocupações se repete: atração de populações para a exploração da terra à exaustão, prosperidade fugaz e novas migrações inter-regionais, com a terra desmatada incapaz de reter as famílias.

 

É o que demonstram estudos demográficos da mobilidade das populações dentro da Amazônia Legal, promovido pelos pesquisadores José Irineu Rangel Rigotti, Cassio Turra, Renato Hadad e Fernando Fernandes, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, publicado sob o título “A dinâmica demográfica da Amazônia Legal – Migrações” pelo projeto Amazônia 2030.

 

“As áreas hoje desmatadas da Amazônia Legal, que são de colonização mais antiga, tiveram nos processos migratórios inter-regionais, entre 1986 e 1991, o segundo maior ganho de população da Amazônia Legal. Mas essa tendência se inverte nos quinquênios seguintes”, afirma José Irineu Rangel Rigotti, professor do Departamento de Demografia da UFMG e pesquisador dos processos demográficos do Brasil e Amazônia Legal. “A região desmatada completa décadas de perdas populacionais, ainda que seja imensa e diversificada, com alguns dos polos regionais mais importantes e atrativos da Amazônia Legal”, acrescenta.

 

Essa área degradada enfrentou migrações também para a área de floresta vizinha, sobre a qual transborda, neste momento, a maior pressão de grilagem, extração de madeira ilegal e garimpo entre as quatro regiões da Amazônia Legal classificadas em 2007 pelos pesquisadores do instituto de pesquisa Imazon, voltado para o desenvolvimento sustentável da região.

Leia também: 'Cientista da UFMG: "As novas gerações é que vão cuidar da Amazônia"'

 

Por estar ameaçada pela exploração predatória e desmatamento, “Amazônia florestal sob pressão” foi o nome dado a essa faixa pelo Imazon. Uma região que representa 29% do território da Amazônia Legal, com extenso cinturão de 500 mil quilômetros quadrados que ainda preservam 81% da cobertura vegetal.

 

Entre as quatro zonas da Amazônia Legal classificadas pelo Imazon, é a única que ainda mantém ganhos populacionais, com saldo migratório positivo. Mas, a se repetir o que ocorreu com a área já desmatada da floresta antes do esgotamento dos recursos naturais, terá representado uma prosperidade efêmera, que se encerrará ao ritmo da terra arrasada.

 

A floresta também sofre outros tipos de pressão, exercida pela própria expansão da atividade econômica, que traz a necessidade de infraestrutura, como hidrelétricas ou a construção de estradas, grandes vetores de desmatamento, considera José Irineu Rangel Rigotti, que recomenda aprender com o passado para interromper a ocupação predatória que agora ameaça o núcleo da floresta.

 

Ressalvando que os novos dados censitários vão permitir a análise das tendências demográficas e migrações inter-regionais com maior nível de segurança, as dinâmicas de ocupação, contudo, são antigas e conhecidas. “Por conta desse processo de exploração até o esgotamento, há uma pressão muito grande sobre a terra: grilagem, concentração fundiária e a própria expansão do agronegócio”, observa.

 

José Irineu Rigotti assinala que, para deter a ação predatória sobre a floresta, é indispensável proteger a população indígena e as comunidades tradicionais ribeirinhas, que fazem parte de uma Amazônia extensa. Para isso, contudo, é necessária a reestruturação dos órgãos socioambientais que atuam na área, desmantelados nos últimos quatro anos.

 

O investimento essencial está também na melhoria do sistema escolar – ainda precário na Amazônia – e na formação educacional das crianças, aponta o demógrafo. “Serão as novas gerações que vão cuidar da floresta”, completa. Leia a seguir os principais trechos de entrevista concedida por Rigotti ao Estado de Minas. 


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