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Estado de Minas

Com 20 em 2020: jovens nascidos em 2000 falam sobre o desafio de construir o futuro

Pessoas cuja idade se confunde com a nova marca do calendário conversaram com o Estado de Minas sobre metas, planos e angústias para a próxima década


postado em 01/01/2020 04:00 / atualizado em 01/01/2020 11:50


Eles e elas têm a vida inteira pela frente – pode parecer lugar-comum, mas a sabedoria popular não falha quando se trata de gente na flor da idade. Diferentes em vários aspectos, os mineiros Maria Elisa, Gabriel, Rodrigo, Luiza, João Marcos e Stefany têm uma característica importante em comum: vão completar 20 anos no ano que começa hoje. A cara do milênio, dos anos 2020 e no auge da juventude, eles fazem planos para os próximos 366 dias e para a década, certos de que já acumulam experiência suficiente para enfrentar os desafios do futuro e as surpresas de cada dia. Mas não faltam, claro, dúvidas.
 
Se a menina com porte de modelo prefere o campo de futebol às passarelas da moda, o rapaz se nutre de fé para enfrentar mudanças familiares. E buscar novos caminhos. “Ficar à toa, jamais”, destaca uma estudante da Região Centro-Sul da capital, e dessa ideia comunga a moradora de Vespasiano que trabalha desde os 13 anos, e tem fôlego de sobra para continuar.
Nessa correria, são muitos os sonhos, e há fartura de planos: os projetos de vida para a turma de 19 anos fervilham na cabeça, entopem a mochila, piscam na tela do computador e esperam a hora de aflorar em palavras, imagens, sons.
 
Independentemente da cor da pele, do sexo, da posição social, do endereço ou da escolha profissional, meninos e meninas nascidos em 2000 trazem no olhar o brilho do contemporâneo. Na voz, a alegria de viver, nas mãos, o desejo de conquistar. E não é pequena essa turma: conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tem cerca de 3,4 milhões de jovens com 19 anos.
 
Portanto, agora é com eles, para contar histórias, imaginar o futuro e falar da grande alegria – e dos perrengues – de ser jovem no século 21. Se querem um mundo mais igual, anseiam também pelo fim dos preconceitos e mais oportunidades no mercado de trabalho. E seus jovens olhos refletem um pouco dos desejos, anseios e angústias de cada um de nós.

Do campo ao palco

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

Ainda falta quase um ano para Maria Elisa Mateus de Souza completar seus 20 – será em 10 de dezembro –, mas a belo-horizontina sorridente e simpática, caçula de quatro irmãos, já tem atitude de adulta. “Já aprendi muito, tenho o amor da família, então a experiência e o apoio vão me ajudar nas próximas décadas”, acredita a estudante de ensino médio, moradora do Bairro Sion, na Região Centro-Sul da capital, e decidida a cursar psicologia.
 
Com jeitinho de modelo e cheia de charme, a menina não tem planos fashion. Sua passarela é outra: gramados ou palcos do mundo, pois quer ser jogadora de futebol ou cantora. Na posição de atacante, não cita grandes ídolos no esporte, embora já tenha escolhido o espelho musical. Gosta de Rihanna e, no cenário nacional, de Anitta e Ludmilla.
 
Frequentadora da igreja evangélica Heaven Help, Maria Elisa diz que só soltou a voz, até hoje, nos cultos. Mas engana-se quem pensa que o repertório da garota, em casa e em festas, é limitado: ela vai do pagode ao rap sem perder o ritmo do hip-hop.
 
Ao lado da mãe, Marisa Mateus Teixeira, Maria Elisa sabe que os sonhos são tantos que quase não cabem numa cabeça só. Por isso tem o ombro amigo também do pai, José Adão Teixeira, para as horas de incertezas. “Às vezes, fico pensando quem sou eu. O jovem, nesta idade em que estamos, acha que é o dono do mundo, que pode tudo. E olha que pode mesmo!”, brinca a estudante ainda sem namorado.
 
Tímida à primeira vista, Maria Elisa se emocionou durante a entrevista e depois abriu um sorrisão. “Sabe que, com o tempo, fiquei expansiva? Principalmente com ajuda da família, que é tudo o que tenho. Gosto de conversar, sou direta”, afirma a menina pronta para os próximos 20 anos – e muitos outros que vierem.

Confiança restaurada

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

Desde bem cedo, Rodrigo Martins dos Santos Barbosa traçou bem o caminho na vida: ser restaurador de peças sacras. O objetivo começou a se definir no Santuário Santa Luzia, na cidade de mesmo nome da Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde nasceu o jovem que completará 20 anos em 20 de dezembro de 2020. “Quanto 20, hein?”, brinca Rodrigo, que aguarda o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para realizar o sonho de ingressar na Universidade Federal de Minas Gerais. “Se não der para estudar na UFMG, vou tentar de outra forma. O certo mesmo é que quero ser restaurador profissional”, decreta.
 
