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Estado de Minas

Beleza dos ipês contrasta com supressão de árvores em pontos de Belo Horizonte

Ipês em flor deslumbram quem passa pelas ruas da capital, em contraste com o corte de árvores na Praça da Liberdade para readequação do trânsito. PBH promete substituição


postado em 28/08/2018 06:00 / atualizado em 28/08/2018 07:58

Antes mesmo da primavera, ipês floridos dominam a paisagem de Belo Horizonte, com incidência de quatro das 20 espécies da árvore (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Antes mesmo da primavera, ipês floridos dominam a paisagem de Belo Horizonte, com incidência de quatro das 20 espécies da árvore (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


A primavera só começa em 22 de setembro, mas as ruas de Belo Horizonte já exibem cores fortes que prenunciam a nova estação e deixam para trás o tom acinzentado do inverno. Como “rei do pedaço” das últimas semanas, o ipê-rosa dá o ar da graça na paisagem e vai substituindo, aos poucos, a espécie amarela, considerada árvore símbolo do Brasil. Para quem gosta de contemplar um exemplar da natureza, de pequeno porte ou frondoso, a capital oferece um prato cheio em quase todos os sentidos: é bom de ver, de pegar as flores que formam tapetes no chão, e de ouvir alguém comentando sobre a beleza das copas. Já na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) cortou cinco árvores para, segundo os técnicos, fazer a readequação do trânsito.

“Os ipês dão alegria e cor à cidade. Gosto muito desta época”, disse, ontem, a designer Scarlet Fernandes, que mora no Bairro Ouro Preto, na Pampulha, e trabalha no Funcionários, na Centro-Sul. Mesmo contemplando os frondosos ipês rosados no entorno do Colégio Arnaldo, Scarlet dá preferência aos de cor branca, “pois inspiram paz”. Na região da Pampulha, há vários ipês no entorno da lagoa e muitos servem de moldura para o conjunto moderno reconhecido como paisagem e patrimônio cultural da humanidade.

Para quem acha que no ano passado os ipês estavam mais floridos e imponentes do que agora, é bom prestar a atenção na explicação do professor de ecologia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Sérvio Pontes Ribeiro, residente no Bairro Anchieta, na Centro-Sul da capital. Há uma variação bianual na floração dos ipês para evitar a predação das sementes por pragas; dessa forma, se em 2017 houve maior floração, desta vez tem menos e assim sucessivamente.

A floração também é muito sensível à condição climática e, em especial, ao estresse hídrico. Se há chuva, como ocorreu neste agosto, é disparado automaticamente um gatilho fisiológico, já que as sementes têm pouca resistência às águas. “A floração mostra que a seca está acabando”, diz o professor, que gosta dos ipês-amarelos, nativos do Brasil, enquanto os rosados são provenientes da Costa Rica.

(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
(foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


COPAS E CORES  Em Minas, há 20 espécies diferentes de ipês – com incidência, em Belo Horizonte, dos tipos amarelo, rosa, roxo e branco, que é o de floração mais efêmera. Nas estradas que ligam a capital às cidades vizinhas e comunidades rurais, é possível ver uma profusão dos espécimes amarelos, formando uma massa dourada que fica mais reluzente em dias ensolarados. Os moradores da metrópole também não precisam se queixar: basta simplesmente olhar para cima e admirar as copas das árvores ou ir até o alto de um prédio se encantar com as flores a poucos metros dos olhos.

Moradora de São José da Lapa, na Grande BH, e se deslocando diariamente para fazer estágio na área de biomedicina, na capital, a estudante Fernanda Dias fica atenta ao movimento das ruas e, quando pode, olha para as flores que tingem as vias públicas. “São lindas, trazem leveza e beleza à cidade”, disse a jovem, ao passar na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Contorno, na Região Centro-Sul.

Bem distante dali, na Rua Paissandu, no Bairro Sagrada Família, na Região Leste, a professora e engenheira civil Valéria Gonçalves da Silva subia a ladeira fazendo a tradicional caminhada. Ao parar diante do frondoso ipê, perto de casa, Valéria contou que a árvore é um orgulho para a região. “Todo mundo passa aqui e fica maravilhado. Gosto muito de admirar”, afirmou.

PRAÇA DA LIBERDADE 
Se a cidade exibe suas cores exuberantes e agrada à população, há um contraponto na Praça da Liberdade, o espaço nobre da capital localizado na Centro-Sul. Na tarde de ontem, era possível ver os tocos de cinco árvores que foram cortadas para dar lugar à readequação do trânsito. Moradores e visitantes que passaram pelo cartão-postal da cidade, atualmente em obras e fechado com tapumes, estranharam a retirada de árvores em frente do Palácio da Liberdade – elas estavam plantadas no canteiro localizado entre o espaço público e a sede do governo de Minas. Porém, cinco espécimes acabaram retirados, o que gerou revolta. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que será realizada a adequação viária no trecho e que outras árvores serão colocadas no local.

Tronco de árvore cortada em frente ao Palácio da Liberdade para dar espaço a uma faixa de trânsito. Ação provocou revolta entre moradores (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)
Tronco de árvore cortada em frente ao Palácio da Liberdade para dar espaço a uma faixa de trânsito. Ação provocou revolta entre moradores (foto: Leandro Couri/EM/DA Press)


Em nota, a administração municipal afirmou que a retirada das árvores não faz parte da revitalização da Praça da Liberdade, e sim de uma adequação no trânsito no entorno. Segundo a BHTrans, o canteiro central onde estavam os espécimes será transferido para mais próximo dos jardins. Com isso, será possível ganhar mais uma faixa de trânsito em direção à Avenida Bias Fortes. “Ao fim das obras, palmeiras-imperiais serão plantadas no canteiro central, em substituição aos espécimes que tiveram que ser retirados”, informou a autarquia.

Em uma página no Facebook, internautas ficaram revoltados com a retirada das árvores. “Agradeça ao mesmo arquiteto que cortou todas nos arredores da Lagoa da Pampulha, ele está sendo bem pago pra isso”, disse uma moradora. “Gente, que horror! Cadê os órgãos responsáveis pela proteção? Estão concordando com esses absurdos?”, cobrou outra. “Até quando vamos assistir calados a esses crimes contra a vida??!!”, questionou uma terceira.


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