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Estado de Minas

Entidades de prevenção do suicídio criticam texto de Duvivier

Para a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio e a Associação de Suicidologia da América Latina e Caribe, artigo contém abordagem que não é recomendada pela Organização Mundial de Saúde


postado em 29/10/2019 20:10 / atualizado em 29/10/2019 23:53

A psicóloga Vivian Zicker, que integra as associações, ressalta que suicídios não devem ser colocados como saída para as adversidades (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 6/2/18 )
A psicóloga Vivian Zicker, que integra as associações, ressalta que suicídios não devem ser colocados como saída para as adversidades (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 6/2/18 )
Às vésperas da chegada do ator Gregorio Duvivier a Belo Horizonte, entidades que atuam em prol da prevenção do suicídio divulgam nota classificando como inadequada a abordagem do assunto em artigo do escritor que motivou cancelamento de prova no Colégio Loyola, no início do mês. Duvivier se apresenta na capital com o espetáculo Sísifo, sexta-feira e sábado.

O cancelamento da avaliação de Língua Portuguesa, aplicada à turma do 2º ano do ensino médio da escola particular, teve como principal motivação a reclamação de pais de alunos sobre conteúdo partidário, com críticas ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). Estudantes reagiram e fizeram abaixo-assinado contra a suspensão, com mais de 400 assinaturas, e o colégio decidiu que o novo exame seria facultativo. Na semana passada, impulsionado por esse fato, centenas de pais e estudantes dos colégios Santo Agostinho Central e Loyola saíram às ruas da Região Centro-Sul de Belo Horizonte para protestar contra o cancelamento da prova.

O assunto volta à cena com críticas ao texto pela Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps) e pela Associação de Suicidologia da América Latina e Caribe (Asulac). A nota diz que não se trata de censurar o artigo, mas de apontar o que não é recomendável expor. Conforme a nota, “textos e imagens sobre suicídio publicados de forma inadequada podem provocar efeito contágio potencialmente em vulneráveis”.

O comunicado considera que “diante de situações que considera graves no Brasil, (o texto) apresenta o suicídio e a automutilação como saídas, sendo contrário às recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e de especialistas na área da suicidologia de como abordar o tema”.

No artigo, o autor aponta que o governo é um “gatilho poderoso para a depressão” e que “se fosse indígena, quilombola, sem-terra ou sem-teto, talvez abreviasse minha vida antes que o governo fizesse isso por mim”. Também afirma que “se tivesse votado nesse governo contra a corrupção estaria comprando um chicotinho da Opus Dei e passaria dias me mutilando em praça pública”. E escreve que, se estivesse tentando o concurso do Itamaraty e visse o presidente nomeado o filho embaixador, “talvez desse um tiro no coco”, em referência à indicação de Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) para a Embaixada dos Estados Unidos.

Abordagem

“Não devemos banalizar o suicídio, colocando-o como saída das adversidades da vida, como só se restasse essa opção. É necessário, pelo contrário, potencializar a resiliência, a esperança, a flexibilidade”, afirma a psicóloga Vivian Zicker, integrante das duas entidades signatárias da nota pública e moderadora do Grupo de Apoio a Enlutados por Suicídio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

O suicídio tem como causa uma multiplicidade de fatores e está relacionado a transtornos psiquiátricos, não sendo adequado defini-lo como um escolha na maioria dos casos, segundo Abeps e a Asulac. “Pode ser que quem está ao seu lado, caladinho, sorrindo, esteja vivendo um processo interno de sofrimento psíquico”, afirma Vivian. A orientação, em caso de depressão, é buscar ajuda de profissionais especializados, como psiquiatras e psicólogos.

Duvivier estará em Belo Horizonte nesta semana. Ele se apresenta com a peça Sísifo, em 1º e 2 de novembro. Por causa da grande procura por ingressos, foi necessário abrir sessão extra da peça. Na época do cancelamento da prova, Duvivier se manifestou, lamentando o episódio, e sugeriu um debate sobre o fato. “Sinto muito pelos professores e alunos da escola. Dia 1º estou indo a BH, se quiserem encontrar pra debater a crônica e a censura”, escreveu em sua conta do Twitter. Ele elogiou a iniciativa dos jovens do Loyola de se opor à anulação. A reportagem tentou contato com o ator para comentar a nota, mas não obteve retorno e nem a confirmação se o debate será promovido.
 
Ele, inclusive, organiza uma mobilização na Praça Duque de Caixas, no Bairro Santa Tereza (Região Leste de BH), com artistas mineiros a favor da "liberdade na arte e no ensino". O encontro está marcado para este sábado (2), a partir das 11h. 


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