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Estado de Minas REAJUSTE

Motoristas em Minas Gerais criticam reajuste de preços dos combustíveis

Muitos consumidores alfinetam Governo e Petrobras por conta do reajuste dos preços; caminhoneiros falam a respeito de possibilidade de greve


17/06/2022 17:24 - atualizado 17/06/2022 18:19

Márcio Eduardo
Caminhoneiro Márcio Eduardo não descarta greve, caso não haja diminuição de preços dos combustíveis (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O novo reajuste dos preços do diesel e da gasolina vendidos às distribuidoras, anunciados pela Petrobras nesta sexta-feira (17/6), não agradou consumidores de Belo Horizonte e Região Metropolitana (confira depoimentos mais abaixo). O novo valor entrará em vigor amanhã (18/6): preços vão a, respectivamente, 14,25% e 5,18%. 

Na prática, o preço médio de venda do óleo diesel da estatal para as distribuidoras passará de R$ 4,91 a R$ 5,61, por litro. Enquanto o da gasolina dará um pulo de R$ 3,86 para a R$ 4,06 o litro.

No mês passado, a Petrobras reajustou o valor do diesel em 8,86% e afirmou haver mais de 60 dias que não aumentava o preço.  A empresa informou que os novos valores foram necessários para não acarretar o aumento da importação deste combustível, o que traria prejuízos para a companhia e uma possível escassez do diesel no país.

‘Não será possível trabalhar’


O caminhoneiro Márcio Eduardo, 46, já estava ciente do reajuste decretado pela Petrobras. “Isso não está certo. Nós recebemos em real, e essa paridade com o dólar prejudica não só os caminhoneiros como também o consumidor comum. Afinal, os preços do supermercado também estão altos, o que afeta todo mundo”, disse.

A insatisfação não parou por aí. “Nosso petróleo é grosso, então vendemos para o exterior e o compramos fino para refinar aqui no Brasil. Então, vendemos por um certo valor e o compramos novamente, por um preço mais alto. Quem mais sai prejudicado é o consumidor final, pois esses valores são repassados para outros setores”, afirmou. 

Proprietário de um caminhão, Eduardo explica que, se não fosse agregado a outras empresas, o valor dificultaria a continuidade de seu trabalho. “Se o conjunto todo fosse meu, infelizmente teria que repassar esse valor. Há cinco meses eu conseguia fazer meu trajeto de ida por R$ 900, e hoje são necessários R$ 1200, ou seja, R$ 300 a mais. Colocando esse valor também na volta, o acréscimo é de R$ 600, isso é muito complicado, pois o valor do frete não aumentou. Afeta a vida de toda a minha família”, ressaltou.

Ainda segundo ele, se a situação perdurar, não terá como manter o trabalho. “Chegará um momento em que teremos que parar. E, às vezes, isso não significa que vamos deixar o caminhão na estrada ou congestioná-la, mas, sim, deixar o veículo em casa. As transportadoras não darão conta, pois, se precisar, vamos para as portas delas e não deixaremos ninguém sair. Eu não quero parar, nem meus amigos. Nós queremos trabalhar e ‘fazer o nosso’ com honestidade, não só por parte dos caminhoneiros, mas da política também. Queremos trabalhar com dignidade”, enfatizou. 

‘Não tem como abastecer em qualquer posto’


Já o caminhoneiro Otavio Luiz Eliodoro da Silva, 36, foi surpreendido com os novos valores. “Passei no posto para saber o valor do diesel e encher o tanque só para terminar a viagem. Estamos dando preferência para colocar o combustível na garagem, pois não tem como abastecer em qualquer posto”, disse, atônito.

Otávio também se posicionou a respeito de uma hipotética paralisação dos caminhoneiros. “Estamos sofrendo muito, porque os valores sempre estão aumentando, e a solução deveria ser política, porque chegará um momento em que os caminhoneiros vão parar. É delicado, pois minha família depende do meu trabalho”, afirmou. 

Por sua vez, o motorista Winston Figueiró Alves, 52, afirmou o Governo Estadual deveria entrar em acordo com o Governo Federal, para diminuir os impostos dos combustíveis. “O alto valor do diesel é uma crise mundial, assim como a gasolina. Essa é uma herança do passado, por que não criamos mais refinarias?”, questionou. 

