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Estado de Minas

Campanha defende santuário da Serra da Piedade como patrimônio da humanidade

Na festa dos 58 anos da consagração de Nossa Senhora da Piedade como padroeira de Minas, grupo dá a partida em projeto para buscar título da Unesco para o santuário erguido em Caeté


postado em 01/08/2018 06:00 / atualizado em 01/08/2018 07:51

(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


De Minas para todo o universo da fé. Centro espiritual, histórico, ambiental e paisagístico com mais de 250 anos de peregrinações e visita anual de cerca de meio milhão de pessoas, o Santuário da Serra da Piedade, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, quer ser patrimônio da humanidade. A iniciativa, que ganha adesões e já tem um grupo trabalhando para encaminhar o projeto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), foi divulgada, ontem, no topo do maciço, durante a cerimônia comemorativa dos 58 anos de oficialização de Nossa Senhora da Piedade como padroeira do estado. “Minas tem quatro locais já reconhecidos pela Unesco e apoiamos essa boa ideia, pois aqui temos a magnífica arquitetura divina”, afirmou o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo.


A festa em homenagem à padroeira teve início às 14h, com a inauguração, ao ar livre, da revitalização da Praça Dom Cabral, custeada pela Prefeitura de Caeté e com aprovação da Câmara Municipal. Em seguida, houve uma procissão com a réplica da imagem da santa que está no altar da ermida e outra de São José, da praça até a Basílica Ermida da Padroeira de Minas Gerais – Nossa Senhora da Piedade, construída no século 18 e que abriga a peça barroca original esculpida por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814). No templo, às 15h, dom Walmor presidiu a missa, concelebrada pelo reitor do santuário, padre Fernando César do Nascimento, e pró-reitor padre Carlos Antônio da Silva. Até 15 de setembro, período do jubileu, o clima é de festa, com ampla programação (veja quadro).

Ao abençoar o espaço inaugurado ontem – tem agora um painel eletrônico para dar informações, inclusive a temperatura – e aspergir água benta sobre os presentes, dom Walmor destacou a data de 31 de julho de 1960, quando houve festa na Praça da Liberdade, na capital, após decisão do Vaticano “Estamos aqui 58 anos depois comemorando a oficialização dessa consagração de Nossa Senhora da Piedade como padroeira do estado. Este lugar é um patrimônio da devoção do povo de Minas e, especificamente de Caeté, que tem cuidado do seu patrimônio e zelado pela preservação”, afirmou. Ele ressaltou ainda que a Praça Dom Cabral homenageia o primeiro bispo de Belo Horizonte, dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967).

Operários que trabalharam em canteiro de obras no santuário carregaram os andores com as imagens de Nossa Senhora e São José na procissão até a ermida (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Operários que trabalharam em canteiro de obras no santuário carregaram os andores com as imagens de Nossa Senhora e São José na procissão até a ermida (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Acompanhando o arcebispo na procissão até a basílica, o padre Fernando César lembrou que a comemoração dos 58 anos é uma referência para todo o país, de forma especial nesses tempos de crise, pelo respeito, religiosidade e dignidade à padroeira e ao território sagrado. Ao lado, o pró-reitor acrescentou que se trata de um “chamado” para que as pessoas tomem consciência da realidade em que estão vivendo e citou também o momento de crise. “É um exemplo de fé que Minas oferece ao país”, afirmou.

PROJETO O prefeito de Caeté, Lucas Coelho Ferreira (PTB) é um dos articuladores do projeto para tornar a Serra da Piedade um patrimônio da humanidade, como já ocorreu, em Minas, com o Centro Histórico de Ouro Preto e o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, ambos na Região Central, o Centro Histórico de Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, e o conjunto moderno da Pampulha, que conquistou os títulos de Patrimônio Cultural e Paisagem Cultural da Humanidade, há pouco mais de dois anos.

“A Serra da Piedade, sem dúvida, é o ponto mais bonito de Minas e um dos mais belos do país. Além de ser um lugar de espiritualidade, atrai o turismo, recebendo cerca de 500 mil pessoas por ano. Para nós, de Caeté, é muito bom, pois com todos os benefícios feitos aqui, desde que dom Walmor assumiu a arquidiocese, a região é conhecida no mundo inteiro”, disse o prefeito. Ele informou que vem tratando, inclusive com políticos, para que a ideia se concretize.

