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Estado de Minas PROFISSÃO

Conheça a história dos pilotos de aeronaves usadas no combate aos incêndios

Mesmo com o alto perigo, profissionais revelam que riscos da atividade compensam quando chamas são extintas


01/01/2021 04:00 - atualizado 01/01/2021 19:49

Capitão Thiago Pereira Miranda, piloto do Corpo de Bombeiros de MG, explica sobre riscos e cuidados no combate a incêndios pelo ar (foto: Arquivo Pessoal)
Capitão Thiago Pereira Miranda, piloto do Corpo de Bombeiros de MG, explica sobre riscos e cuidados no combate a incêndios pelo ar (foto: Arquivo Pessoal)
O ano de 2020 será lembrado para sempre em todo mundo por causa da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), das milhares de vidas perdidas, do isolamento social e das consequências para a economia. Mas, neste ano, o Brasil teve também outro drama, que já vinha de anos anteriores: as queimadas. Até setembro, elas devastaram 30, 67 milhões de hectares, atingindo em cheio o Pantanal e a Amazônia, o que despertou preocupação em todo planeta, afetando a imagem do país lá fora.

A devastação provocada pelos incêndios florestais, no entanto, não foi maior devido ao esforço de homens, que se somam ao trabalho dos brigadistas e se arriscam na tentativa de salvar a natureza. Esses heróis são os pilotos de aviões e helicópteros que usam suas habilidades no transporte da água pelo ar, a fim de combater o fogo em locais de difícil acesso por terra, normalmente, em regiões de relevo acidentado e perto de morros, onde o perigo é dobrado.

O Estado de Minas mostra, nessa reportagem especial,  a dedicação, a habilidade e a coragem desses profissionais, que colocam a própria vida em risco em prol da defesa do meio ambiente. O esforço sempre é o mesmo, independente das polêmicas envolvendo a política ambiental e a destinação de recursos por parte do Governo para a proteção da Amazônia e de outros santuários como o Pantanal. A superação das dificuldades e a sensação nas missões na tentativa de debelar as chamas pelo ar são narradas com depoimentos próprios pilotos.

O combate aos incêndios florestais conta também com o auxílio da tecnologia. No início de outubro, O Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG), deu ênfase á divulgação de que ganhou um “novo aliado” no combate das queimadas. Destacou que “tem investido em inovações e tecnologias já consolidadas como referências mundiais para reforçar as missões de combate aos incêndios florestais”.  Mas, que “uma das novidades que tem contribuído para a otimização dos combates é o avião modelo Air Tractor”, adquirido pela corporação.

Trator aéreo


Não foi por acaso que o Corpo de Bombeiros deu grande destaque à aquisição da aeronave. Fabricado no Texas (EUA), o avião Air Tractor (trator aéreo, em inglês), com o objetivo inicial de pulverizar lavouras – ou seja, lançar agrotóxicos, que trazem consequências danosas para o meio ambiente, foi transformado em “amigo da natureza”. Foi adaptado para combate ao fogo na vegetação, com capacidade para transportar (lançar) até 3 mil litros de água, de forma fracionada ou apenas em um ponto específico.

O Air tractor surgiu nos anos 1970 e chegou ao Brasil em 1988. No mesmo ano recebeu a adaptação para o combate aos incêndios florestais. A aeronave atinge velocidade de até 340 quilômetros por hora, voando abaixo de 3 mil metros de altura (10 m il pés), com autonomia de voo de 1.200 quilômetros em linha reta.

O combate aos incêndios florestais faz parte da vida de William James Alves Costa, de 54 anos, mineiro de Comercinho  (Vale do Jequitinhonha), que, durante 25 anos atuou nas missões contra as queimadas como tripulante operacional de helicóptero da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) e do Instituto Estadual de Florestas (IEF). Há quatro anos, coordena os pilotos de uma empresa contratada pelos órgãos ambientais para combater o fogo com o uso do Air Tractor em Minas e outros estados.

William James ressalta o contentamento em atuar em prol da defesa do meio ambiente. "A minha satisfação é imensa em poder participar, saber que estou ajudando a natureza, bem como a sociedade em geral, é muito gratificante. Queria eu que toda nossa sociedade pudesse se conscientizar da importância da proteção ambiental em nosso planeta, buscando sempre maiores investimentos para empregar nessa área tão vital para todos nós”.

Risco calculado


Ele reconhece que o voo dos pilotos para o combate ao fogo é uma atividade de risco. “Mas, é um risco controlado,  pois os nossos pilotos passam anualmente por todos os exames médicos exigidos na aviação. Além disso passam por um curso de treinamento obrigatório para assim estar apto a executar tais serviços”, ameniza. O experiente tripulante diz que já “perdeu as contas” de em quantas missões já atuou na tentativa de controle das queimadas, destacando que já participou de operações em vários estados brasileiros e na região da Floresta Amazônica e também em países vizinhos como Argentina.

