Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Vereador chama médica para defender tratamento precoce e prefeitura repudia

A prefeitura de Itaúna emitiu nota de repúdio contra a declaração da médica hematologista Cláudia Solmucci, feita na noite dessa terça-feira (15), durante live da Câmara de Vereadores, comparando a eficácia das vacinas com o 'tratamento precoce', que não tem comprovação científica.



O infectologista Unaí Tupinambás, que tem familiares em Itaúna, também criticou veementemente a fala da médica.

Cláudia Solmucci, defensora do tratamento precoce – que não tem comprovação científica – disse, entre outras coisas, que as vacinas teriam menos evidências de eficiência no combate à doença do que os medicamentos do chamado “Kit Covid” (que inclui, entre outros medicamentos, cloroquina, azitromicina, ivermectina e vitaminas). Ela fez questão de criticar a politização da pandemia.

"Não somos contra as vacinas, mas as vacinas têm muito menos evidências do que os medicamentos que nós estamos defendendo", disse a médica.

O presidente da Câmara, Alexandre Campos (DEM), que antes da fala de Solmucci disse que a presença da médica seria para apresentar aos vereadores e à população um outro ponto de vista sobre a questão e que não caberia à Câmara ter uma posição sobre isso, chegou a dizer que ficou preocupado com a fala da hematologista sobre vacinas e remédios do tratamento precoce, que não tem comprovação científica e pode complicar o quadro do paciente, levando até à morte.

"A Prefeitura de Itaúna repudia veementemente a grave declaração da médica hematologista dra. Cláudia de Bessa Solmucci (CRM-MG: 20.385), proferida em reunião da Câmara Municipal de Itaúna em 15 de junho de 2021. Ao afirmar que medicamentos de tratamento defendido pela profissional têm mais eficácia do que vacinas no enfrentamento à Covid-19, a mesma promove desinformação delicada, fazendo com que sua fake news coloque mais vidas em risco”, afirma a prefeitura na nota de repúdio.



“Nações que valorizaram a importância da vacina e aplicaram de forma massiva o imunizante, já possuem grandes avanços no cotidiano de seus habitantes bem como uma redução drástica no contágio e da gravidade da doença”, continua a nota de repúdio da prefeitura de Itaúna, antes de destacar que o "tratamento precoce carece de comprovação científica", continua o texto da nota (confira a íntegra abaixo).
 
O médico infectologista Unaí Tupinambás, que tem familiares em Itaúna e conhece bem a situação da pandemia na cidade, lamentou a declaração da médica.

"É lamentável essa postura da Câmara Municipal de Itaúna chamando essa médica pra falar de um tratamento que há muitos meses não é indicado pelo FDA, CDC, OMS e várias sociedades especialistas em infectologia aqui no Brasil. Isso está fazendo muito mal para o Brasil, está fazendo muito mal para a pandemia", lamentou o infectologista.

"Esse negacionismo, essa estupidez tem que ter um basta. A categoria médica não tem direito de ter essa ignorância. Essa postura dessa médica é completamente inadequada. Enquanto a gente insistir nessa linha de tratamento precoce, a pandemia não vai ser controlada, vai ser mais difícil controlar essa pandemia", explicou o infectologista.




 

Pressão dos conservadores

A ida da médica Cláudia Solmucci à Câmara Municipal aconteceu atendendo à pressão de bolsonaristas da cidade para que a prefeitura implante nos postos de saúde de Itaúna o tratamento precoce e a distribuição do 'Kit Covid' para a população.

O vereador que convidou a hematologista, Ener Batista (PSL), disse estar atendendo a uma solicitação dos Conservadores Cristãos de Itaúna.

O grupo tem páginas nas redes sociais e presença massiva nos grupos de WhatsApp da cidade, pelo qual apresentam diversos argumentos – a maioria já desmentidos como fake news – defendendo, entre outras coisas, o tratamento precoce.

O movimento também é um dos apoiadores e divulgadores de uma clínica da cidade, mantida por empresários, que oferece tratamento precoce, chamado por eles de tratamento imediato, para os pacientes que os procuram.
 

Mais mortes por 100 mil habitantes do que BH

O infectologista Unaí Tupinambás também comentou, em entrevista ao Estado de Minas, sobre a pandemia na cidade.



"Em Itaúna, a situação está muito grave. Uma cidade que tem mais de 210 mortes. Na proporção por 100 mil habitantes, morreu mais gente em Itaúna do que em Belo Horizonte, proporcionalmente. Esse tratamento precoce induz as pessoas a ter um comportamento mais de risco. A gente sabe que está acontecendo isso. As pessoas têm os sintomas e os donos das empresas dão esses remédios para essas pessoas e mandam voltar ao trabalho, disseminando o vírus para seus colegas, para suas famílias, para a comunidade como um todo. É muito triste isso, pois, além de não funcionar, tem comprovação de que ele ainda piora, aumenta a mortalidade, aumenta a incursão do paciente no CTI".
 
A média em Belo Horizonte é de 200 mortes por 100 mil habitantes. Em Itaúna, que tem 93 mil habitantes, já são 236 mortes de acordo com o boletim desta quarta-feira, (16), causadas pela COVID-19, ou seja, uma média de 253 mortes por 100 mil habitantes.
 
 

Nota de repúdio

"A Prefeitura de Itaúna repudia veementemente a grave declaração da médica hematologista Dra. Cláudia de Bessa Solmucci (CRM-MG: 20.385), proferida em reunião da Câmara Municipal de Itaúna em 15 de junho de 2021. Ao afirmar que medicamentos de tratamento defendido pela profissional tem mais eficácia do que vacinas no enfrentamento a Covid-19, a mesma promove desinformação delicada, fazendo com que sua fake news coloque mais vidas em risco. Nações que valorizaram a importância da vacina e aplicaram de forma massiva o imunizante, já possuem grandes avanços no cotidiano de seus habitantes bem como uma redução drástica no contágio e da gravidade da doença.



Tratamento sem comprovação científica
A Prefeitura está do lado da ciência. É um tema já pacificado em todo mundo e lamentamos que ele ainda esteja em voga no Brasil e em Itaúna por consequência. A Administração ressalta que não irá adotar o dito "tratamento" como política pública devido sua não comprovação científica. Além do potencial perigo de acarretar problemas à saúde, ao gestor pode ser imputado crime de responsabilidade. Pedimos à população que continue usando o único kit que é realmente eficaz: máscara, higiene constante, distanciamento e consciência. Esperamos também do governo federal uma postura mais eficaz na compra e distribuição do imunizante."
 
 

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