(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Mãe e três filhos soterrados

No Bairro Jardim Alvorada, desabamento ocorreu quando a família voltou ao imóvel para buscar pertences. Pai escapou da tragédia, mas vizinho que estava no imóvel também morreu


postado em 26/01/2020 04:00

Área do desabamento foi isolada na sexta-feira e 35 famílias foram removidas, mas algumas retornaram ao local para buscar roupas e objetos que consideravam essenciais(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)
Área do desabamento foi isolada na sexta-feira e 35 famílias foram removidas, mas algumas retornaram ao local para buscar roupas e objetos que consideravam essenciais (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Três crianças e dois adultos morreram soterrados no Bairro Jardim Alvorada, na Região Noroeste, depois que uma encosta desabou sobre duas casas na noite de sexta-feira. Maria Estela e seus três filhos, de 6, 8 e 10 anos, tinham deixado o barracão – que estava em área de risco – na sexta-feira, mas voltaram horas depois para buscar seus pertences. Outro homem, de 48 anos, que morava no barracão ao lado também morreu soterrado.

“As mochilas já estavam prontas para irmos embora de vez. Mas a Estela queria fazer a janta antes. Não queria ir para outro lugar com fome. Os meninos estavam no quarto, brincando. De repente, de uma vez só, a lama derrubou o quarto. Quando vi, estava com a boca cheia de terra, os olhos não abriam, também estavam cheios de terra. Os vizinhos me puxaram. Não teve tempo para nada”, contou o marido de Maria Estela, Anselmo Pereira, de 55 anos, que estava na casa na hora do soterramento.

A família morava no Jardim Alvorada há cinco anos e estava entre as 35 pessoas que ficaram desabrigadas na sexta-feira, quando 12 casas ficaram em estado de alerta após o desabamento de um muro. Horas antes de morrer, Maria Estela deu entrevistas e contou para vizinhos que ela e seus filhos deixaram a casa apenas com a roupa do corpo, na sexta-feira.

Ontem, moradores do Bairro Jardim Alvorada acompanharam os trabalhos de bombeiros na busca dos corpos em clima de consternação e com medo de novos deslizamentos de terras. Houve desabamentos em pelo menos quatro pontos do bairro. No pior deles, onde cinco pessoas foram soterradas, os militares chegaram ainda na madrugada de sábado e só encontraram os corpos na noite de ontem. Ao longo do dia, dezenas de moradores estavam deixando o local, carregando malas e mochilas, com medo de novas chuvas e desabamentos.

“Não temos mais condição de morar aqui, de viver um desespero desse”, dizia Daiane Souza, que mora no bairro há mais de 30 anos e deixou ontem sua casa, a poucos metros de um ponto de desabamento. “O barranco desabou inteiro. A chuva começou por volta de 20h. Pouco tempo depois, começou a cair tudo. Eu, meu marido e meus filhos tivemos que sair pela janela, porque, quando abrimos a porta, já não tinha mais chão em frente à casa. Desceu tudo de uma só vez. Deu tempo só de pegar a mamadeira da neném, arremessei o meu filho para o outro quarto. Vamos procurar um abrigo por enquanto, não temos onde ficar”, contou Daiane.

"As mochilas já estavam prontas para irmos embora de vez. Mas a Estela queria fazer a janta antes. Não queria ir para outro lugar com fome"

Anselmo Pereira, de 55 anos, que perdeu a mulher e os três filhos no soterramento e foi salvo por vizinhos



MEDO

Muitos moradores se preocupam com rachaduras e trincas que surgiram em vários muros e paredes de casas após as fortes chuvas dos últimos dias. “Estamos assutados com o alto risco de novos desabamentos. Tive que deixar minha casa e estou morando de favores, porque não quero ser uma das vítimas. Mas a situação é muito complicada e muita gente não tem para onde ir”, disse Cláudia Reis, que mora no Jardim Alvorada há 19 anos. “Nunca tínhamos tido tantos problemas como neste ano. A situação do bairro ficou completamente caótica”, diz.

Vizinho de uma casa em situação de risco, Antônio da Costa, de 64 anos, não consegue dormir há dias por causa da preocupação com deslizamentos de terra. “Estamos vendo a situação desses muros e pedaços de terra se soltarem. Aqui, o medo é que, se uma casa desabar lá em cima, tudo vem abaixo na mesma hora”, contou Antônio, mostrando as paredes trincadas de uma das casas vizinhas. Ele conta que, pouco depois de 20h, começaram a ouvir seguidos estrondos e muitas pessoas gritando.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)