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Estado de Minas

Sermão contra as mineradoras marca Sexta-feira da Paixão no santuário de Nossa Senhora da Piedade

Milhares de fiéis participaram na manhã desta sexta-feira da Via Sacra e encenação da Paixão de Cristo na basílica da padroeira de Minas Gerais. O padre Carlos Antônio fez uma reflexão sobre a 'ganância' das mineradoras e lamentou tragédias envolvendo a Samarco e Vale em Mariana e Brumadinho


postado em 19/04/2019 14:06 / atualizado em 19/04/2019 20:53

Ver galeria . 18 Fotos Jair Amaral/EM/D.A Press
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press )

A fé venceu o sol forte e um percurso de 5,5 quilômetros com várias subidas. Milhares de fiéis acordaram cedo no feriado da Sexta-feira da Paixão e participaram da Via Sacra e encenação da morte de Cristo no Santuário da Basílica Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ao som de canções religiosas, em cada uma das 15 estações que retratam da condenação à ressurreição de Jesus os peregrinos rezavam a Ave Maria e o Pai Nosso.

No sermão, o pró-reitor do Santuário, padre Carlos Antônio da Silva, lamentou tragédias como a de Brumadinho e Mariana, causadas pela “ganância”, e rechaçou a possibilidade de exploração na escosta da Serra da Piedade.

A peregrinação de um grupo de 15 amigos de Sabará começou bem antes: às 22h30 de quinta-feira. Eles saíram do bairro Nossa Senhora de Fátima e foram até a basílica à pé. No caminho de 42 quilômetros, se revezaram para carregar uma cruz de cinco quilos. Ao chegar no topo do santuário, o cansaço deu lugar ao discurso de agradecimento e fé.

(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


“Há sete meses meu sobrinho foi desenganado pelos médicos, que disseram que ele nunca mais andaria. Hoje ele está correndo para todo lado e jogando bola. Eu tinha um nódulo no peito e tive que operar às pressas. Na hora da cirurgia os médicos viram que o nódulo havia sumido. Foram as orações”, comemora o pedreiro Sirlei Luciano de Oliveira, que pela primeira vez fez a caminhada que se tornou uma tradição no grupo, iniciado em 1993.
Sirlei Luciano de Oliveira fez pela primeira vez fez a caminhada(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Sirlei Luciano de Oliveira fez pela primeira vez fez a caminhada (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


Quem também só pensou em agradecer foi o engenheiro mecânico Flávio Dutra, que há cinco anos faz questão de participar da cerimônia da sexta-feira santa. Na companhia de outros ciclistas, ele foi até o santuário para agradecer pela saúde do filho e dos sobrinhos gêmeos que nasceram enquanto ele fazia o percurso. “Cada ano que venho é uma forma de agradecer a Deus pela vida e saúde”, disse.

Ambição e ganância

Terminado o caminho de Cristo até o calvário – marcado por azulejos instalados para retratar cada uma das estações –, foi a vez da encenação da Paixão de Cristo na Praça Cardeal Horta, em frente a basílica, pelo grupo teatral Cenarte.

“Rezar a Via Sacra e assistir à morte de Cristo tem um valor no momento presente numa sociedade que tem a cultura da morte, furto da ambição e da ganância. Fazer a Via Sacra é poder caminhar fazendo do silêncio sagrado uma profunda reflexão de nossa vida, rezarmos o luto do mundo”, ponderou padre Carlos.

Flávio Dutra foi até o santuário para agradecer pela saúde do filho(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Flávio Dutra foi até o santuário para agradecer pela saúde do filho (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
O religioso fez ainda um discurso contra o que chamou de “lama da ganância”, em alusão às tragédias envolvendo a Samarco, em Mariana, que deixou 19 pessoas em novembro de 2015, e a Vale, em Brumadinho, em janeiro deste ano, com saldo até agora de 231 mortos e 41 desaparecidos.

“Minas é o estado da mineração, mas é preciso saber onde e como operar. O que não pode é essa sede de poder, essa falta de respeito ao meio ambiente. Temos que defender e cuidar da Serra da Piedade. Mineração aqui, não. Aqui é um solo sagrado para razarmos nossas dores”.

O padre Carlos referia-se a autorização recente do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) para a exploração da encosta da serra pela empresa AVG Empreendimentos Minerários. A mineração da Mina do Brumado começou nos anos 1950 e foi interrompida há 14 anos por decisão judicial. A AVG quer explorar novamente a mina, com a justificativa de recuperar a área degradada. Para isso, segundo a empresa, seria necessário retomar a lavra.


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