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Estado de Minas

Moeda distribuída pela Vale, a 'Bitmonkey', muda preços em Macacos

Distribuídos pela Vale para driblar efeitos negativos do risco em barragem, vouchers viram referência para preços da alimentação em Macacos, com altas e quedas forçadas


postado em 21/04/2019 06:00 / atualizado em 21/04/2019 07:48

Estabelecimento anuncia o recebimento dos vouchers da Vale, apelidados de %u2018bitmonkeys%u2019 pela população do distrito de Nova Lima (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS )
Estabelecimento anuncia o recebimento dos vouchers da Vale, apelidados de %u2018bitmonkeys%u2019 pela população do distrito de Nova Lima (foto: Fotos: Leandro Couri/EM/DA PRESS )

 

Os “bitmonkeys” mudaram o comércio local em São Sebastião das Águas Claras, distrito popularmente conhecido como Macacos, em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte. A nomeação, que faz a junção de bitcoin (moeda eletrônica) e o termo macaco em inglês, foi atribuída aos vouchers distribuídos pela Vale aos moradores com o objetivo de minimizar os danos econômicos decorrentes do afastamento dos turistas, que deixaram de frequentar o vilarejo desde que o nível de segurança da barragem B3/B4 foi elevado para 3, as sirenes tocaram e alguns moradores foram realocados em pousadas.

Os vales podem ser usados para compras em supermercados, restaurantes e outros estabelecimentos que comercializam alimentos. Como o dinheiro sumiu, os comerciantes colocam placas, como indicação de recebimento, por toda a cidade. Em 3 de abril, a Prefeitura de Macacos cadastrou 1,2 mil moradores para receber o cupom no valor de R$ 20.

O artista plástico Paulo Fatal, morador do distrito há dois anos, denunciou que alguns estabelecimentos aumentaram os preços dos produtos em até 20%. “Os vouchers da mineradora viraram moeda local e passaram a ser aceitos pelos comerciantes de Macacos. Que em peso, com abjeta ganância, imediatamente subiram os preços em cerca de 20%”, escreveu em suas redes sociais. Ele cita como exemplo o valor cobrado por uma marmita, cujo preço passou de R$ 15 para R$ 18. “Macarrão, pão de forma, itens de alimentação básica. Tudo aumentou. Faceta perversa que me impressiona”, completa.

A aposentada Vicentina de Souza, de 75 anos, usou os “bitmonkeys” para fazer a compra de suprimentos para casa: açúcar, arroz, óleo, farinha de trigo. “Não gosto dessas coisas. Fico muito sem graça em receber. Mas todo o povo está recebendo”, afirma. De acordo com ela, cada um dos integrantes da família recebe, por semana, voucher com valores unitários de R$ 20 e sem possibilidade de troco. Segundo ela, cada um dos três integrantes da família recebe R$ 280, semanalmente. Os moradores se queixam de o voucher não permitir a compra de produtos de limpeza, por exemplo.

Com a queda drástica no número de turistas, muitos comerciantes contam com os vouchers para manter a receita dos estabelecimentos. “Estamos muito chiques. Macacos tem a sua própria moeda”, brinca a proprietária de uma venda, Silvana de Souza. Um dos inconvenientes é que se o morador quiser comprar um produto com valor abaixo de R$ 20 não consegue. “Ele tem que comprar até inteirar o valor do voucher”, afirma. Com a queda no turismo, muitos estabelecimentos comerciais fecharam as portas.

Ao mesmo tempo que os clientes reclamam do aumento dos preços, os proprietários de restaurantes afirmam que tiveram que adequar o valor dos pratos ao do voucher, tendo que reduzi-los em alguns casos. Foi o que ocorreu na Cabana Marcenaria e Bistrô, que diminuiu o preço dos pratos servidos. “Virou a moeda local. Não aceito para outros produtos. É o que está segurando o mercado”, afirma o empresário, Rolf Flister. “Tive que reduzir o valor do prato. Então, temos que adequar o tamanho da refeição sem reduzir a qualidade”, diz. “Abri o negócio há dois anos. Estava em ascensão. A casa vinha sendo bem-vista. Aí veio o baque e tenho que cortar os custos.”

Para ele, os vouchers injetam recursos no comércio local, mas não são suficientes para garantir o sustento dos empreendimentos a médio e longo prazo. “Um restaurante não serve apenas comida. Temos a parte de coquetelaria e até mesmo os shows”, pontua. Ele defende a retomada do turismo no distrito que ele escolheu para abrir o empreendimento.

Os comerciantes locais se queixam da forma de pagamento feita pela Vale no cartão de crédito. Eles consideram as taxas de antecipação muito altas, em torno de 5% e 7%. Outro problema apontado por moradores é o uso ser limitado à compra de alimentação. O restante dos pontos de comércio, como loja de roupas ou farmácias, não podem receber os cupons, e estão com os produtos parados e muitos ameaçam baixar as portas.

Por meio da nota, a Vale informou que os vouchers para alimentação vêm sendo fornecidos pela empresa no distrito desde 22 de março a cerca de 2.700 pessoas. Os tíquetes de alimentação coloridos (um para cada dia da semana) têm valor total de R$ 40 para almoço e jantar e podem ser usados em 47 estabelecimentos do distrito. “A Vale reitera o seu compromisso com a comunidade de Macacos até que a situação seja completamente regularizada”, diz o texto.

Desocupações em série


A retirada de moradores de imóveis em áreas de salvamento de barragens de risco começou em 8 de fevereiro. Naquele dia, moradores de Itatiaiuçu, na Grande BH, foram acordados de madrugada por bombeiros e policiais militares. A evacuação se deveu à mudança do fator de segurança da barragem da Mina Serra Azul, da ArcelorMittal. Aproximadamente 170 pessoas tiveram que deixar as casas. No mesmo dia, famílias de Barão de Cocais, também na Região Metropolitana de Belo Horizonte, passaram por um susto parecido: sirenes alertando sobre o risco de rompimento da barragem soaram na madrugada e aproximadamente 450 pessoas tiveram que deixar seus imóveis devido aos problemas constatados na barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, da Vale. Em 16 de fevereiro, 300 moradores de São Sebastião das Águas Claras, distrito conhecido como Macacos, em Nova Lima, na Grande BH, foram retirados de casas diante dos riscos na barragem B3/B4 da Mina Mar Azul, da Vale. Quatro dias depois, a evacuação ocorreu em outra área de Nova Lima e em Ouro Preto. Dessa vez, a ameaça veio da barragem de Vargem Grande, que fica em Nova Lima. Foram retiradas das casas aproximadamente 115 pessoas.

 


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