(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ARTE URBANA

SLU apaga grafite feito em programa de artes plásticas da própria PBH

O artista Comum destaca que não é a primeira vez que grafites, que foram autorizados, são cobertos por tinta cinza. Ele critica a política de apagamento


23/12/2022 20:08 - atualizado 24/12/2022 13:07

Imagem do muro pintado de cinza e do muro com o grafite
No lugar da obra, só há agora um paredão pintado de cinza (foto: Montagem EM/Comum/Divulgação)
Um dos nomes mais promissores da arte urbana de Belo Horizonte, Comum convidou outros seis grafiteiros para pintar a alça do Viaduto Moçambique, na Avenida Antonio Carlos, no Bairro Cachoeirinha. Pintado com cores vivas, o mural com letreiros ficou pronto em 13 de novembro.
 
O trabalho é parte da residência artística da Bolsa Pampulha, programa de fomento das artes visuais mantido pela Fundação Municipal da Cultura, para o qual o artista foi selecionado neste ano. Comum escolheu para o local a frase "Um grafite na parede já defende algum direito".
 
A obra custou cerca de R$ 3 mil e foi autorizada pela Prefeitura de Belo Horizonte. No entanto, qual não foi a surpresa de Comum, ao passar no local na última quinta-feira (22/12). No lugar da obra, só havia um paredão pintado de cinza. Ele ficou surpreso ao saber que o painel foi apagado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), vinculada também à PBH. 
  
"A solução apresentada pela prefeitura é muito antiga e antiquada. A postura gralmente é de um apagamento completo com tinta cinza, obedecendo a critérios da própria Superintendência de Limpeza Urbana, que são muito questionáveis", diz. 

Comum pontua que é necessário um debate sobre como a arte urbana é tratada na capital, uma vez que muitas vezes é guiada pelo "higienismo" "Entendo que a poluição visual é um problema do gestor público", diz. No entanto, o artista sublinha que a política de lidar com a questão é punitivista. Ele critica como os grafites costumam ser sistematicamente apagados, e muitas vezes os grafiteiros também são punidos.
 
Comum afirma que também não é possível compreender os critérios empregados para decidir quais os grafites serão apagagados, uma vez que há uma seletividade para apagar determinados e não outros. "Eu já vi uma ordem de serviço deles. É um documento com uma foto, onde eles literalmente escolhem o que vai ser apagado", diz.
 
O artista questiona, no entanto, que o profissional que fica responsável por decidir o que deve ser apagado não tem competência artística para fazê-lo. "Então, é uma política antiquada que já gerou problemas em outras ocasiões e continua gerando. Talvez este caso seja um pouco mais emblemático, porque é um projeto da prefeitura, foi bancado com o projeto da prefeitura", completa.  

Intervenção Urbana

Como parte de sua obra para o Bolsa Pampulha, Comum propôs a realização de três intervenções pela cidade. São as chamadas “sopas de letras”, onde artistas do grafite escrevem seus nomes lado a lado, criando grandes mosaicos de estilos. Mas, na intervenção, em vez de escreverem seus nomes, os artistas foram convidados a escrever trechos de frases.
 
Ao todo, Comum planejou três frases, derivadas de “Um grafite na parede já defende algum direito”, verso originalmente escrito pelo rapper Helião, do grupo de rap paulista RZO. Comum ressalta que a escolha da frase marca a luta por direitos no grafite e no Hip Hop em geral, além de integrar novamente os elementos do rap e do graffiti em sua produção.
 
“Estas frases, numa sopa de letras, adquirem sentido metalinguístico e reivindicam, em ato, o espaço e a liberdade de expressão, valores caros à prática do grafite, aqui entendidos como um direito”, acrescenta.

Posicionamento da PBH

Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte esclarece que realiza rotineiramente a limpeza dos viadutos da capital. "Como a SLU não foi comunicada sobre essa arte, o grafite foi apagado pelos garis, que desconheciam a permissão concedida." E completa: "O município lamenta o ocorrido e ressalta que irá reforçar o fluxo de trabalho entre as equipes para que situações semelhantes não aconteçam novamente".

A PBH ainda informou que, em janeiro, a presidente da Fundação Municipal de Cultura, Luciana Féres, vai se reunir com o artista Comum para encontrar estratégias que viabilizem nova execução da obra apagada. Vale reforçar que todas as intervenções do Bolsa Pampulha em espaços públicos foram autorizadas pelos órgãos públicos responsáveis. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)