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Estado de Minas TERCEIRA ONDA

COVID-19: estamos prontos para a 3ª onda? Veja o que dizem especialistas

Saiba o que está sendo feito para evitar falta de leitos, remédios e oxigênio se houver repique da COVID-19. Conjuntura torna risco real, dizem especialistas


22/05/2021 04:00 - atualizado 22/05/2021 07:28

Tanque de armazenamento de oxigênio na Grande BH: após sufoco enfrentado nos meses de março e abril, garantir o fornecimento do insumo é uma das preocupações de gestores hospitalares (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 15/1/21)
Tanque de armazenamento de oxigênio na Grande BH: após sufoco enfrentado nos meses de março e abril, garantir o fornecimento do insumo é uma das preocupações de gestores hospitalares (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 15/1/21)
O país mal se recupera da segunda onda da COVID-19 e especialistas já tentam observar o horizonte em busca de sinais que indiquem uma terceira e torcendo para que ela não seja um tsunami que bata na costa brasileira com força arrasadora entre junho ou julho. Enquanto isso, o tempo é de aprender com as tormentas anteriores e se preparar para uma nova, caso chegue.

Com essa perspectiva, a equipe do Estado de Minas ouviu infectologistas e secretarias de Saúde, além de outros médicos, para saber quais as previsões e preparativos para eventual nova disparada da pandemia.


Embora as situações variem muito entre cidades, é possível observar uma tendência: enquanto a demanda de pacientes experimenta recuo – embora siga altíssima –, gestores tentam aproveitar o alívio para evitar o fechamento de leitos, buscam fazer estoques do chamado kit intubação, mas enfrentam dificuldade para isso, e procuram soluções que afastem seus hospitais do pesadelo da falta de oxigênio.

No entanto, o potencial para ampliação de vagas, especialmente de UTI, parece ter chegado perigosamente perto do limite – por capacidade física, e, principalmente, por falta de pessoal especializado. Paralelamente, a incerteza sobre a intensidade de possível nova alta de casos preocupa todos e o surgimento de novas variantes do coronavírus, em cenário de vacinação lenta, tira o sono de autoridades sanitárias.

Nesse ambiente, há quem alerte: as condições para outro repique de contágios continuam presentes, o sistema hospitalar segue próximo ao esgotamento, a queda do isolamento é uma ameaça visível em todas as ruas e a probabilidade de um colapso tão grave quanto em março e abril é real. E, para esse extremo, ninguém está, verdadeiramente, preparado.

Risco de repetição do colapso na saúde

Carlos Starling, infectologista: ''Se mantivermos a atual velocidade de vacinação e a flexibilização da mobilidade social, com certeza essa terceira onda vai acontecer. E, muito provavelmente, antes do que se imagina'' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 11/9/20)
Carlos Starling, infectologista: ''Se mantivermos a atual velocidade de vacinação e a flexibilização da mobilidade social, com certeza essa terceira onda vai acontecer. E, muito provavelmente, antes do que se imagina'' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 11/9/20)

Redes pública e particular de saúde em Belo Horizonte apostam que a capacidade já instalada para atender à segunda onda da COVID-19 dê conta da demanda de uma eventual terceira aceleração. No entanto, uma combinação de fatores faz com que não se tenha a dimensão exata do que pode estar por vir, tornando impossível avaliar se a estrutura é realmente suficiente.

O infectologista Carlos Starling, que integra o Comitê de Enfrentamento à COVID-19 da Prefeitura de Belo Horizonte, alerta que essa nova onda pode encontrar a sociedade desprevenida. “Se continuarmos com a atual velocidade de vacinação e com a flexibilização da mobilidade social, com certeza essa terceira onda vai acontecer. E, muito provavelmente, mais cedo do que as pessoas imaginam.”
Em Belo Horizonte, a taxa de transmissão do coronavírus está em torno de 1, e a ocupação de leitos se estabilizou em torno de 75%. A margem de manobra, portanto, não é grande. “Qualquer aumento pode levar a um novo colapso no sistema de saúde, tanto público quanto privado. O que vimos na segunda onda pode se repetir na terceira. As condições estruturais não mudaram. Continuamos com quantidade enorme de pessoas suscetíveis e com as variantes virais mais transmissíveis, a P1 e a P2.”

Ele lembra ainda da chegada de uma terceira variante, a indiana. “Estamos vendo o que ela vem causando na Índia. Nossas condições estruturais não mudaram”, diz. O especialista avalia que, se não houver uma mudança na postura de gestão da pandemia em nível federal, o Brasil terá não apenas a terceira, mas quarta, quinta ondas sem conseguir controlar a doença.

“O cenário que vimos em março e abril, quando tivemos problemas de falta de medicamento para intubação, algumas cidades sem oxigênio, ainda pode se repetir no Brasil”, alerta o infectologista Unaí Tupinambás, que também integra o comitê de especialistas para enfrentamento à COVID-19 na capital.

A taxa de incidência no Brasil ainda está muito alta, com algo em torno de 60 mil casos diários. Soma-se a isso a flexibilização que teve início no fim de abril e a circulação de variantes mais infectantes. “A população está cansada, estressada. Esse cansaço pandêmico e a falta de política nacional orientando o isolamento social e o distanciamento físico, somados à lentidão da vacinação, são ingredientes que nos deixam preocupados.”

