(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Perigo feito de lixo e água: falta de educação potencializa risco de inundações em BH

Estação chuvosa começa amanhã, enquanto a sujeira descartada nas ruas ameaça entupir drenagens e provocar alagamentos. Sem grandes obras, PBH vasculha drenagens e aposta em alertas para evitar tragédias


postado em 30/09/2019 06:00 / atualizado em 30/09/2019 08:02

Lixo descartado irregularmente próximo de área de alagamento na Avenida Francisco Sá: risco multiplicado pela falta de educação e pelo desleixo(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Lixo descartado irregularmente próximo de área de alagamento na Avenida Francisco Sá: risco multiplicado pela falta de educação e pelo desleixo (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press)


A lembrança foi de instantes, mas até o hoje tira o sono do comerciante Jovane Augusto Matos, de 45 anos. No último feriado de 15 de novembro, em Venda Nova, enquanto uma tempestade transformava em rios as avenidas Vilarinho e Doutor Álvaro Camargos, Jovane removia freezers e móveis para que não ficassem submersos. De relance, viu quando o carro com a estudante Anna Luísa Fernandes de Paiva, de 16 anos, e seu namorado, parou na Avenida Álvaro Camargos. Mostrando o braço arrepiado, lembra da tragédia. “Os bombeiros mandaram o casal sair de dentro do carro. Quando ela pisou para fora, a grelha (da galeria subterrânea) tinha sido levada. Ela caiu na galeria e sumiu na água. Desapareceu num segundo. Não vejo nada sendo feito para impedir esse tipo de tragédia”, afirma. A estação chuvosa começa amanhã e vai até março, mas transtornos provocados pelas primeiras precipitações da primavera na última semana são mais um alerta para os perigos que estão por vir.

Jovane não esquece a inundação que provocou a morte de Anna(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Jovane não esquece a inundação que provocou a morte de Anna (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


Quase um ano depois de o prefeito Alexandre Kalil (PSD) ter dito que as pessoas que circulam em Venda Nova não “molhariam mais que a sola dos sapatos”, as ações para evitar tragédias não animam, pois se resumem a manter as drenagens atuais limpas e remover pessoas de regiões de perigo com a chegada da estação chuvosa. O mesmo ocorre em áreas como as avenidas Francisco Sá e Prudente de Morais, que ainda têm projetos sendo desenvolvidos e são palcos de tragédias nas chuvas. Lugares onde o lixo e a obstrução das galerias ocorrem diariamente e potencializam o risco, como constatou a reportagem do Estado de Minas.

As únicas construções que podem aliviar a situação nas avenidas Vilarinho e Doutor Álvaro Camargos são as de duas barragens de retenção de cheias dos Córregos Lareira e Marimbondo, que ao se unirem formam o Córrego dos Borges (ou 12 de Outubro), sob a segunda avenida, antes de chegar na confluência com o Córrego Vilarinho. Mas a sua previsão é de que só estejam aptas a funcionar na temporada de chuvas 2020/2021, segundo o secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Josué Valadão. “A obra importante, que não aparece, é a das duas bacias de contenção. O projeto que foi estudado (para a Vilarinho, em 2018) foi isolado (abandonado). Para uma drenagem eficiente ou contém ou escoa a água.

Queríamos escoar (no primeiro projeto, que incluía a criação de canais paralelos aos dos atuais córregos), mas preferimos conter e descarregar de forma fluida e natural”, disse.

Contudo, não há ainda prazos definidos para essa obra. “Estamos tentando contratar, definir os projetos e obras no tempo mais rápido possível. Vai ser muito satisfatório. Vamos dividir em três etapas e cada uma com ações na região. A primeira, ao custo de R$ 200 milhões, a segunda, R$ 100 milhões, e a terceira, R$ 150 milhões”, disse Valadão.

A saída imediata, segundo o secretário, seria investir agora na rede já existente. “Tivemos uma ênfase muito grande na preparação e na infraestrutura para a cidade estar mais apta a passar pelo período chuvoso da primavera e verão. Nunca se investiu tanto quanto neste ano em desassoreamento de bacias de contenção, limpeza de galerias, limpeza de córregos, podas, supressões de árvores, limpezas de bocas de lobo, que são 60 mil no município”, afirma.

Esforços


Outra frente em que a prefeitura atua para evitar tragédias, sem grandes investimentos em obras e para pronta implementação, são os planos de contingência e defesa civil, especialmente em 23 áreas tidas como as mais críticas. Os esforços são para permitir a antecipação de tempestades pelo uso de radares, monitoramento de chuvas e níveis de corpos hídricos por meio de estações hidrometeorológicas e câmeras da BHTrans e Guarda Municipal. Alertas serão enviados a 190 mil pessoas cadastradas no SMS nacional do número 40199, 200 mil usuários do metrô, 30 mil frequentadores do Aeroporto Internacional de Confins e assinantes de TV a cabo. Quem utiliza o aplicativo de mapeamento de trânsito Waze também será direcionado para fora de áreas de alerta.

Enedno dos Santos pede obras. 'A gente foge, mas a nossa loja fica'(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Enedno dos Santos pede obras. 'A gente foge, mas a nossa loja fica' (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)


As regiões das avenidas Tereza Cristina e Vilarinho passam por treinamentos de planos de contingenciamento de defesa civil. Na primeira, mais de 100 componentes do sistema de defesa civil – como bombeiros, policiais, BHTrans, Guarda Municipal e outros – fizeram um exercício no último dia 21 para afinar procedimentos de bloqueio de trânsito, desvios e orientação da população. Na Tereza Cristina, o exercício ocorreu neste fim de semana, em sua quarta edição.

Contudo, isso não parece ser suficiente para animar quem já enfrentou problemas com as chuvas ou passa regularmente por essas regiões. “Só o que vi, até agora, foram paliativos. Nada que afaste os riscos que corremos. Temos uma pessoa na loja que recebe o SMS. Mas aqui, pela nossa experiência, ao vermos o jeito da chuva, já fechamos as portas e avisamos que é para as pessoas saírem. Só que, sem obras, a gente foge, mas a nossa loja fica”, lamenta o gerente de vendas Enedno dos Santos, de 38, há 20 trabalhando na Avenida Vilarinho. Na sua loja de materiais elétricos e de construção, as comportas de aço vedadas e até muros para desviar a água servem apenas para retardar as inundações e permitir a fuga das pessoas para locais mais altos.

Série de mortes

Depois de Anna Luísa Fernandes de Paiva, de 16 anos, cair dentro de galeria durante temporal em 15 de novembro, o corpo dela foi encontrado no dia seguinte, a sete quilômetros do local do incidente, numa das margens do Ribeirão Isidoro, onde o Córrego Vilarinho deságua. Naquele mesmo dia, Cristina Pereira Matos, de 40, e sua filha, Sofia Pereira, de 6, morreram afogadas, presas dentro do carro, um Palio que capotou e foi arrastado submerso pela Avenida Vilarinho até as proximidades com a linha do metrô e o viaduto da Avenida Dom Pedro I. A quarta vítima do temporal do dia 15, também na Avenida Vilarinho, foi Jonnattan Reis Miranda, de 28, que segundo parentes sofria de esquizofrenia  e pulou na enxurrada. 


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)