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Estado de Minas PARCERIAS

Novos colunistas do EM debatem os desafios de pôr a educação no século 21

João Batista dos Mares Guia e Francisco Morales, especialistas na área que estreiam coluna semanal no caderno Gerais, debatem sobre desafios e novas metodologias educacionais


postado em 01/12/2019 04:00 / atualizado em 30/11/2019 21:33

Francisco Morales, diretor pedagógico do Grupo Educacional Vereda, foi diretor do Colégio Santo Agostinho(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Francisco Morales, diretor pedagógico do Grupo Educacional Vereda, foi diretor do Colégio Santo Agostinho (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

 José Alberto Rodrigues*

 

Universalizar a educação de qualidade e definir novos conteúdos e metodologias para uma aprendizagem significativa e socialmente ativa são desafios para o sistema de educação no país. Além dos processos de evolução no ensino, é preciso refletir sobre a formação e a valorização de professores e a necessidade de entender a nova geração de alunos e seu protagonismo, sem se esquecer das conjunturas estruturais e sociais de escolas em diferentes regiões do país e do estado. Dialogar sobre todos esses fatores é a grande meta para uma educação plena. Dois dos maiores especialistas na área, um do setor público e outro da rede privada, João Batista dos Mares Guia e Francisco Morales, apontam caminhos para enfrentar essa missão.

 

Para Francisco Morales, que foi diretor do Colégio Santo Agostinho durante 20 anos, o acesso pleno à educação está diretamente ligado às condições sociais, políticas e históricas do país. “Passa, sem dúvida, por governos nacionais e locais que tenham vontade política, que invistam de forma maciça e adequada na educação e que acreditem nela como fator fundamental do desenvolvimento dos indivíduos, da sociedade e da construção de um país mais equilibrado, justo, fraterno e independente”, diz Morales, atual diretor pedagógico do Grupo Educacional Vereda, em São Paulo.

 

Para o professor, sociólogo e ex-secretário de Educação de Minas Gerais João Batista dos Mares Guia, alcançada a universalização do ensino, o desafio atual é a elevação contínua da qualidade do aprendizado. “Deseja-se 'tudo para todos, o tempo inteiro', sem foco, sem enfoque, e encerrados em impressionante onipotência face às realidades muito críticas do aprendizado dos alunos nas escolas do país”, ressalta. Segundo Mares Guia, entender as novas realidades contribuirá para uma formação crítica e cidadã, “destinada a desejavelmente educar alunos com espírito crítico, com autonomia moral e intelectual, capazes de conhecer opções e de fazer escolhas”.

 

Morales salienta que, para avançar, é preciso propor um exercício de escuta e empatia em diálogo com todos os atores sociais, desde o governo, grupos interessados e sindicatos a representantes da sociedade civil organizada. “Antepor as necessidades e prioridades da cidadania e os interesses nacionais, principalmente da maioria da população historicamente excluída, deveria pautar qualquer diálogo e ocupar a agenda nacional”, pontua.

João Batista dos Mares Guia é professor e sociólogo e já foi titular da Secretaria de Estado da Educação(foto: alexandre guzanshe/EM/D.A Press- 11/9/18)
João Batista dos Mares Guia é professor e sociólogo e já foi titular da Secretaria de Estado da Educação (foto: alexandre guzanshe/EM/D.A Press- 11/9/18)

NOVA LINGUAGEM Outro desafio é o uso da tecnologia nas escolas. Realidade à qual instituições e os profissionais de ensino precisam se adaptar. Para Morales, a tecnologia veio pra ficar e não pode ser enxergada apenas como uma nova ferramenta. “Ela é uma nova linguagem, que nos permite personalizar o aprendizado, universalizar o conhecimento, compartilhar os saberes, democratizar o ensino e a informação, enfim, exige uma outra cabeça, uma nova visão, uma mudança de paradigma mesmo”, afirma

 

O ex-secretário acredita em uma perspectiva de interdisciplinaridade que condiz com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “O ensino deverá se fundamentar na oferta de desafios e de condições para que os alunos construam ou desenvolvam conjuntos típicos, bem definidos, de conhecimentos, de competências e de habilidades, inclusive destrezas tecnológicas bem descritas, habilidades artísticas, linguísticas, matemáticas, socioemocionais e habilidades para cooperar e interagir em ambiente social de diversidade e de pluralidade de valores”, explica.