Como ponto de partida, Rodrigo fez o curso de guardião do patrimônio cultural, da Arquidiocese de BH, e quer fazer a segunda etapa para garantir a formação de guia turístico. “Trabalhava em uma padaria, tive que sair, embora precise muito do salário. Não estava sendo possível conciliar o curso com o serviço”, conta o rapaz, dono de uma grande vitória: no início de 2019, viajou para o Panamá a fim de participar da Jornada Mundial da Juventude, presidida pelo papa Francisco.
 
Pelo brilho dos olhos de Rodrigo, qualquer um nota que a viagem foi um marco. Durante meses, ele vendeu doces e bolo, na porta da Matriz de Santa Luzia e capelas, para comprar a passagem. Contou com o apoio incondicional da avó, Efigênia, e dos pais José Eustáquio Barbosa e Eliana Martins dos Santos. “Agora, estou num momento de definição, pois meus pais vão mudar para a roça (zona rural) e minha avó, de bairro. Estou pensando em me mudar para Belo Horizonte, arrumar um emprego e estudar”, planeja. “Com o tempo, a responsabilidade só aumenta”, reflete o jovem, com uma certeza: aconteça o que acontecer, terá sempre fé em Deus. “Fico mais forte assim.”
 

Fé na vida, olhos no mundo

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

Os aviões decolam no aeroporto de Confins e dão asas aos sonhos de Stefany Souza Bonfim, moradora do município vizinho de Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Um dia, quero fazer uma viagem internacional. Penso mais na Califórnia (EUA). Mas nada, por enquanto, de morar em outro país”, diz a jovem, que sai de casa às 7h para trabalhar em BH, a partir das 9h, em um escritório, e costuma chegar em casa às 20h30. “Comecei a trabalhar muito cedo, aos 13 anos, como recepcionista de um salão de beleza aqui em Vespasiano, para ajudar em casa e comprar minhas coisas.”
 
Desde menina, Stefany, que fará 20 anos em 9 de outubro, mora com a avó, Maria, e os irmãos Danyelle, de 22, e Guilherme, de 14. “A gente faz planos, mas sem certeza, devido às instabilidades financeiras. Quem é pobre já não tem muitas esperanças, mas como a esperança é a última que morre, tomara que tudo dê certo”, ressalta a garota, que terminou o ensino médio, fez o Enem e pretende estudar psicologia.
 
Como qualquer jovem da sua idade, Stefany gosta de sair, curtir “baladas”, enfim, de se divertir com os amigos nos fins de semana. “Mas hoje está tudo muito perigoso, por isso não gosto de festa de rua, prefiro um barzinho.” Com a avó, aprendeu muito e sempre se lembra das orientações. “Presto muita atenção ao que ela diz, fico precavida. Minha avó é muito zelosa, se preocupa demais com os netos. Hoje, o que mais vemos é jovem morrendo, por uma série de motivos”
 
Acostumada a ver a realidade das ruas, a menina natural de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, e moradora desde os 5 em Vespasiano, quer ver um Brasil com mais oportunidade para todos e justiça social. “E trabalho, claro!”

Conviver: verbo impositivo

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

Que a vida é um aprendizado constante, o estudante de análise e desenvolvimento de sistemas Gabriel Luna San Juan já sabe, de cor e salteado. E a cada dia, faz novas descobertas. Uma delas é que, em 19 anos – completa 20 em 26 de fevereiro – entendeu que o verbo conviver se torna fundamental a qualquer minuto. “Este nosso mundo está uma bagunça, exatamente porque um não entende o outro, ou procura não entender. Então, não podemos ser donos da verdade, achar que estamos certos e no controle”, diz o belo-horizontino, que divide o dia entre a faculdade e o trabalho como operador de computador.
 
Sem namorada e com o tempo todo ocupado, sobra pouco para tocar violão, jogar no computador e encontrar os amigos. “Fico mais fora de casa do que dentro”, confessa Gabriel, para, em seguida, contar que tem uma irmã de 10 anos, é muito ligado aos pais, Eduardo e Anna Paula, e já sentiu a dor da perda. Isso ocorreu em 2015, quando a avó paterna, Sônia, faleceu. Os olhos brilham ao falar dela, e para eternizar o afeto, traz tatuada no peito a palavra sagesse (sabedoria, em francês).
A exemplo dos jovens da sua geração, Gabriel gosta de tecnologia, embora não faça dela a razão da vida, pois sabe que há pontos positivos e negativos – se ela aproxima o mundo, pode também causar estragos. Por isso, não dispensa um bom livro. As páginas do momento são A marca de Atena, de Rick Riordan, volumes que devora nos momentos de lazer.
 