Com o neto Pedro, dona Geralda pediu graças e paz para o mundo (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Com o neto Pedro, dona Geralda pediu graças e paz para o mundo (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


A revitalização da Praça Dom Cabral ficou em R$ 150 mil, pagos pela prefeitura com autorização do Legislativo municipal. “Nós ainda fazemos pouco por um lugar que é chamado de magnífica arquitetura divina”, explicou o chefe do Exercutivo. O serviço incluiu a troca do piso de todo o espaço e instalação de dois arcos de metal, que dão acesso ao topo da serra. Já a arquidiocese de BH mandou instalar um painel de LED, que trará informações para os visitantes e mostrará a temperatura ambiente. Ontem, na estreia, embora ainda sendo regulado pelos técnicos, o equipamento apontou 12 graus. Nesse clima, ora frio, fora quente, quando o sol surgia entre as nuvens, dom Walmor, o reitor do santuário e o prefeito de Caeté descerraram uma placa comemorativa.

FESTA DA FÉ Durante a procissão até a ermida, um dos momentos mais emocionantes foi ver os andores de Nossa Senhora da Piedade e São José carregados pelos operários que trabalharam na revitalização da Praça Dom Cabral. Eles estavam com seus uniformes e capacetes e, à frente, seguiam as freiras da Congregação das Irmãs Auxiliares de Nossa Senhora da Piedade (Ciansp), que atuam no santuário.

Revitalizada, a Praça Dom Cabral foi reinaugurada durante a festa (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Revitalizada, a Praça Dom Cabral foi reinaugurada durante a festa (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)


Quando as imagens chegaram à entrada da ermida, muitos fiéis fizeram seus pedidos e aproveitaram para tirar fotos. “A primeira vez que vim à Serra da Piedade foi em 1955, no meu batizado. Desde então, estou sempre aqui”, contou o agrimensor Valdir Bartolomeu Rodrigues, de 63 anos, acompanhado da mulher Geralda Ferreira Lima e do neto Pedro, de 4, moradores do Bairro São Bernardo, na Região da Pampulha, em BH. Carregando o neto, Geralda fez questão de tocar a imagem e pedir muitas graças e paz para o mundo. Também residente em BH, a aposentada Mariana Costa Santos Cruz, do Bairro Santa Terezinha, na mesma região, disse que ontem era um dia muito especial e que, o mais importante é “entender, no dia a dia, as graças que Deus nos dá”.

 
Memória

 

A história do Santuário Nossa Senhora da Piedade começa no século 18, com o relato de um milagre: a Virgem Maria teria aparecido para duas jovens no alto da serra. A partir desse dia, o fato se espalha rapidamente. O episódio toca o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começa a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como o mestre do Barroco mineiro Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. No ano passado, foram celebrados os 250 anos de peregrinação.

(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/DA Press)
(foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/DA Press)
Consagração da padroeira


De acordo com a Arquidiocese de Belo Horizonte, a consagração de Minas Gerais a Nossa Senhora da Piedade ocorreu em 31 de julho de 1960, durante uma grande festa na Praça da Liberdade, após o Papa João XXIII, hoje santo da Igreja, reconhecer que Maria, com o título de Senhora da Piedade, é a padroeira do estado. Com o reconhecimento, o pontífice acolheu um pedido dos bispos mineiros, de modo especial do cardeal dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta. O religioso, conhecido como Cardeal Motta, foi arcebispo de São Paulo e Aparecida (SP), mas cresceu no alto da Serra da Piedade, acompanhando de perto as grandes peregrinações do povo mineiro ao local (foto). Tombada pelo estado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e pelo município de Caeté, a Serra da Piedade é ponto de partida e chegada do Caminho Religioso da Estrada Real (Crer), que liga o santuário da padroeira de Minas a Aparecida (SP), onde está a imagem da protetora do Brasil, Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

 


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