James afirma ter na memória diversas operações contra a devastação da vegetação pelo fogo. “Houve uma que marcou muito. Foi em 1998, ao sobrevoarmos uma área de queimada, perto de Caracaraí, em Roraima,  avistamos muitos animais mortos, gado, cavalos, capivaras.  Eram muitos mesmo, mais de 100 cabeça só de gado. Graças a Deus não tivemos humanos mortos”, afirma.

Outro que se arrisca nos voos para a salvação da natureza em chamas é Fábio Henrique Ramos Pires, de 41, piloto há 20 anos, dos quais 15 no comando do avião Air Tractor no combate aos incêndios florestais. “A sensação que a gente tem ao atuar no combate aos incêndios florestais, principalmente, quando o fogo é totalmente debelado, é de missão cumprida”, afirma Fábio que é natural de Itápolis (SP).

“É uma sensação gratificante de missão cumprida porque (quando) um incêndio florestal (fica) fora de controle é sempre muito triste”, diz Fábio Henrique. Ele lembra que o enfrentamento dos incêndios florestais é feito sempre numa ação conjunta com as equipes de brigadistas que trabalham por terra e que têm a mesma satisfação ao vencer o fogo.

Fábio Henrique lembra dos riscos que enfrenta.  "A atividade de piloto agrícola como a de piloto de combate a incêndio são atividades de risco. Mas a gente tem que saber os nossos limites e os limites da máquina.  Sempre  (deve) conduzir a operação de maneira séria e segura, de modo que minimize, ao máximo, os riscos de acidente", observa.

Como prestador de serviços para o IEF,   neste ano, ele atuou no combate aos incêndios florestais na Serra do Mel, em Montes Claros. Também combateu as queimadas que atingiram outras áreas de preservação em Minas, como as serras do Cipó e da Moeda e o Parque do Rola-Moça, próximo à Região Metropolitana de Belo Horizonte.  Ele já combateu sinistros florestais em outros estados, como Pará, Tocantins, Goiás,  Bahia e São Paulo, onde presta serviços, atualmente.

Sensações

O piloto Bruno Gomes de Oliveira, de 34, nascido em  Luis Eduardo Magalhaes (BA), define como “mistura de sentimentos e de emoção” os voos de combate ao fogo com o avião Air Tractor, atividade que desempenha há sete anos. “A primeira emoção que vem forte é a adrenalina. Também tem uma mistura com apreensão você ali em meio a outros aviões, voando bem próximo um dos outros e chegar no local e deparar com um cenário de guerra na verdade, com muita fumaça”, afirma o piloto, que já ajudou a combater o fogo no Pantanal.

Bruno lembra que, como o trabalho é feito em áreas de preservação, o transporte aéreo da água para apagar o fogo na vegetação envolve voos em áreas com cânion e morros altos.  Nessas condições, não tem como evitar a apreensão. “Fico um pouco apreensivo, mas sinto seguro e apto para operar nesse ambiente, pois sei que os treinamentos anuais garantem a eficiência necessária para ter essa segurança”, sustenta.

Ele frisa ainda que o esforço e compensa pelo prazer de ajudar a conservar a natureza “É uma sensação de extrema satisfação poder ajudar a preservar tudo aquilo ali (o patrimônio natural), que é extremamente importante para nós, um bem precioso da nossa pátria amada”, afirma o piloto.

Reforço na frota em Minas


Helicópteros e caminhões auxiliam os bombeiros no combate aos incêndios(foto: Bombeiros MG/divulgação)
Helicópteros e caminhões auxiliam os bombeiros no combate aos incêndios (foto: Bombeiros MG/divulgação)
Minas Gerais reforçou a estrutura de enfrentamento dos incêndios florestais pelo ar. Conforme a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), além de dois helicópteros modelo Esquilo, o Instituto Estadual de Florestas (IEF)  conta com o serviço de locação de 10 aviões para o combate às queimadas. “Esses aviões possuem capacidades que variam, aproximadamente, entre 1.500 e 3.000 litros de água, sendo os que estão a serviço do IEF com capacidade aproximada para 2.000 litros”, informa a secretaria.

A pasta lembra que em 2020, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais também contou com dois aviões Air Tractor no esforço para debelar as chamas nas unidades de conservação estaduais e federais. Além disso, o IEF conta com um avião monomotor Cessna 210C, “utilizado para ações de identificação e monitoramento de focos de incêndio”, informa a Semad.

A pasta enfatiza que, com o objetivo de aprimorar as ações de combate ao fogo, o governo do estado mantém Programa de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais (Previncêndio). Informou ainda que a força-tarefa busca a inovação e a ampliação da capacidade de trabalho e desta forma, também investe na contratação de aeronaves.

Incêndios


A Semad informou que, neste ano,  até meados de outubro, foram registradas em Minas 488 ocorrências de incêndios em unidades de conservação, sob responsabilidade do IEF e do Programa Previncêndio, “muitas delas, com apoio aéreo (combate por meio de aviões ou helicópteros)”. Ainda conforme dados parciais da pasta, de janeiro a meados de outubro, foram utilizadas no estado 399,5 horas de voo em ações de combate às queimadas com helicópteros, 121 horas de voo com aviões de monitoramento e 420,5 horas de voo em ações de combate com aviões Air Tractor.


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