No fim de semana, o papo com os amigos é sagrado, daqueles intermináveis, que varam a noite e parecem não ter fim. “Um assunto emenda no outro, o papo não tem fim.” Para o futuro, não pode faltar a gastronomia. “Quero explorar essa área, o máximo que conseguir”, põe fé o rapaz.

Correr, batalhar, incluir

(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)
(foto: RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS)

O tempo da estudante de jornalismo belo-horizontina Luiza Rocha é curto para tanta energia e atividades. Estagiária da área e aluna da PUC Minas, a jovem quer aprender, trabalhar e se preparar, da melhor forma, para a vida profissional. “Aprendi com minha avó, Luzia, que 'mente desocupada é oficina do diabo'. Então, como sou de natureza dinâmica, gosto de ficar sempre em movimento, com algo para fazer. Do contrário, ficou mal.”
 
O aniversário de 20 anos de Luiza será em 22 de fevereiro, sábado de carnaval. Data que é a senha para a garota falar de seu trauma com a folia. “Quando eu era bem nova, minha mãe preparou uma festa surpresa e me fantasiou. Achei tudo estranho, não gostei. Depois, durante anos, fiquei exilada do reino de Momo. Só fiz as pazes aos 17 anos”, conta a garota, com um sorriso que retrata fielmente a alegria espontânea.
 
Criada com a avó e a mãe, Angela, a estudante tem um irmão de 17, o José Pedro, e a toda hora se vale de expressões típicas de outros tempos. Ela ri do comentário, diz que é assim mesmo: “Sou muito ligada às duas, aprendo muito com elas”. Fora de casa, a jovem já aprendeu que o mundo é bem diferente. “As mulheres são subjugadas em todos os setores, precisam mostrar serviço para ser  reconhecidas. É uma batalha diária.”
 
Portanto, o mundo que Luiza espera é livre de preconceitos. “Venho notando que as pessoas se mostram mais inclusivas, respeitando as diferenças. Isso é bom demais, pois, assim, há oportunidade para todos.” Aluna de escola católica no ensino médio, a belo-horizontina teve oportunidade, na adolescência, de visitar um acampamento de sem-terra, no Norte de Minas. “Vi, de perto, que nem todas as pessoas tiveram as oportunidades que tive. Hoje, posso não sentir a dor do outro, mas sei que ela existe.”

Acima de tudo, respeito

(foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)
(foto: JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS)

O universo feminino não tem mistérios para João Marcos Bastos Ferreira dos Santos, auxiliar administrativo de uma loja de ferramentas e morador do Bairro Santa Branca, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte. “Lá em casa são cinco mulheres e eu: minha mãe, Renata, minha avó, Delfina, minhas irmãs Maria Izabel, de 21 anos, Maria Vitória, de 16, e Marina, de 13. Aprendo muito, com todas”, conta o rapaz, que, para 2020, tem planos de fazer o curso técnico de mecânico industrial.
 
“Com a convivência em família, aprendo diariamente a respeitar as mulheres. Minha mãe me ensinou, desde cedo, a ter respeito pelo próximo. Atualmente, a gente vê muita violência em todo lugar, basta ler os jornais. Tanto feminicídio ocorrendo, algo muito ruim. Penso que a razão está na falta de educação, de conversa entre pais e filhos. A escola também é fundamental nesse processo, e não podemos esquecer da falta de amor que existe em todo canto.”

Em abril, João Marcos vai completar três anos como trabalhador – e não se arrepende nem um pouco de ter começado ainda adolescente. “Considero importante trabalhar, conhecer o mercado profissional, tratar bem os clientes. Essa valorização, aprendi também com minha mãe, que já teve um salão de beleza e atualmente é funcionária de outro.”
 
Prestes a completar 20 anos (no dia 29), João Marcos diz que já parou várias vezes para pensar no futuro. “E como você se imagina daqui a 20 anos?”, pergunta o repórter. “Quero uma vida tranquila: estarei casado, com filhos, com carro e casa”, planeja o jovem, que gosta muito de “interagir”, conversar com os clientes na loja e fazer amigos.
 
E o mundo, o Brasil? “Tenho esperança em um Brasil melhor, sem violência, com saúde, educação, emprego. Acredito que vamos melhorar.” Na lista de desejos para 2020, João Marcos inclui empatia, amor, união e respeito. 


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