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Estado de Minas

Cervejas contaminadas: entenda a investigação da polícia sobre o caso Backer

Polícia detecta substância tóxica em equipamentos da cervejaria e em mais um lote da Belorizontina. Ministério ordena recolhimento de todos os rótulos da marca. Empresa vai à Justiça


postado em 14/01/2020 04:00 / atualizado em 14/01/2020 16:56

Os delegados Flávio Grossi e Wagner Pinto e o superintendente técnico-científico da Polícia Civl, Thales Bittencourt, falam sobre a investigação de intoxicação por dietilenoglicol(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Os delegados Flávio Grossi e Wagner Pinto e o superintendente técnico-científico da Polícia Civl, Thales Bittencourt, falam sobre a investigação de intoxicação por dietilenoglicol (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Aumenta a extensão da contaminação da cerveja Belorizontina por substância tóxica e, consequentemente, as suspeitas de que o problema tenha ocorrido dentro da própria fábrica da Backer, que produz a marca. A Polícia Civil (PC) identificou a presença de substância tóxica em mais um lote da bebida e também em equipamentos da cervejaria. Além do dietilenoglicol, a perícia encontrou o monoetilenoglicol.

Já são três os lotes analisados L1 1348, L2 1348 e L2 1354 –, todos positivos para os agentes químicos. Após a divulgação desse laudo, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) proibiu a venda de todas as cervejas e chopes produzidos pela Backer a partir de outubro de 2019. A Backer entrou na Justiça para revogar a ordem.

Os tanques da indústria são usados para a fabricação dos 22 rótulos da cervejaria, sem distinção de marca. A força-tarefa ainda não tem uma resposta sobre as causas da contaminação, se houve falha ou sabotagem.



Notificações chegam a 17

Enquanto a investigação avança, as notificações de síndrome nefroneural compatível com a contaminação por dietilenoglicol também crescem. Sobem de 10 para 17 o número de casos suspeitos, de acordo com boletim divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES).

Entre os novos casos, há a primeira mulher. Exames de sangue de quatro vítimas que consumiram a Belorizontina deram positivo para o dietilenoglicol. Um homem morreu em 8 de janeiro e resultado parcial da necrópsia, divulgado ontem, atestou a presença do agente químico.

Recall de todas as marcas da Backer

Apesar da intimação para que a Backer faça o “recall” de todas as marcas produzidas entre outubro de 2019 e 13 de janeiro, o Mapa esclarece que não há resultado laboratorial que confirme a presença das substâncias tóxicas usadas em processos de resfriamento da cerveja nas demais marcas da empresa.

“Os produtos estão sendo analisados e, caso existam resultados positivos, novas medidas serão adotadas”, informa a nota. A comercialização está suspensa até que seja descartada a possibilidade de contaminação dos demais produtos.



Polícia define período de contaminação

“Conseguimos delimitar a janela de contaminação entre a segunda quinzena de novembro e a primeira quinzena de dezembro, com a distribuição nesse período visando as festas natalinas e a Black Friday”, afirma o delegado responsável pelo caso, Fábio Grossi. Segundo ele, se inicialmente havia a concentração de casos no Buritis, a força-tarefa já identificou pacientes que compraram lotes contaminados nos bairros Lourdes, Cidade Nova e Cruzeiro, todos em BH, além de Nova Lima.

Em coletiva de imprensa na segunda-feira (13), a PC informou que identificou as substâncias tóxicas monoetilenoglicol e dietilenoglicol na linha de produção da cervejaria, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Os laudos também acusam os dois agentes químicos em garrafas recolhidas na fábrica e em casas de pacientes com sintomas da intoxicação.

“Temos a constatação de três lotes contaminados: L1 1348, L2 1348 e L2 1354. Quatro vítimas deram positivo para dietilenoglicol, com relatos de muita cerveja no lote contaminado e exame positivo”, afirmou o superintendente de Polícia Técnico-Científica, Thales Bittencourt.

Violação foi descartada

As garrafas recolhidas na indústria foram enviadas a laboratório em Brasília, que atestou que os recipientes estavam lacrados e descartaram violação. Somente depois desse teste, as garrafas foram analisados pela perícia técnica da PC, com a constatação dos dois agentes químicos na bebida. Um delas tinha o rótulo “Capixaba”, que é a variação da marca distribuída para o Espírito Santo. Além de Minas, também receberam lotes contaminados São Paulo e Brasília.

Até então, falava-se apenas da presença do dietilenoglicol nas garrafas da Belorizontina. Tanto o dietilenoglicol quanto o monoetilenoglicol são usados na indústria cervejeira na etapa de resfriamento do líquido, para depois haver a fermentação.

As substâncias correm numa espécie de serpentina, na parte externa dos tanques, e não deveriam ter contato direto com a bebida. Um dos mistérios gira em torno do fato de a Backer afirmar que somente o monoetilenoglicol é usado nos processos produtivos da indústria. Notas fiscais apreendidas na fábrica comprovam a compra desse produto.

Perícia identifica substância tóxica em equipamento

Apesar disso, a perícia constatou mono e dietilenoglicol no tanque de Chiller, equipamento usado na refrigeração da bebida em uma das etapas de produção. Bittencourt afirmou que não há na literatura relatos da transformação do monoetilenoglicol em dietilenoglicol.

Segundo ele, estudos mostram que a dose letal de dietilenoglicol para o organismo humano é muito variável e vai de 1 grama a 12 gramas, no caso de uma pessoa de 70 quilos, por exemplo. “Até então, a intoxicação que temos é por dietilenoglicol. Em uma semana depois da ingestão, espera-se que os sintomas iniciem”, diz.

Revogação do recall
A cervejaria Backer informou que entraria na Justiça para revogar o recall solicitado pelo Mapa de todas as cervejas do fabricante. Segundo a empresa, a investigação das autoridades recai somente sobre a marca Belorizontina, “não tendo qualquer relação com os demais rótulos da empresa, que possui processos autônomos de produção”.

Mais cedo, a Backer havia reafirmado, por meio de nota, que não usa o dietilenoglicol em sua produção. A empresa também informou que “segue apurando internamente o que poderia ter ocorrido com os lotes de cerveja apontados pela polícia”. Informou, ainda, que “mantém o foco nos pacientes e em seus familiares” e que “prestará o suporte necessário, mesmo antes de qualquer conclusão sobre o episódio”.


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