Preocupação para o consumidor 


Gustavo Carvalho, 42, autônomo, trocou recentemente o carro, que agora é movido à diesel, e, ao contrário de Winston, acredita que a questão tende a piorar.  “São abusivos os valores, quem mais sofre é a população. Moro fora de BH e preciso estar na cidade todos os dias, então é mais complicado para mim essa questão do deslocamento. A tendência não é melhorar, mas sempre piorar”, disse. 

Gustavo Carvalho
O autônomo Gustavo Carvalho classifica como abusivo o aumento dos preços dos combustíveis (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Para o engenheiro civil Marcelo Porto Lima Costa, 26, o jeito é usar aplicativos dos postos de gasolinas, a fim de conseguir descontos. “Eu preciso do meu carro todos os dias, pois necessito visitar obras. Não tem muita alternativa e vou acabar absorvendo esse aumento. Além disso, como moro em Nova Lima e trabalho em BH, a alternativa é o carro ou o transporte público. Por questão de comodidade, o automóvel é a melhor solução”, contou. 

Privatização?


O também engenheiro Marcos Machado, 49, acredita que a solução para combater os altos valores seria privatizar a Petrobras. “Deveríamos ter mais concorrência. A Petrobras é uma empresa estatal e, ao mesmo tempo, privada, um esquema misto de empresa. Por isso, penso que ela deveria ser privatizada, para poder aumentar a competição no mercado”, afirmou. 

Outra solução, segundo Machado, seria vender as refinarias, além de trazer maiores investimentos para que novas pudessem ser criadas. “O Estado não é feito para cuidar do petróleo e das empresas de energia elétrica. Essas empresas devem ser vendidas para trazer mais concorrência e eficiência para a população. O grande problema é que temos o monstro Petrobras na mão do Estado”, completou. 

Política pública


Ênio César Gonçalves Pimenta, 48, advogado, classificou como "vergonhosa" a política pública brasileira de combustíveis. “Nós temos recursos energéticos, reservas, mas não temos refinarias autossuficientes, apesar de haver condições para produzir a quantidade necessária de combustíveis, que nos permitiria ficar livres da indexação do dólar”, contou. 


Já a personal trainer Walquiria Aparecida Gonçalves Andrade, 23, disse que pagar pelo preço atual da gasolina já está muito difícil para ela. “Os valores só aumentam, nunca diminuem. Eu e meu noivo dependemos do carro para ir até nossos alunos. Então, com o novo reajuste, nossa condição ficará ruim”, afirmou.

Para ela, abastecer com etanol, que reduziu o valor neste mês, não é uma opção. “O álcool não compensa no meu caso, pois meu carro demora a esquentar e consome o etanol mais rápido. Para mim, a única alternativa, infelizmente, é a gasolina”, contou. 

E os postos?


O gerente do Posto Mutuca, em Nova Lima, Alexandre Bossi Grassi Ferreira, 27, destacou que o reajuste ainda não foi feito no local. “Geralmente, quando a Petrobras anuncia o reajuste, o valor é cobrado no dia seguinte. Então, o pedido feito hoje já virá com o novo valor anunciado.  A partir disso, depende do posto quando esse custo será repassado”, explicou. 

Segundo Ferreira, o primeiro impacto dos reajustes no combustível está relacionado ao aumento das vendas a prazo. “Se você revende a prazo, é necessário ter capital de giro, porque é preciso investir mais dinheiro, já que o seu produto fica mais caro. Então, quanto mais alto o preço, pior é, já que é preciso realocar recursos. Já para o consumidor também é ruim, pois a despesa aumenta. Observo a situação de forma negativa”, afirmou.

Além disso, o empresário explica não haver muitas saídas. “Como precisamos do combustível, muitos consumidores não têm muita escolha e, por isso, muitas vezes, eles solicitam prazos maiores de pagamento. Outros, em vez de pagar com débito, pagam com cartão de crédito. Nossas vendas com o crédito aumentou muitos nos últimos meses e, como muitos dependem do carro ou caminhão, não tem para onde correr”, disse.

* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata


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