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Estado de Minas

'Hipocrisia e atraso', diz artista que teve mural 'censurado' na Praça da Liberdade

A arte de Patrícia Caetano expunha os mamilos e a genitália de uma personagem feminina cartunizada


postado em 01/08/2018 18:06 / atualizado em 01/08/2018 18:38

(foto: Facebook/Reprodução)
(foto: Facebook/Reprodução)

Um dos grafites que colore os tapumes das obras na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de BH, amanheceu pichado nesta quarta-feira. O desenho da artista plástica Patrícia Caetano, pintado no último domingo, exibe uma mulher nua com os cabelos ao vento e braço florido. A ação provocou a revolta de muitas mulheres, que se manisfestaram por meio das redes sociais.

O autor da pichação cobriu as partes íntimas da personagem com tinta spray branca. Em entrevista ao Estado de Minas, Patrícia disse não ter se surpreendido com a atitude. "Eu já estava esperando isto, porque a gente conhece o jeito que as pessoas reagem a esse tipo de exposição. Até achei que demorou muito."

Para ela, além de ser crime, o ato é uma forma de violência. "Parabéns, tradicional família mineira que não tem corpo, não se aceita, não tem alma, e resolveu censurar meu trabalho. Este é o seu atestado e sua assinatura de hipocrisia, atraso e recalque", escreveu Patrícia em uma publicação nas redes sociais. Após o post, a artista disse que recebeu diversas mensagens de mulheres, que também se sentiram ofendidas com o ato.

Mesmo vedado ao público pelos tapumes, o cartão postal da capital mineira se tornou um atrativo no último domingo para moradores e visitantes em férias, que foram conferir ao vivo o trabalho dos grafiteiros. A obra de Patrícia demorou mais de 6 horas para ficar pronta. "Acho que todas as pessoas tem direito de não gostar, sou aberta a críticas. Mas, sem atacar uma expressão que levou tanto tempo para ser feita, desconsiderando o cansaço mental e físico do artista. Passei horas debaixo de sol quente", pontua.

A artista plástica fez o desenho em homenagem às mulheres. Ela conta que queria passar uma mensagem politizada, mas sem ser agressiva e, por isso, optou por um traço mais lúdico. "Queria homenagear e, ao mesmo tempo, pedir respeito. Respeito aos nossos corpos. Respeito ao nosso direito de ir e vir. Não quis fazer nada agressivo", relata. Patrícia ainda conta que não recebeu nenhuma critica do público que acompanhou a execução do seu trabalho na tarde de domingo. "No dia, fiquei muito feliz com a receptividade das pessoas. Tinham pais e crianças ali, muitos admirados pela delicadeza do desenho", conta.

A pichação é um crime previsto na Lei 9.605/98, cujo artigo 65 estabelece que o ato de pichar ou danificar a imagem de edificações ou monumentos públicos urbanos deve ser punido com pena de detenção que varia de três meses a um ano,e multa. Questionada, Patrícia disse que pretende registrar um boletim de ocorrência. Procurada pela reportagem, a Polícia Civil informou que ainda não recebeu nenhuma denuncia formal do ocorrido.

A iniciativa de pintar os tapumes e transformá-los no Mural Liberdade foi idealizada e organizada em apenas 10 dias pelo Instituto Amado, com apoio da Prefeitura de Belo Horizonte. Os tapumes, de 7,7 metros x 2,2 metros, em sua maioria, mostram cenas diversas – esporte, cenas urbanas, brinquedos, gastronomia etc. – produzidas com criatividade, cores, spray e pluralidade cultural. As atividades têm apoio do Movimento Gentileza. Por meio de nota, a PBH informou que lamenta o ocorrido.

* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie


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