
Natural de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, padre Belchior se tornou um “filho ilustre” de Pitangui embora sem nascer ali, diz o secretário municipal de Cultura, Turismo e Patrimônio Histórico, Antônio Marcos Lemos. “Nossa maior comenda, entregue no aniversário da cidade, em 9 de junho, a personalidades que trabalham pela cultura, a liberdade e o social, leva o nome dele. O padre gostava tanto de Pitangui, que escolheu morrer aqui”, afirma o secretário, explicando que, hoje, haverá cerimônia cívica e visita ao túmulo do padre, no adro da igreja matriz.
Localizado na Rua Padre Belchior (na cidade, a pronúncia é de ch mesmo), o casarão do século 18, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já tem 70% das obras de restauro prontas. A expectativa é de inaugurá-lo em março de 2020, a dois anos, portanto, da comemoração do bicentenário da Independência. “O prédio vai abrigar a sede da prefeitura. Como é tombado pelo Iphan, a construção não é de relevância apenas em Pitangui, mas para todos os brasileiros. É um patrimônio nacional”.
Antes pertencente a particulares, a edificação da Rua Belchior foi alvo de uma mobilização na cidade, encabeçada pelo Conselho Municipal do Patrimônio, para que não deteriorasse ainda mais. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) interveio com um procedimento que evoluiu para ação civil referendada pelo Tribunal de Justiça. Assim, em 2017 a prefeitura fez uma permuta com os proprietários, assumiu a propriedade e se encarregou das obras, que tem recursos do MPMG, por meio de condicionantes ambientais, do Fundo Municipal de Cultura e receitas ordinárias.
MINAS PRESENTE
Pesquisador do tema, o promotor de Justiça e integrante do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG), Marcos Paulo de Souza Miranda, destaca uma frase do diálogo que se tornou célebre entre dom Pedro I e padre Belchior, seu conselheiro, confessor e confidente, antes da proclamação da Independência – o mineiro estava ao lado do príncipe em 7 de setembro de 1822, “na colina do Ipiranga”, em São Paulo. “A decisão de dom Pedro I sobre a independência teve influência muito forte e direta do mineiro. Ao receber as cartas de dona Leopoldina (1797-1826), noticiando que Portugal exigia o retorno imediato dele à Europa, Pedro I indagou de imediato ao seu amigo: 'E agora, Padre Belchior?'.O padre, que também era maçom e arquitetava há tempos a liberdade de nossa pátria, respondeu de pronto: 'Se vossa alteza não se faz rei do Brasil, será deserdado por elas. Não há outro caminho senão a independência e a separação'”. Souza Miranda complementa: “Logo em seguida, houve o famoso Grito do Ipiranga. Assim, Minas Gerais esteve presente naquele momento decisivo da História do Brasil. De acordo com a superintendência em Minas do Iphan, o casarão do padre Belchior foi construído entre 1787 e 1798, servindo de residência ao religioso e ao capitão-mor José da Silva Capanema. O tombamento pela União se deu em 1980.