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Estado de Minas

Encontro de gerações no centenário de Seu Olympio

A celebração foi marcada pela presença de antigos frequentadores da cantina, entre amigos, conhecidos e familiares do lendário garçom


postado em 31/12/2018 06:00 / atualizado em 31/12/2018 08:21

Cantina do Lucas celebrou os 100 anos do nascimento do garçom, que atuou lá por quatro décadas e trabalhou até os 82 anos (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )
Cantina do Lucas celebrou os 100 anos do nascimento do garçom, que atuou lá por quatro décadas e trabalhou até os 82 anos (foto: Fotos: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press )

Difícil encontrar em Belo Horizonte um morador adulto que nunca tenha visitado, uma vez que seja, a tradicional Cantina do Lucas, localizada no Edifício Maletta, no Centro da cidade. O hábito de almoçar, jantar, ou apenas tomar uma cerveja ou drinks com os amigos, passa de geração a geração. Ontem, a visita ao estabelecimento, inaugurado em 1962, foi especial pois foi comemorado o centenário de Olympio Perez Munhoz, ou simplesmente Seu Olympio, o garçom que ficou mais tempo ativo no Brasil. O garçom, que morreu em 2003  trabalhou até os 82 anos na cantina, feito que lhe rendeu a presença no Guinness Book. “Foi o funcionário que mais representou a cantina em todos esses anos. Foram mais de 40 anos de serviços prestados em uma profissão que quase nunca era valorizada na época. Um patrimônio de um estabelecimento que é patrimônio de Belo Horizonte”, ressaltou Antônio Mourão, gerente da Cantina do Lucas. 


A assistente social Sylvia Helena Macedo Costa, de 53, é uma cliente fiel. Desde pequena, já frequentava o restaurante com os pais. O hábito de mais de 40 anos se repetiu ontem para homenagear o Seu Olympio. “Hoje (ontem) foi especial. Meu pai conheceu o Seu Olympio e eu também”, disse. Para não perder o costume, ela juntou toda a família para o almoço. Além dos pais, os sobrinhos também a acompanharam. A homenagem para o Seu Olympio esteve presente também no pedido. Eles optaram pelo prato que leva o nome do famoso funcionário, que morreu em 2003.

O Filet Olympio (R$ 47,70, individual) vem acompanhado de arroz de açafrão, ovo, molho, batata palha e brócolis. “Pedimos o prato principal do dia. Ganhamos um copinho que vem com uma inscrição dos 100 anos dele. Muito bacana a homenagem”, comentou.   

Segundo o gerente Antônio Mourão, até o meio da tarde foram mais de 150 pedidos pelo prato em homenagem ao garçom, que também tem um toque do cartunista Ziraldo, mineiro de Caratinga, no Vale do Rio Doce: a estampa do copo dado de brinde, assinada pelo artista.  “Quando Seu Olympio chegou aos 80 anos, o Ziraldo fez uma caricatura que estampou uma camisa comemorativa. Foi um evento muito legal na época”, contou Mourão. É essa caricatura que está agora no copo. O prato será servido até 6 de janeiro.

Ontem, o dia ficou marcado pela presença de antigos frequentadores da cantina, entre amigos, conhecidos e familiares do lendário garçom. “É um lugar tradicional e marcante na cultura de Belo Horizonte. Então, a gente curte muito. Isso vai se renovando e outras gerações vão conhecendo, como meus sobrinhos de 17 e de 16. Então, vai sendo repassado para os mais novos”, completou a assistente social Sylvia Helena.  Nascido em Santos (SP), era filho de espanhóis. Escolheu Belo Horizonte como sua cidade e tornou-se cidadão honorário. É, sem dúvida alguma, um grande personagem da história da cidade.

O garçom de todos
Vai longe o ano de 1979. Entro para o Estado de Minas para ser diagramador enquanto estudava comunicação. Assim que terminava o trabalho, era quase uma obrigação ir à Cantina do Lucas, ali no Edifício Maletta. E quem atendia era o garçom da boemia de BH:  Seu Olympio. Era o garçom de todos. Tratava todos com delicadeza. Sabia as preferências de cada um. E aos clientes especiais, sua pinga. Não cobrava nada. 

É célebre a história de como Seu Olympio, conhecido como comunista, driblava agentes da ditadura em defesa dos militantes de esquerda que frequentavam o bar. Se pressentisse algum perigo avisava: “O filé à cubana acabou.” Ninguém falava de política.  Indicado para receber a comenda Alferes Tiradentes, concedida pelo governo de Minas, num momento em que sua mulher estava doente, perguntou ao emissário do Executivo: “Será que não daria pra trocar essa comenda por uma vaga num hospital?”. Esse era Seu Olympio, o garçom dos intelectuais mineiros.


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