Também fica a cargo dos hotéis a entrega de um informativo com as prevenções e sintomas da COVID-19, além de aplicar um formulário em que o hóspede declara se teve contato com pessoa com suspeita ou confirmação da doença nos últimos 14 dias. Em caso afirmativo, o hotel deve entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, que vai estipular as medidas de isolamento necessárias.
Porém, o que se viu no primeiro dias de vigência do decreto foi um setor hoteleiro com muitas dúvidas sobre como as medidas deveriam ser tomadas. É o caso de Andre Bekerman, CEO do Trul Hotéis, que até fez contato telefônico com a Secretaria Municipal de Saúde.
“Inicialmente eles me passaram para o Departamento de Infectologia, depois quiseram me passar para outro ramal, mas não consegui nenhum esclarecimento. Queria saber detalhes sobre a parte do decreto que fala de hóspedes que tiveram contato com pessoas doentes”, relatou. Bekerman conta que também não recebeu o informe que deveria ter sido fornecido pela Secretaria.
Patrícia Azeredo Coutinho é proprietária de dois hotéis na capital – o Oyo Amazonas Palace Hotel Belo Horizonte, em funcionamento, e o BH Boutique Hostel, que está temporariamente fechado – e também não recebeu os informes que deveriam ser distribuídos aos hóspedes. “O telefone da Secretaria da Saúde que deve ser acionado quando se verifica que o hóspede apresenta sintomas da COVID-19 não funciona, ninguém atende. Esse canal deveria ser revisto. Como posso demonstrar que tentei entrar em contato e não consegui? Haverá servidores disponíveis para atender a esta demanda?”, questionou.
Guilherme Sanson, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – Seção Minas Gerais (ABIH-MG), confirma a dificuldade que o setor está tendo como um todo para obter informações sobre o decreto municipal. Ele também se preocupa com alguns trechos do texto: “Fere até o Código do Defesa do Consumidor fazer alguns tipos de questionamentos que o decreto impõe, bem como transmitir isso para as autoridades. Acho que deveríamos ter um respaldo jurídico porque acaba colocando em risco o empreendimento com relação a processos civis depois”.
Protocolos de higienização já em curso
De forma geral, o setor hoteleiro considerou que as medidas apontadas pelo decreto já vinham sendo aplicadas.“Analisando o texto do decreto, as medidas não são de dificil prática. Desde o início da pandemia adotamos protocolos de higienização que já contemplam todas essas medidas. Também avançamos no uso de tecnologias para evitar aglomeração nos momentos de check-in e check-out”, disse Andre Bekerman.
“As medidas contidas no decreto são plausíveis, aliás, já estavam sendo executadas, mas atribuir responsabilidade civil e penal para quem descumpri-lo é um fardo pesado demais para a já combalida hotelaria. A prefeitura adotará a mesma postura caso venha a conhecer algum cidadão com sintomas da doença e não comunicar à Secretaria de Saúde?”, indagou Patrícia.
A Prefeitura de Belo Horizonte não retornou os questionamentos da reportagem.