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Nascente do samba e da cultura de raiz de BH, Lagoinha resiste entre o passado e o presente

Região onde despontaram ícones como Mestre Conga e o primeiro bloco carnavalesco da cidade mantém a ginga, apesar das mazelas que refletem a desigualdade social da capital mineira


postado em 14/12/2019 04:00 / atualizado em 16/12/2019 15:26

(foto: ACERVO PESSOAL)
(foto: ACERVO PESSOAL)
Lagoinha é um dos berços de Belo Horizonte, tendo fornecido materiais e força de trabalho para a construção da nova capital. Sua ocupação se deu por pessoas vindas do interior e, posteriormente, imigrantes em busca das oportunidades de trabalho na cidade. Como o custo de vida nas áreas centrais não permitia o estabelecimento dos trabalhadores, foi preciso buscar abrigo nas “franjas” da cidade, onde a urbanização não foi planejada.

Situada em uma área banhada por diversos cursos d’água, a Lagoinha foi, desde o início, uma região: a ela se ligam a Pedreira Prado Lopes e o “Buraco Quente”, atual Vila Senhor dos Passos, além de áreas atualmente localizadas nos bairros Bonfim, Carlos Prates, Santo André e Concórdia. O “núcleo central”, contudo, foi delimitado pelas ruas Itapecerica e Além Paraíba, que confluíam na icônica Praça Vaz de Melo, centro da sociabilidade local, dia e noite a atrair comerciantes e boêmios, promovendo negócios e encontros.

Entre as décadas de 1930 e 1960, a Lagoinha foi o berço do samba belo-horizontino, onde despontaram ícones como Mestre Conga e Mestre Lagoinha, dentre outros que marcaram época pelas ondas do rádio, além do bloco Leão da Lagoinha, o primeiro da capital. O Mercado Popular da Lagoinha, fundado no final da década de 1940, contribuiu para o estabelecimento de uma rede de abastecimento alimentar que congregava produtores das áreas suburbanas da cidade.

A abertura da Avenida Antônio Carlos, na mesma década, e a construção do Conjunto IAPI, na década seguinte, contribuíram para dinamizar ainda mais o cotidiano local, fazendo da Lagoinha um importante território próximo ao Centro. Essa Lagoinha do passado permanece nas memórias de antigos moradores, mas o tempo e as gestões municipais foram cruéis com ela. A partir da década de 1970, a canalização dos cursos d’água e, especialmente, a construção de túneis e viadutos do chamado Complexo da Lagoinha contribuíram para a modificação da dinâmica da região.

As intervenções mais recentes para o alargamento da Avenida Antônio Carlos acentuaram esse cenário. Com isso, parte da Lagoinha passou por acentuado processo de degradação que acabou se plasmando à imagem que as pessoas fazem de toda a região. Contudo, não nos iludamos: as mazelas percebidas na Lagoinha são as mesmas existentes em toda a cidade. Gerações se acostumaram a pensar na Lagoinha como local de moradores em situação de rua e usuários de álcool e outras drogas. Esta é somente uma das várias Lagoinhas existentes, aquela que talvez mostre de maneira mais crua a desigualdade em nossa cidade.

Outras Lagoinhas do presente existem e resistem, em uma rica dinâmica de produção cultural, religiosidades, ofícios e modos de fazer que estabelece um elo (ainda que conflituoso) entre passado e presente. Essa Lagoinha viva sabe reconhecer e valorizar seu passado, mas é atuante no presente e mantém os olhos fixos no futuro, em busca de afirmar seus modos de vida.

(*) Paulistano “naturalizado” belo-horizontino e professor do Departamento de História do UNI-BH


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