 

Em meio a tantos enfrentamentos, a família, com seus novos modelos e funções, se torna um importante agente mediador para a educação. “Precisamos resgatar o papel cooperativo, integrador e suplementar da família com a escola e vice-versa. Hoje, enxergo essa relação mediatizada pelo consumo, pela competição e a cobrança. Não é por aí. Há necessidade, e urgente, de resgatar o diálogo, a subsidiariedade, a colaboração e o comprometimento mútuo entre escola e família”, frisa Morales.

 

DEBATES Buscando entender os desafios, os rumos e o papel de cada um no desenvolvimento da educação no Brasil, João Batista Mares Guia e Francisco Morales passam a partir de amanhã a integrar o time de novos colunistas do Estado de Minas. Ambos se intercalarão semanalmente, ás segundas-feiras, nas páginas do caderno Gerais.

 

Morales conta que as novas colunas terão como base central o sistema de educação, e acredita ser um espaço capaz de promover ideias instigantes e de pautar temas importantes da educação no Brasil e, principalmente, em Minas. “A expectativa é colaborar com o debate sobre uma educação adequada ao contexto brasileiro e sua problemática, assim como ajudar a encontrar rumos novos, que despertem a consciência crítica e social, aliada ao desenvolvimento das habilidades e conhecimento dos estudantes, num processo de ensino e aprendizagem marcado pela sensibilidade social e a eficiência pedagógica”, conclui.

 

* Estagiário sob supervisão da subeditora Elizabeth Colares

 

Entrevista

João Batista dos Mares Guia 

professor e sociólogo, ex-secretário de Educação de Minas Gerais

 

Quais os avanços no sistema de educação infantil?

Vencemos o primeiro desafio: toda criança de 4 a 5 anos e 11 meses de idade na pré-escola. Até o fim da próxima década, o país e a sociedade, decerto, realizarão o propósito estabelecido em lei, de também universalizar o acesso de todas as crianças de até 3 anos na chamada creche. Ao longo da próxima década, os sistemas progredirão na oferta, ainda que parcial, da educação infantil em tempo integral (de custos muito elevados para a maioria dos municípios).

 

E qual o grande problema? 

Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a educação infantil se alicerça no tripé: cuidar, brincar, aprender. Contudo, a imensa maioria das instituições realiza, razoavelmente, apenas o cuidar e o brincar. Isto é, ainda não dominam os conhecimentos, competências e habilidades indispensáveis para a realização eficaz da exigência, também fundamental e pedagogicamente qualificadora, de a criança aprender conforme o estabelecido na forma de conjuntos de competências e de habilidades estabelecidos na BNCC. 

 

Qual o impacto no ensino da desvalorização do professor?

O professor é recorrentemente, desvalorizado profissionalmente, mal remunerado e submetido a condições de trabalho incongruentes com seu ofício. Isso exige certa relativização, no mínimo. Em primeiro lugar, o professor, há mais ou menos uma década, recebe como mínimo um piso nacional unificado de salário, anualmente corrigido com ganho real. Adicione-se a isso o fato de que a jornada de trabalho ligada ao piso tem sido, na imensa maioria dos casos, a jornada exercida em tempo parcial. Assim, vem se constituindo uma atmosfera subcultural, mais ou menos inconsciente, mas que produz impactos negativos continuado. 

 

 

Francisco Morales

Diretor pedagógico do Grupo Educacional Vereda, em SP 

 

Quais problemas o Brasil enfrenta hoje para ter uma educação de qualidade em todos os níveis?

O Brasil tem instituições de excelência em todos os níveis de ensino, tanto na área pública quanto na privada. Temos que reconhecer o esforço, a competência e a seriedade de muitas instituições brasileiras para levar em frente a sua missão com responsabilidade e transparência. Acho que o maior problema se refere à vontade política e ao projeto de país dos governos de plantão.

 

Como o país pode fazer uma revolução na educação? O que falta?

Penso que, primordialmente, investindo nas condições sociais e na formação de profissionais. Outros países fizeram esse trajeto e os resultados estão aí para quem quiser ver. Não será um processo nem curto e nem barato. Exigirá enormes recursos econômicos e humanos. Revolucionar é isso, mudar a evolução que as coisas têm no momento, dar a volta, tornar diferente. É um projeto político e social.

 

Quais os desafios para reformular o sistema educacional brasileiro? 

Desafios de gestão, capacitação de pessoas e infraestrutura física e humana.

 

Como fazer mais pela educação, com a participação de todos os atores da sociedade?

Mudando o que está ao alcance de cada um de nós. Pouco, neste momento, é muito. 


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