BH em “alerta de tsunami” 

Unaí Tupinambás, infectologista: ''O cenário que vimos em março e abril, quando tivemos problemas de falta de medicamento para intubação e algumas cidades sem oxigênio, ainda pode se repetir no Brasil''(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 5/6/20 )
Unaí Tupinambás, infectologista: ''O cenário que vimos em março e abril, quando tivemos problemas de falta de medicamento para intubação e algumas cidades sem oxigênio, ainda pode se repetir no Brasil'' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 5/6/20 )

Os infectologistas do comitê que assessora o prefeito Alexandre Kalil (PSD) dizem que Belo Horizonte está preparada para a terceira onda da COVID-19, desde que ela não seja um tsunami.

“A capital está preparada para essa provável onda, mas torcendo para que não aconteça. Várias cidades no interior do Brasil estão com alerta amarelo quanto à questão dos insumos. Essas cenas tristes podem se repetir caso se concretize recrudescimento de casos no outono e inverno no Brasil”, alerta Unaí Tupinambás. “A terceira onda, que tem probabilidade muito grande de acontecer, é tão grave quanto foi a de abril.”

E, se for assim, acredita, ninguém está totalmente preparado. “Não há capacidade de montar leitos de UTI indefinidamente. Não é tão elástico assim. O mais fácil é comprar um leito e um respirador, mas temos que ter equipe para cuidar daquele paciente. Não é a melhor saída investir na ampliação de leitos hospitalares, porque dessa forma isso não vai ter fim”, afirma.

Unaí defende que, em vez da abertura de leitos, a prevenção é a melhor medida a ser tomada. “Não tem nenhum sistema de saúde, de fato, preparado para uma grande catástrofe como ocorreu em março e abril.”

Carlos Starling ratifica a avaliação de Unaí, mas considera que o sistema de saúde evoluiu. “A rede hospitalar passou por estresse muito grande. Mas, ao longo desse período, aprendemos a estratégia de alocação de leitos para COVID-19, o treinamento das equipes melhorou muito.” Porém, ele alerta que pode não ser o bastante: “O que nos deixa preocupados é a falta de oxigênio e do kit intubação. O processo de produção tem que ser acelerado. O momento de fortalecer os estoques é agora, quando o sistema não está em colapso.”

Monitoramento para tentar suprir demanda 

A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) abriu chamamento para o preenchimento de vagas emergenciais e temporárias para médicos que atuarão em leitos destinados a pacientes com sintomas de COVID-19. Estão abertos seis postos para o Hospital Regional João Penido, em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e outros 10 para o Hospital Júlia Kubitschek, em Belo Horizonte.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais informou que vem investindo na abertura e ampliação de leitos clínicos, de suporte ventilatório e de UTI em todo o estado desde o começo da crise sanitária. Em fevereiro de 2020, no início da pandemia, o estado contava com 2.072 leitos de UTI, total que foi ampliado para 4.796.

Disse ainda que enviou, no último dia 13, 103.030 unidades de fentanil e cisatracúrio para atender a 116 unidades hospitalares, que se encontram em níveis considerados críticos, em 84 cidades do estado. “Com relação ao oxigênio, a SES-MG informa que a qualificação da distribuição de gases medicinais, por meio da substituição de cilindros por tanques de oxigênio, foi uma das medidas tomadas para evitar a falta desse insumo nas unidades hospitalares.”

Já a Secretaria de Saúde de BH, também em nota, informa que avalia diariamente o cenário para definir a necessidade de abertura de leitos e contratação de profissionais. Acrescenta que monitora diariamente o estoque de sedativos e bloqueadores neuromusculares usados nos hospitais do SUS-BH, UPAs e Serviço de atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Com relação ao oxigênio, informou que o contrato foi aditado em 25% e que está em andamento processo para instalar novos pontos na rede do gás das UPAs, em que o abastecimento ocorre por meio de tanques.

Rede privada 

A rede hospitalar também tenta se preparar para eventual recrudescimento da pandemia. A Unimed-BH informou que foram criados 350 leitos durante a segunda onda da COVID-19, que continuam disponíveis, apesar da ligeira melhora no quadro epidemiológico. A rede inaugurou em abril um pronto-atendimento na unidade da Avenida Pedro I, aumentando a oferta de serviços para o Vetor Norte da capital, além de contratar, no mês passado, 650 profissionais para reforçar a assistência.

Reforços e preparações se repetem em hospitais como o Vera Cruz, no Barro Preto, Centro-Sul de BH. “A possibilidade de uma terceira onda é real, mas esperamos que seja menor do que a segunda, já que mais pessoas estarão vacinadas e já temos muitos que ficaram doentes e possivelmente estão imunizadas”, afirma Rogério Sad, médico intensivista e coordenador do centro de terapia intensiva.

Ele lembra que, desde o início da pandemia, a unidade investe na manutenção de estrutura necessária para atender pacientes com COVID-19.

No entanto, pontua que o CTI tem alta taxa de ocupação. “Como todos os hospitais, tivemos dificuldade de compra de alguns medicamentos e insumos, mas continuamos tentando e comprando, para que quando for necessário não haja falta. Do ponto de vista de recursos humanos, nossos quadros estão quase completos para o número de leitos que temos”, afirma.









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